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Tarcísio Vanderlinde

Centelha de El Elyon

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Pachacuti, possivelmente o líder mais conhecido da civilização inca, determinou a construção de diversas fortalezas com o intuito de proteger as fronteiras orientais contra a invasão de tribos da bacia amazônica.

Uma dessas fortalezas, a icônica Machu Picchu, tornou-se durante algum tempo o último refúgio da nobreza inca em fuga dos conquistadores espanhóis. A fortaleza construída no alto de uma montanha a tornava praticamente invisível de outras elevações mais baixas.

Durante alguns séculos, a existência de Machu Picchu permaneceu oculta do mundo exterior e foi tomada pela floresta. Alguns exploradores ocidentais, como é o caso do missionário Thomas Paine, passaram a perceber vestígios dessa cidade a partir do início do século XX.

Contudo, a glória da descoberta, oficializada em 1911, coube ao explorador norte-americano Hiram Bingham, que teria sido instruído por Thomas Paine a respeito da localização da cidade. Thomas Paine acabou ficando como um ilustre desconhecido na história.

A partir de 1948, visitantes de todo o mundo passaram a ter acesso às ruínas de Machu Picchu, onde podem admirar as obras que ainda permanecem e constatar a ousadia de Pachacuti em mandar construir a cidade fortaleza naquele lugar.

Em 1983, a Unesco declarou o sítio arqueológico de Machu Picchu como Patrimônio Cultural da Humanidade. Porém, não foram os aspectos arquitetônicos da cidade construída por Pachacuti que mais chamaram atenção do antropólogo e missionário Don Richardson. Ele viu no rei inca outras particularidades.

Quase todos que possuem algum conhecimento sobre os incas sabem que eles adoravam Inti, o sol. Todavia, algumas descobertas posteriores deram indícios de que havia uma concepção de divindade superior a Inti.

Em 1575 um sacerdote espanhol chamado Cristóbal de Molina colecionou em Cusco vários hinos incas, além de outras tradições culturais relacionadas a eles. A pesquisa indicou que a divindade Inti nem sempre se mostrou indiscutível entre eles.

Molina escreveu os hinos e suas tradições em quéchua, com ortografia adaptada do espanhol. A coleção das tradições e hinos realizada por Molina, curiosamente reporta-se ao reinado de Pachacuti.

O trabalho de Molina passou mais tarde pelo crivo de especialistas que concluíram de que os hinos por ele coletados não sofreram qualquer influência de ensinos missionários. Eram de período anterior à presença dos espanhóis na região. As formas e expressões utilizadas na coletânea são diversas daquelas encontradas na liturgia cristã mesmo que adaptadas para a linguagem inca.

A centelha de El Elyon, o Altíssimo, já se encontrava entre os incas antes de eles conhecerem o primeiro missionário.

 

O autor é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

 

 

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