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Pitoco Quente na ponta, gelada na borda

Milhões rumam às urnas domingo em uma eleição atípica; disputa ao Senado pode trazer emoção ao pleito no Paraná

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Candidato a deputado estadual aborda eleitor no Calçadão da Avenida Brasil, em Cascavel, no chuvoso fim de tarde da última segunda-feira (26) e, de mão estendida, oferta um “santinho”.

– É para vereador?, pergunta o cidadão.

A cena desenha a face gelada da campanha eleitoral deste ano. Estudos indicam que sete em cada dez eleitores escolhem seus congressistas na última semana do pleito, sendo que 30% o fazem 48 horas antes de visitar as urnas e muitos deles na fila de votação.

Eleições legislativas sempre foram marcadas por baixa adesão voluntária e procrastinação, mas essas parecem ter superado as anteriores. Como as cadeiras do Congresso Nacional não ficarão vazias, a apatia fortalece a “bancada do Centrão”, formada de picaretas de todas as matizes.

Senado

Se há algum foco de calor nas eleições majoritárias no Paraná, ele está na disputa ao Senado. O veteraníssimo Alvaro Dias, de carreira política elizabetiana (no sentido longevo da rainha), já enfrentou paradas mais amenas.

Experiente, articulado, Alvaro sempre costurou a vitória com amarrações políticas de cúpula, antes mesmo do processo eleitoral começar, reduzindo a concorrência. E sempre foi bom de voto, exceção para a disputa presidencial atípica de 2018, em que cravou 0,8% dos sufrágios.

Agora não deu para neutralizar adversários: um surgiu do próprio ninho que ele organizou – Sergio Moro – e o outro veio na onda bolsonarista – Paulo Martins. Os demais não parecem ameaçar os favoritos.

Embora o senador permaneça favorito na disputa, a possibilidade de Moro ameaçar o 9º mandato eletivo de Alvaro é real, tornando a “peleia” pela cadeira ao Senado a única ponta quente da campanha no Paraná.

Alvaro e Moro estiveram em Cascavel no último fim de semana, disputando voto a voto, no corpo a corpo, de santinho na mão, algo pouco comum em disputas ao Senado, que costuma ser mais televisiva. Isso dá a noção de como a disputa está embolada.

De última hora, o decano pode receber um apoio inesperado. Como a coligação no entorno de Lula no Paraná tem remotas possibilidades na disputa ao Senado, o eleitorado lulista pode fazer o voto útil contra Moro e Martins.

E isso ficou insinuado na visita que Gleisi Hoffmann, a toda poderosa presidente nacional do PT, fez a Cascavel na última sexta-feira (23). De outro lado, degladiando com Martins pela direita, Moro fez um apelo ao voto útil dos bolsonaristas na TV, dizendo que o senador 22 não tem chances e ligando Alvaro ao PT.

Corpo a corpo no Brasa Festival, em Cascavel, no último fim de semana. Prefeito Leonaldo Paranhos com Alvaro Dias e seus elizabetianos 77 anos: um “nono” animado buscando o nono mandato! (Foto: Jairo Eduardo)

Governador

A eleição para governador parece se dar na distante e gelada Sibéria, dentro de um iglu construído por povos originários daquela região. A disputa ao Iguaçu em nenhum momento empolgou a ponto de frequentar as prosas de buteco e rodinhas familiares.

Ratinho Junior, franco favorito, escapou dos debates, inclusive no derradeiro, da RPC, na última terça-feira (27).  A cadeira dele surgiu vazia no estúdio, onde apanhou muito de Requião e outros nanicos.

A “malhação de Judas” da RPC dificilmente vai mudar o rumo da disputa ao Iguaçu. 

Presidente

A eleição presidencial é quente em Cascavel e deve replicar um fenômeno de “luta de classes” observado Brasil afora: as maiores votações de Bolsonaro serão no centro, bairros de classe média e zona rural. Os principais redutos lulistas estão na populosa periferia.

Então será possível observar vitórias avassaladoras do 22 na região das mansões suspensas da Minas (Colégio Marista, por exemplo) e votações expressivas do 13 nas franjas da região Norte, que abrigam famílias de baixa renda.

São os retratos de uma eleição que ferve na presidência, esquenta no Senado do Paraná e congela em um oceano de indiferença no pleito tão importante quanto, aquela que irá compor as 30 cadeiras paranaenses no Congresso Nacional.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista, editor do Pitoco e assina essa coluna semanalmente no Jornal O Presente

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