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Tarcísio Vanderlinde

De volta às cavernas de Qumran

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De acordo com o professor Willian Foxwell Albrigth (1891-1970), considerado o pai da arqueologia bíblica, os manuscritos encontrados nas cavernas de Qumran constituem o maior achado arqueológico dos tempos modernos.

As descobertas aconteceram em 11 cavernas entre os anos de 1947 e 1956. Foram achados pelo menos 941 rolos de pergaminhos. Com base em exames paleográficos e de radiocarbono, os manuscritos foram datados de 250 a. C., a 68 d. C., quando o local foi destruído pelo exército romano.

A “biblioteca de Qumran” é dividida em duas categorias de escritos: rolos bíblicos e não-bíblicos. Os não-bíblicos são classificados em apócrifos, sectários e pseudoepigráficos. Pseudoepigráficos são textos nos quais, para ver a obra aceita, o autor usa como pseudônimo o nome de algum personagem bíblico. São textos “falsificados”, porém relevantes para estudos.

Os manuscritos confirmam a ancestral Bíblia hebraica utilizada pelos rabinos. Antes das descobertas, a mais antiga Bíblia hebraica completa era o Códice de Leningrado (1008 d. C.), no qual se baseia a maior parte das edições posteriores. O Códice de Alepo e o Manuscrito de Geniza do Cairo são mais antigos, mas encontram-se fragmentados.

Os três livros mais comumente achados em Qumran foram os Salmos, Deuteronômio e Isaías. Os livros continuam sendo frequentemente citados no Novo Testamento, o que revela a perspectiva messiânica dos mesmos.

Nenhum dos rolos de Qumran foi escrito para ou por cristãos, mas são importantes para a compreensão do contexto histórico das origens do cristianismo.

Alguns rolos contribuem para entendimentos sobre seitas judaicas, a saber, os fariseus, os saduceus e os essênios. Fariseus e saduceus aparecem nos livros do Novo Testamento e tiveram confrontos teológicos com Jesus. Já os essênios são mais conhecidos pelos escritos do historiador Flávio Josefo.

Documentos sectários como a “Regra da Comunidade” e o “Documento de Damasco” revelam as doutrinas exclusivas dos essênios. É o caso, por exemplo, da expectativa por dois Messias distintos e seu estilo de vida rigorosamente ascético. O texto denominado “Algumas obras da lei” é um manifesto que detalha como a interpretação essênia do Pentateuco diferia das interpretações dos fariseus.

Os escritos encontrados aparecem em três idiomas: hebraico, aramaico e grego, e são os únicos manuscritos remanescentes da época do Segundo Templo. Não é totalmente improvável que Jesus, ou seus discípulos, não tenham consultado alguns destes manuscritos no templo de Jerusalém antes de serem escondidos em Qumran.

(Elaborado com a contribuição de Peter Flint (1951-2016). Flint foi professor especialista em tradução dos Manuscritos de Qumran).

Região das cavernas de Qumran no deserto da Judeia (foto do autor)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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