Urbano Mertz
Oeste do Paraná: ufanismo e realidade
O Oeste do Paraná está em pleno crescimento econômico. Os balanços finais de 2021 das seis cooperativas agropecuárias singulares sediadas na região registraram faturamento de quase R$ 38 bilhões, um aumento de quase 40% sobre o ano de 2020. As sobras cresceram 17%, chegando a R$ 1,76 bilhão.
Com toda esta produção e exportação de carnes e de grãos, favorecidos por um dólar valorizado e um mercado internacional que demanda cada vez mais alimentos, houve grande entrada de dinheiro no setor produtivo e também tributos para o caixa dos governos.
Todo este fluxo de recursos nos municípios e ao longo das cadeias produtivas, com novos investimentos na produção primária, em agroindústrias e em grandes projetos habitacionais, tem gerado um grande ufanismo nas lideranças regionais.
Observamos, porém, que esta riqueza não tem se convertido em significativas melhorias na infraestrutura e na qualidade de vida da população. Por exemplo, a rodovia estadual que começa em Maripá e termina em São Miguel do Iguaçu, por onde é transportada grande parte desta riqueza, é uma via de alto risco, com acostamento precário, curvas da morte, centenas de lombadas e sem terceiras pistas para ultrapassagem. Investimentos feitos resumem-se a tapa-buracos e em eventuais recapeamentos de curta durabilidade.
O ufanismo que acomete as lideranças também ignora questões muito mais básicas, tais como a saúde pública. Os municípios têm sido obrigados a transportar pessoas até Curitiba para fazer exames e diversos procedimentos cirúrgicos que não são realizados na região Oeste por falta de hospitais e de profissionais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As pessoas não asseguradas em planos de saúde privados não têm à disposição uma estrutura hospitalar pública que realize todos os tipos de procedimentos na região Oeste, o que aliviaria o custo dos municípios e não submeteria os doentes a longas viagens.
O Programa Oeste em Desenvolvimento tem levantado a discussão sobre a instalação das novas praças de pedágio e sobre as regras propostas para precificar e reajustar o valor dos pedágios nas novas concessões. Para sensibilizar o governo federal quanto à adoção de um modelo de pedágio menos oneroso e sem as novas praças, prefeitos da região fizeram apelos emocionados e também aprovaram a entrega de uma comenda elogiosa ao presidente, o que certamente são atitudes que não condizem com a força econômica da região.
Parece faltar brio às lideranças regionais na questão dos pedágios e coragem para mobilizar organizações representativas do comércio, da indústria e da produção. Ao fim será necessário lutar com armas mais eficientes, e que chamem a atenção da mídia nacional. Mobilizações podem até causar transtornos econômicos, mas também podem impedir que transtornos em grau muito maior sejam legalmente instituídos por mais algumas décadas.
O Oeste do Paraná, por mais rico que seja, não tem expressão política nacional e pouca visibilidade na grande mídia. Talvez porque a nossa representação política também não seja muito expressiva. Quando deputados focam sua atuação na liberação de verbas para os municípios parece que se desobrigam com a luta política pela defesa dos interesses maiores da região.
Urbano Mertz é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário de Marechal Cândido Rondon e inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)
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