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Tarcísio Vanderlinde

O peso da oliveira

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No antigo Israel as árvores nativas de carvalho, pinheiro e terebinto, além do cedro importado do Líbano, eram recursos naturais preciosos utilizados na construção, produção de comida, proteção ambiental, produção de óleos, perfumes, especiarias, cordas e outros subprodutos.

Salomão negociou com o Hirão, rei de Tiro (hoje Líbano), grandes carregamentos de cedro por ocasião da construção do primeiro templo em Jerusalém. As toras vinham em jangadas pelo mar até o porto de Jope (hoje bairro de Tel Aviv) e dali eram transportadas por terra a Jerusalém.

O profeta Ezequiel deixou um curioso “retrato falado” dessa árvore: “Erguia-se mais alto que todas as árvores do campo; brotaram muitos ramos e seus galhos cresceram, espalhando-se, graças à fartura de água. Todas as aves do céu aninhavam em seus ramos. […] Era de uma beleza majestosa com seus ramos que tanto se espalhavam, pois suas raízes desciam até as muitas águas”.

O cedro podia atingir 35 metros e viver até 500 anos. Além do valor comercial, algumas variedades eram estimadas por seu simbolismo, especialmente por causa do tamanho e da imponência, que transmitiam um senso de indestrutibilidade, como era visto principalmente nas espécies de carvalho e do cedro.

O carvalho e o terebinto eram associados, às vezes, à presença divina e marcavam importantes locais de adoração, especialmente à época dos patriarcas. Abraão habitou nos carvalhais em Hebrom e edificou ali um altar ao Senhor. Dois carvalhos antigos continuam sendo reverenciados no local como os “carvalhos de Manre”.

No tempo presente, árvores históricas da Terra Santa se misturam com árvores imigrantes tardias de eucaliptos, fícus e flamboyants. Ao nosso ver, porém, é a oliveira, aquela que traz o apelo espiritual mais contundente, talvez pelo fato de ter sido num bosque dessas árvores – o Getsêmani –, que Jesus passou a sua mais dolorosa vigília.
Desconsiderando controvérsias sobre a exata localização dos lugares santos, um local ao sopé do monte das Oliveiras apresenta bons indícios para se considerar que tenha sido o local mais provável da agonia de Jesus.

Contudo, parece haver um argumento ainda mais significativo que aparece na carta de Paulo aos romanos, ao expressar o peso simbólico da oliveira. Na alegoria de Paulo, Jesus é visto como “oliveira verdadeira”, e nós, os gentios, como “oliveira brava”.

Na metáfora, Paulo explica um inédito caso de enxertia, no qual alguns ramos originais foram cortados dando lugar a ramos de oliveira brava que agora participam da seiva que vem da raiz da oliveira, a verdadeira.

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