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Tarcísio Vanderlinde

Mais do que um mirante

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Talvez não exista melhor mirante para contemplar a cidade histórica de Jerusalém do que observá-la do Monte das Oliveiras. Porém, no tempo presente, o que menos tem ali são oliveiras, uma vez que a maior parte do monte é tomado por um cemitério judaico considerado o mais antigo do mundo ainda em uso.

Acredita-se que as poucas oliveiras antigas ali preservadas são aquelas do jardim do Getsêmani, possivelmente remanescentes das árvores que cobriam o monte no passado. Por ocasião do cerco de Jerusalém pelas tropas romanas no ano 70 de nossa era, o monte passou por uma devastação provocada pelo Exército no intuito de repor no menor tempo possível novas plataformas de assalto contra a cidade. O historiador Flávio Josefo testemunhou a destruição e deixou anotado que jamais aquela terra havia ficado tão desfigurada:

“Onde outrora havia bosques e árvores frondosas, jardins deliciosos, não havia agora uma única árvore, e não somente os judeus, mas os estrangeiros, que admiravam aquela formosa parte da Judeia, agora não seriam capazes de reconhecer, nem ver os maravilhosos arrabaldes daquela grande cidade, convertidos em terrenos abandonados e silvestres”.

O Monte das Oliveiras constitui um lugar geográfico, que, segundo o profeta Zacarias – cujo túmulo alegórico fica no sopé –, testemunhará evento cataclísmico previsto para o final dos tempos, porém sem data definida: “Naquele dia, os seus pés estarão sobre o Monte das Oliveiras, a Leste de Jerusalém, e o monte se dividirá ao meio, de Leste para Oeste, por um grande vale”.

O monte é ainda mencionado no Antigo Testamento m 2Samuel ao retratar a fuga do rei Davi diante das ameaças golpistas de seu filho Absalão. Entretanto, há uma passagem que registra que o “monte que fica a Leste de Jerusalém”, no qual Salomão erigiu santuários a deuses pagãos, é provavelmente o mesmo local geográfico. As citações aparecem em 1Reis e 2Reis.

As referências nos dois livros indicam associação entre o Monte das Oliveiras a crises e julgamentos. A tendência parece continuar no Novo Testamento. O Monte das Oliveiras aparece proeminente no ministério de Jesus.

Ao descer o Monte das Oliveiras, por ocasião de sua entrada triunfal em Jerusalém, e ao se aproximar da cidade, Jesus lamentou sua destruição iminente. A maldição da figueira, símbolo do julgamento de Israel, parece ter acontecido ali, assim como o sermão profético de Jesus registrado por Mateus e Marcos. Foi ali também, no Getsêmani, o local da agonia de Jesus e de sua traição fatal.

Jerusalém vista do “mirante” Monte das Oliveiras (Foto: Acervo particular)

Por Tarcísio Vanderlinde. Ele é professor sênior da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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