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Apagão de mão de obra

Que se passa? “Bolsa esmola” desequilibra o mercado? Superoferta de postos de trabalho? Salários não condizentes? Apagão de empregos apavora desde quem procura uma diarista até diretor de agroindústria

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Frigorífico em operação no Oeste do Paraná: milhares de vagas abertas; também na construção civil há falta de mão de obra (Fotos: Jonathan Campos/AEN e Tânia Rego/Agência Brasil)

Cena 1: professora cascavelense procura diarista e recebe o seguinte áudio de uma
potencial candidata: “R$ 200 de diária para 8 horas ou R$ 100 por quatro. Só faxino, não
lavo e não passo roupa, não lavo calçados, essas coisas não faço. Só limpeza e você reembolsa o Uber”.

Cena 2: 19 de julho, rádio CBN, industrial Rainer Zielasko, presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD), declara: “Nunca imaginei que um dia estaria aqui para resolver um problema de excesso de emprego”.

Zielasko organizou, na semana passada, em Toledo, o 1º Fórum Estratégico da Empregabilidade. Soluções para escassez de mão obra figuravam ao centro da pauta. O POD foi aos números e mapeou 12 mil postos de trabalho ofertados ao longo do presente ano e cujas ofertas resultaram vazias.

“Somente a C.Vale, em Palotina, está neste momento com 900 vagas abertas para contratação imediata. Isso já está afetando a produção com projetos futuros de novas plantas, máquinas e linhas paradas”, disse Zielasko.

Em Toledo não é diferente. O índice de desemprego é de 5%, praticamente pleno emprego, já que este índice contempla recursos humanos em transição de um lugar para outro ou gente que vive da soma de benefícios governamentais com “bicos” e não está procurando emprego formal.

Cascavel registra o apagão de diaristas, mas também na construção civil, notadamente na mão de obra mais especializada, aplicada nos processos de acabamento nas mais de três mil obras em execução simultânea na cidade.

“Arrastão” nos pontos de ônibus

Quando Zielasko se impressiona com a conjuntura está replicando cenas nunca vistas antes aqui, como equipes de Recursos Humanos (RH) da Copacol e da Lar fazendo “arrastão” nos pontos de ônibus e terminais de transbordo de Cascavel para recrutar gente.

A propósito, um dos fatores que leva agentes de mercado ao ceticismo com relação ao mega-empreendimento do empresário Francisco Simeão na construção de mais de seis mil apartamentos aqui é justamente o garrote apertado no RH.

Outro número levantado pelo POD: 17 mil famílias oestinas, capazes de ofertar 51 mil trabalhadores ao mercado, estão recebendo auxílio emergencial de R$ 600 por cada adulto.

O fenômeno é de desafiante explicação, mas os apaixonados por salvadores da pátria da política sempre encontram equações simples para problemas complexos.

Uns dirão assim: “Pois é, vocês chamavam isso de bolsa esmola, agora ampliaram os ganhos para vencer a eleição. Terão que pôr a mão no bolso e pagar salários mais dignos para atrair esse pessoal”.

Outros dirão: “Tem emprego porque a economia está indo bem. Essa gente não quer trabalhar mesmo, só quer viver de benefício…”.

Enfim, explicações tem para todos os gostos. Mas elas não farão o beneficiário do auxílio emergencial deixar a periferia de Cascavel em direção à Agência do Trabalhador.

E o cartaz no tapume da obra que outrora dizia “Não temos vagas, não insista” vai continuar dizendo: “Temos vaga para admissão imediata, pelo amor de Deus, venha trabalhar conosco”.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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