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Pitoco Capitalismo de resultados

Empreendedores querem aplicar conceitos do mundo corporativo em residencial de 6,4 mil apartamentos

Em 2026, 200 alunos que moram e estudam no Ecoparque e atingirem média oito no Ideb vão viajar com tudo pago para a Disneylândia

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Foto: Divulgação

Quem olhar para o projeto do Residencial Ecoparque vai logo dizer que é imenso: 6.480 apartamentos. Para efeito de comparação, até o empreendimento ficar pronto em 2025, o maior conjunto do gênero em Cascavel será o Residencial Palmeiras, com 496 unidades em 31 blocos de quatro andares.

É incomparável. O Ecoparque terá 54 prédios de 15 andares, com 120 apartamentos em cada torre. Isso que o projeto inicial, de 11,4 mil unidades, foi revisto, conforme explica nesta entrevista o empresário curitibano Francisco Simeão, o Chico.

Mas a metragem babilônica – para ficar em uma expressão bíblica – não é o maior desafio dos sócios Chico e Luiz Bonacin. Eles ambicionam algo que milhares de toneladas de concreto, ferro e tijolo não produzem: edificar no residencial uma comunidade próspera, em que cada família atinja ali o patamar zero um da riqueza.

Tá difícil entender essa lógica? Acompanhe a entrevista obtida com Chico em um hangar do aeroporto de Cascavel no último dia 18 de julho, minutos antes da dupla dinâmica voar no jatinho do grupo de volta para Curitiba, após breve visita ao 3º andar do paço municipal.

O conceito de vida do empreendedor e sua definição de riqueza pode parecer chocante para alguns, audacioso para outros, mas obrigatoriamente faz pensar. É o capitalismo de resultados do duo Chico/Bonacin. Acompanhe:

Pitoco: Muita gente duvidou que vocês levariam fábrica de prédios adiante. Em que estágio estão as obras?

A fábrica estará coberta em setembro. Até o final do ano apertamos o botão para contratação do pessoal. Os primeiros prédios de 15 andares e 240 apartamentos serão entregues no próximo ano. Entregaremos mais 2,5 mil apartamentos em 2024 e fabricaremos cinco mil unidades por ano a partir de 2025.

Pitoco: Apartamentos de elevado padrão a R$ 170 mil, taxa de condomínio abaixo de R$ 100, é realista isso?

Estamos trabalhando com energia alternativa, teremos energia solar, captação de água da chuva, temos grande economia de escala já que adquirimos área fora do perímetro urbano, tudo financiado pela Caixa. Veja, os moradores vão pagar 70% menos pela energia e água que irão consumir, já que dotaremos o empreendimento com poço artesiano, tratamento de água, saneamento básico.

Pitoco: É sempre uma dor de cabeça para o empreendedor quando precisa expandir o perímetro urbano da cidade. Em projetos grandes anteriores, como o Riviera, houve sérios problemas na Câmara Municipal. Está preparado para isso?

Estive com o prefeito (Leonaldo) Paranhos. Ele assegurou que leva em agosto o plano diretor expandido para o Legislativo. Já estamos protocolando nosso projeto.  Estima-se que a expansão do plano abra espaço para mais de 200 mil novos lotes, e nosso conjunto está inserido neste contexto.

Pitoco: E se vierem propostas digamos, pouco republicanas, como condição?

Conheço um pouco de política. Tenho 74 anos, aos 22 eu já estava engajado na campanha do José Richa em Londrina. Não há espaço para conversas que não possam ser integralmente postadas na internet. Não acredito que surjam obstáculos desta natureza. Sou contra generalizar e demonizar a política. Vereadores serão parceiros do projeto.

Pitoco: Como parceiros?

Se trata de um investimento privado nosso. Vou convidar os vereadores para indicar os compradores. Lógico, haverá critérios da Caixa para o cadastro e critérios nossos a serem seguidos. Precisamos fazer uma triagem para saber se o indicado está disposto a evoluir na vida, aumentar sua renda, aproveitar toda a condição que será oferecida na parceria do empreendimento com o município e o estado, como creche em tempo integral para liberar a mãe para capacitação e atuação qualificada no mercado de trabalho.

Pitoco: Vocês revisaram para baixo o número de unidades em Cascavel…

Implantaremos 6,4 mil apartamentos aqui. A ideia inicial era 11 mil. Não tínhamos adquirido toda a área necessária ainda, somente 45 alqueires da família Urio com opção de compra da área contígua. Mas a família pediu muito alto e somado a isso houve uma reação muito forte do Sinduscon pela concorrência nossa. Decidimos então reduzir o projeto para não atrapalhar a estrutura do mercado.

Pitoco: E atrapalharia?

Creio que não. Queremos o mercado imobiliário equilibrado, embora nosso empreendimento seja totalmente diferente do que há aqui. A fábrica de prédios de Cascavel não cria problemas para a indústria da construção local. Vamos produzir prédios para um raio de 300 km, atendendo Guarapuava, Toledo, Foz do Iguaçu, Xanxerê, Maringá e Umuarama, entre outras cidades, a partir da fábrica de Cascavel.

Chico Simeão diante do jatinho do grupo que o trouxe a Cascavel no último dia 18: passeio na Disney e 500 dólares para cada professor e aluno de nota 8 no Ideb (Foto: Divulgação)

Pitoco: Que história é essa de Disneylândia?

Teremos entregue todas as unidades de Cascavel até 2025. Em 2026 parte um avião do Brasil para a Disney com 200 alunos que moram e estudam no Ecoparque e 50 professores. É um prêmio para os melhores. Todos que atingirem média oito no Ideb vão viajar com tudo pago por nós, sete dias de estadia e um prêmio de 500 dólares para cada um.

Pitoco: Em qual contexto entra a educação no projeto?

O Ecoparque vai muito além de um projeto habitacional. Os convênios que estamos firmando com o Poder Público vão prever crianças na escola a partir dos seis meses de idade nas escolas que o próprio projeto irá construir. O objetivo é proteger jovens e crianças das más companhias, do aliciamento das drogas pelo menos até os 14 anos. É perseguir a nota 8 no Ideb incluindo disciplinas como tecnologia de informação, inglês, política e cidadania em uma educação integral.

Pitoco: Você fala em ascensão social e econômica desta comunidade, como isso se dará?

Pela qualificação profissional da esposa, do filho jovem, todos somando para crescer a renda familiar.   As famílias vão entrar no projeto ganhando pouco acima de R$ 2 mil de renda familiar. Nosso objetivo é que em 5 anos nenhuma família ganhe menos de R$ 5 mil. E a meta audaciosa é chegar R$ 8 mil de renda.

Pitoco: De onde vieram esses parâmetros?

Pegamos como base o salário pago a um trabalhador norte-americano da base da pirâmide. Esse funcionário ganha a partir de 1,6 mil dólares, equivalente a quase R$ 8 mil. Impossível? Não, o Brasil é um país rico pela própria natureza com um povo pobre. Temos que elevar o nível de renda das famílias para esse patamar que chamo de zero um da riqueza. Renda familiar de R$ 8 mil não é nenhum sonho impossível.

Pitoco: E como faz?

Temos que juntar todo mundo, prefeito, vereadores, sociedade de Cascavel para pagar mais.  Queremos ter uma faxineira treinada por nós que possa ganhar R$ 220 reais por dia com nota fiscal e empresa que vamos fazer para ela. Se a pessoa está mais qualificada e produtiva, a sociedade paga mais, a renda cresce e todo mundo ganha.

Pitoco: Tem exemplos práticos a apresentar neste sentido?

Bonacin e eu somos sócios há 45 anos, conheci ele antes mesmo de me casar com minha esposa. Fomos sócios o tempo todo. Montamos a BS Colway, lançamos o projeto “Bom Aluno”, qualificamos as pessoas, oferecemos oportunidades. Fizemos crescer academicamente, fizemos o desempenho das pessoas valer mais, três quatro vezes mais. Nossos colaboradores são muito produtivos, ganhamos junto com eles.

Pitoco: Por que razão essa cultura corporativa do “ganha-ganha” ainda não está disseminada no meio empresarial?

Ganhamos muito dinheiro quando aprendemos isso, quando todos ganham. Quando você paga pouco para seu funcionário, você também ganha menos. Digo sempre aos empresários: se nós não pensamos nas pessoas por bondade, que o façamos por interesse.  Se essas pessoas crescem e se tornam mais produtivas, elas multiplicam resultados e nós também estamos ganhando, mais que elas, inclusive.  Cria um ambiente favorável de desenvolvimento, e você se realiza.

Pitoco: Como você disse, vocês ganharam muito dinheiro. O que os move agora? O que os desafia para prosseguir?

Nós realmente não precisamos mais ganhar dinheiro. Isso já não nos empolga. Há muito tempos ganhamos mais do que precisamos. O que é ser rico?

Pitoco: Eu que lhe pergunto, o que é ser rico?

Respondo: Eu me sentia rico em Paranavaí quando tinha oito anos de idade. Em 1956, quando comecei vender refrescos e tinha uma equipe de engraxates que trabalhavam comigo, andava de calção, sem camisa, descalço, jogava bola com a gurizada, me sentia rico. Em casa tinha uma geladeira a querosene. Minha mãe fornecia copos para o refresco, açúcar não tinha custo. Nunca faltou comida, nunca faltou agasalho. Então me sentia rico. Você é rico quando tem mais do que precisa para viver, e faz muito tempo que nossa empresa chegou a esse patamar.

Pitoco: Em resumo: você poderia voltar a vestir uma bermuda, tirar a camisa e rodar o mundo em férias permanentes… Por que não faz?

É a mesma pergunta que a minha mulher faz (risos). Decidimos fazer um projeto revolucionário no Brasil, que irá consumir 12 anos. São 45 fábricas de prédios, algumas próprias, outras franquias.  Esse conglomerado todo vai construir um milhão de apartamentos. É algo muito grande, audacioso mesmo. É para mudar a cabeça das pessoas, compromissá-las no nível individual, familiar, mostrar para as pessoas mais humildes que elas podem mudar de vida. Não tiramos isso do nada, já vimos acontecer nas seis indústrias que montamos.

Pitoco: Como foi a experiência, o que vocês viram acontecer?

Muitos produziam pouco quando chegavam em nossas indústrias. Eram improdutivos, ganham pouco, digamos R$ 1,3 mil de salário mas valiam R$ 600 por que não produziam. Passaram a ganhar o dobro ou o triplo disso e passaram a valer 50% a mais. No final das contas pagávamos menos do que elas valiam, mas fazíamos elas valer mais. Queremos fazer isso no Brasil.

Pitoco: E qual é a palavrinha mágica para tirar as pessoas da inércia e do conformismo com a pobreza?

Quando produzimos um apartamento de elevado padrão para família de baixa renda, e no mesmo condomínio pomos 25% unidades com suíte e três quartos para classe média alta, fazendo essa mescla, valorizamos todos. A família de baixa renda vai ter um apartamento em um prédio igualzinho daquele da classe média, vai se sentir dignificado e entender o significado de crescer na vida.

Pitoco: É o suficiente?

Quando abre-se uma vaga, uma oportunidade, e ela não é preenchida, há uma razão para isso. Mas quando a pessoa está diante da possibilidade de obter a morada de seus sonhos ela vai aceitar o “preço” para chegar até ali: o preço para ser selecionada é qualificar-se, qualificar filho, esposa, e atuar de forma proativa para melhorar de renda. Vamos pegar a pessoa pela mão, andar 200 metros com ela, e dar todos os instrumentos e ferramentais para que ele possa crescer.

Pitoco: Não vemos esse verniz social desenvolvimentista em significativos segmentos da chamada “elite econômica”. Percebe isso?

É burrice deles. Eu e o Bonacin sempre ganhamos muito dinheiro, e cada vez ganhamos mais, na medida que trabalhamos deste jeito. Alguém pode até dizer que não ajudamos por bondade, mas sim por interesse. Tudo bem, importa é criar um calor nas coisas que você faz, um entusiasmo. Quando você pensa nas pessoas, as pessoas pensam em você.

Pitoco: Como é sua relação com o dinheiro?

Obter dinheiro é a primeira obrigação do empresário. Não podemos deixar de ter lucro. Se não tiver lucro não paga o funcionário, o boleto, dá cano na praça. Primeira coisa: tem que ter lucro. Mas logo depois do lucro tem que ter compromisso com a sociedade. É para aquecer tua alma. Se não tiver isso de aquecer a alma, o dinheiro já não me interessa. Então vou passear com minha mulher o mundo inteiro, que é o desejo dela. Está inconformada com esse projeto que vai consumir 12 anos.

Imagem ilustrativa do projeto que vai espetar 54 prédios e 6,4 mil apartamentos em Cascavel: audácia parcialmente revisada (Foto: Divulgação)

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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