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Urbano Mertz

Semana do Meio Ambiente

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Estamos na Semana do Meio Ambiente, que parece ser somente o que sobrou do restante do ano para nos fazer lembrar da importância da preservação ambiental.

Ultimamente, defensores do meio ambiente estão até meio acuados, acusados de estarem a serviço de interesses “globalistas” e da concorrência capitalista internacional. Na verdade, as mudanças climáticas e a degradação ambiental são assuntos eminentemente científicos, com envolvimento de milhares de cientistas dos mais conceituados centros de pesquisa do mundo.

Tomemos por exemplo a questão do aquecimento global provocado pelos gases de efeito estufa, tais como o CO2 (gás carbônico), e a relação deste fenômeno com ações humanas. De vez em quando nos deparamos nas redes sociais com depoimentos que negam esta relação, atribuindo o aquecimento a ciclos naturais do planeta Terra. No entanto, este fenômeno é objeto de milhares de pesquisas, sendo aceito como um Consenso Científico, isto é, cerca de 95% das pesquisas publicadas nas melhores revistas cientificas do mundo confirmam a tese de que o aquecimento global é consequência das ações humanas.

Infelizmente, o tema do desenvolvimento sustentável parece ter sido relegado a um segundo plano pelas políticas públicas e, aos poucos, também abandonado pelas empresas.

Entre as ações ambientais que ainda têm alguma visibilidade no Brasil estão os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), compromissos apresentados pelo país na 21ª Conferência das Partes do Clima da ONU – COP 21 (Acordo de Paris) – em 2015.

Ressalte-se que é no setor agropecuário que ações práticas previstas pelos ODS têm maior relevância. As metas festejadas pelo Brasil na COP 26, em 2021, apontam que as seis principais ações do Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) 2010/2020 teriam sequestrado (fixado) 170 milhões de toneladas de Carbono Equivalente (CO2eq) em 500 mil quilômetros quadrados com agricultura, pecuária e reflorestamento, o que deixaria o país bem no cumprimento das metas. Embora a dificuldade de monitoramento coloque estes dados sob atenção, eles aliviam o risco de boicote à exportação de produtos agrícolas brasileiros.

O Plano ABC 2020/2030, lançado pelo Ministério da Agricultura em 2021, tem como meta sequestrar mais de um bilhão de toneladas de CO2eq até 2030. Para monitorar estas metas foi reinstalada a Comissão Executiva do Plano ABC e seus membros designados em março último. Não há informações de que tenham se reunido para avaliar o andamento do Plano.

Por outro lado, o agronegócio mantém o discurso de que ele é o que mais contribui para a preservação ambiental, ignorando o avanço do desmatamento, o aumento no uso de agrotóxicos, a enorme geração de gás metano em esterqueiras e confinamentos de animais e a exploração insustentável do solo e dos recursos hídricos. 

É muito nobre a justificativa do agronegócio de que contribui com 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e que tem um importante papel na redução da fome no mundo. Mas isto não o isenta de assumir compromissos com sistemas de produção sustentáveis e que não degradem os recursos naturais.

Nesta semana do meio ambiente deveríamos todos refletir sobre o que devemos fazer para que os nossos descendentes também tenham solo fértil para produzir, água potável para consumir e um ambiente equilibrado para ter uma boa qualidade de vida.

 

 

Urbano Mertz é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário de Marechal Cândido Rondon e inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)

urbanomertz2019@gmail.com

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