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Urbano Mertz

A falta de fertilizantes no Brasil

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Embora as autoridades neguem que possa haver falta de fertilizantes para a próxima safra de verão, há que se ficar em alerta, pois a situação da escassez de adubos já vinha de antes do conflito Rússia x Ucrânia.

Conforme dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), em 2018 o Brasil importou 77% dos fertilizantes utilizados na agricultura e em 2021 a importação aumentou para 85%. Ano passado, o consumo de adubos ficou em torno de 42 milhões de toneladas, um aumento de 20% sobre o ano anterior. No entanto, o incremento da importação deveu-se também à menor produção nacional de fertilizantes, principalmente do grupo N-P-K (nitrogênio, fósforo, potássio), que, entre os anos de 2018 e 2020, sofreu uma redução de 22%.

Embora o Brasil disponha de reservas de minérios para extração de fósforo, estimadas em 300 milhões de toneladas, e de potássio, estimadas em um bilhão de toneladas, não houve, nas últimas décadas, uma política governamental capaz de tornar o país autossuficiente em fertilizantes. Quanto aos adubos nitrogenados, que são produzidos a partir do gás natural, em 2014 a Petrobras anunciou um plano para suprir em cerca de 60% a demanda nacional. No entanto, a partir de 2016, a empresa optou por focar em setores mais lucrativos e o plano foi abandonado, tendo interrompido a produção nas suas três fábricas e paralisado a construção de uma quarta unidade no Mato Grosso do Sul.

O conflito Rússia x Ucrânia agudizou o problema, tendo em vista que 22% de todo fertilizante adquirido pelo Brasil vem da Rússia e de Belarus. Em 2021, o Brasil importou cerca de 95% do potássio consumido, sendo que a metade deste total (aproximadamente 5,5 milhões de toneladas) foi fornecido pela Rússia e Belarus, que agora estão sob sanções econômicas.

Conforme o governo, existem estoques suficientes para a próxima safra. No entanto, as autoridades têm feito uma intensa “diplomacia do fertilizante”, buscando aumentar a compra de países árabes e do Canadá. Também foi emitida uma carta, junto com ministros da Agricultura de cinco países da América do Sul, com objetivo de sensibilizar a Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as consequências que a imposição de sanções sobre comércio de fertilizantes causam na sociedade.

O Ministério da Agricultura também lançou um plano de longo prazo, prevendo mais de R$ 100 bilhões de investimentos para suprir 45% da demanda de N-P-K até o ano de 2050.

No Oeste do Paraná, eventuais reduções dos níveis de adubação não afetarão significativamente a produtividade em uma ou duas safras, tendo em vista que nossos solos, em geral, ainda têm uma boa reserva de nutrientes. Por outro lado, o esterco de suínos, que é fonte importante de N-P-K, é uma alternativa que pode ser administrada de forma complementar à adubação química. Outra alternativa são os remineralizadores de solo, ou seja, os pós de rocha, que também podem ser usados de forma complementar como fertilizante.

Em todo caso, uma grande parte dos fertilizantes até hoje utilizados em nossos solos ainda está lá, preso à argila ou em camadas mais profundas, necessitando, porém, de novas alternativas de manejo, tais como a adubação verde, para que sejam reciclados e utilizados pelas plantas.

 

Urbano Mertz é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário de Marechal Cândido Rondon e inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)

urbanomertz2019@gmail.com

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