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Urbano Mertz

Questões sobre a sustentabilidade do desenvolvimento regional

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O conceito-chave de desenvolvimento sustentável, tal como foi definido no Relatório Nosso Futuro Comum, tem como base o cuidado que devemos ter com o uso dos recursos da natureza, que são essenciais a todas as formas de vida e utilizados na produção de mercadorias e na infraestrutura para o bem-estar da sociedade.

O Relatório alertou que precisamos usar os recursos com cuidado, pois muitos deles são insubstituíveis. Isto é, se a sociedade esgotar as suas reservas ou poluí-las de forma permanente, a vida humana poderá ficar impossível daqui algumas décadas.

A maior preocupação dos cientistas é o aquecimento global, causado pelo constante aumento da emissão dos gases de efeito estufa e que já impacta a produção de alimentos, o regime de chuvas, o nível dos oceanos, entre outros.

O aumento do efeito estufa é consequência da queima de combustíveis fósseis, das queimadas florestais, da geração de gases na produção agropecuária, entre outros fatores. Um dos vilões do aquecimento global é o gás metano, que, quando liberado na atmosfera, tem potencial de efeito estufa 28 vezes maior que o gás carbônico.

O Jornal O Presente Rural, edição 215, trouxe a cobertura do Fórum Metano na Pecuária, realizado em São Paulo no último mês de maio. Neste Fórum foi apresentado o papel da pecuária na emissão de gás metano, que, junto com as queimadas e o uso inadequado do solo, representam cerca de 80% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

Para a pecuária de corte, o Fórum apresentou alternativas de melhoramento genético e uso de aditivos para reduzir o metano entérico produzido na ruminação (arrotos), a integração lavoura-pecuária e a recuperação de áreas com pastagens degradadas. Além de reduzir as emissões, estas alternativas podem contribuir para a fixação do carbono no solo e nas plantas.

No Oeste do Paraná, onde a bovinocultura de leite e a suinocultura são atividades que emitem grande quantidade de gás metano das esterqueiras, ainda temos um longo caminho a percorrer até atingirmos uma produção ambientalmente sustentável. 

O Condomínio de Biogás da Linha Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon, tinha 80% dos biodigestores abastecidos com dejetos de bovinos de leite. A crise na bovinocultura de leite, as dificuldades no manejo dos biodigestores e o baixo retorno econômico do biogás paralisaram o empreendimento. Em todo caso, este projeto serviu de referência tecnológica para outros projetos implantados na região.

A Minicentral Termelétrica de Biogás de Entre Rios do Oeste integra 17 produtores com biodigestores, abastecidos com dejetos de mais de 40 mil suínos. Esta central tem capacidade de produzir mais de três mil Megawatt por ano, utilizando o biometano como combustível em motores acoplados a geradores de eletricidade e que liberam o gás carbônico de menor impacto.

Alguns outros projetos integrados de produção de biogás com dejetos da suinocultura já operam na região. No entanto, a maioria está focada na produção e compensação de energia elétrica e não se beneficia da política de redução de emissões.

As organizações que integram os municípios do Oeste, as entidades de classe ou aquelas voltadas ao desenvolvimento regional deveriam propor metas para os “planos setoriais de mitigação de emissões e de adaptação às mudanças climáticas”, previstas na lei nº 11.075, sancionada em 19 de maio último, que regulamenta o “Mercado Brasileiro de Redução de Emissões”.

Um plano neste setor evitará que “empreendedores” utilizem o nome de suinocultores para implantar projetos focados unicamente na captação de recursos do mercado de carbono, que são oriundos de empresas incapazes de cumprir as próprias metas de redução de emissões.

O aproveitamento do metano gerado pelos dejetos de 4,5 milhões de suínos existentes na região também pode ser financiado com recursos do mercado de carbono. Além de contribuir no combate ao aquecimento global, pode gerar energia elétrica, reduzir a poluição do solo e da água, produzir fertilizantes de boa qualidade e melhorar a sanidade e o bem-estar no meio rural.  

Desta forma estaremos contribuindo na preservação de recursos naturais essenciais à vida e promovendo um desenvolvimento que seja sustentável!

Urbano Mertz é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário de Marechal Cândido Rondon e inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)

urbanomertz2019@gmail.com

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