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Tarcísio Vanderlinde

Essencialidades do existir

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“Não olhe para cima”, filme disponibilizado pela plataforma Netflix, foi possivelmente o longa-metragem mais assistido e comentado ao final do ano passado e início deste.
As críticas se dividem sobre a sátira lançada em dezembro de 2021. Alguns lamentam que Leonardo DiCaprio tenha se envolvido em tamanha baixaria. Outros consideram tratar-se de um filme necessário, uma metáfora a servir como uma luva para sociedade volúvel na qual estamos metidos.
Num tema desgastado, a Terra encontra-se ameaçada por um cometa gigante. Refém de algoritmos, banalidades e manipulações midiáticas, a sociedade se divide entre realistas que não abrem mão de “olhar para cima”, e alienados, estimulados a olhar só “para frente”. Aqueles que influenciam a olhar só para frente sabem onde querem chegar.
No ambiente distópico da película, o saber deixou de ser valorizado, e é achincalhado. A pauta é preenchida por entretenimentos rasos e imbecilizados. Enquanto o cometa se aproxima, políticos se divertem com magnatas imaginando como poderiam lucrar com a situação.
Coincidindo com o lançamento da película, fomos visitados no período das festas pelo pacífico cometa Leonard. Não foi fácil visualizá-lo sem equipamento especial. Alguns sortudos fizeram imagens magníficas do astro. Descoberto no início de 2021, o cometa leva o nome do seu descobridor e passou a uma distância segura da Terra.
Influenciados por youtubers ávidos por likes, terraplanistas e amantes de teorias da conspiração desconfiaram que a aparição do Leonard foi mais um dos truques da Nasa. Alguma coisa “importante” estava sendo escondida.
Astrofísicos, no entanto, nos ensinaram que o Leonard passou por aqui pela primeira vez em 80 mil anos. E por ter uma órbita hiperbólica, dificilmente retornará aos olhos humanos algum dia. Sairá do sistema solar e viajará pelo espaço entre outros mundos. Equipado ou não, foi difícil “caçar” o Leonard sem olhar ao menos um pouco para cima.
Num tempo já distante, de menos atropelamentos, o sábio do Eclesiastes já havia percebido que o Eterno havia feito tudo apropriado a seu tempo. E que também havia posto no coração do homem o anseio pela eternidade. Mesmo assim este não conseguia compreender inteiramente o que o Altíssimo havia planejado.
Envolvidos em entretenimentos, focados no aqui e agora, acabamos perdendo a sensibilidade de perceber as essencialidades do nosso existir. Para além das banalidades que poluem as redes sociais, o cometa amistoso proporcionou a oportunidade de nos levar a um encontro providencial com aquele que deu o start primordial nestes eventos que às vezes tanto nos fascinam.

O autor é professor sênior da Unioeste
tarcisiovanderlinde@gmail.com

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