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Urbano Mertz

Sobre nomes e homenagens

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Muito providencial a lei aprovada na Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon disciplinando a questão das denominações de ruas e logradouros públicos. Quando se vive em um lugar, os nomes nos identificam com o lugar e nos fazem também pertencer um pouco àquela personalidade homenageada.

Marechal Cândido Rondon nos identifica com um militar sertanista que dedicou a vida ao contato pacífico com povos indígenas isolados. Conta a história que teria coordenado um projeto de ligações telegráficas no Oeste do Paraná. É fato que em 1924 foi nomeado para combater os tenentes revoltosos liderados por Luiz Carlos Prestes, mas estes lhe escaparam pelo Rio Paraná e depois formaram a Coluna Prestes.

Já houve quem gostaria de ter abreviado o nome do município, pois este seria longo demais para o dia a dia da burocracia. Talvez nossas lideranças pudessem ter mantido o nome General Rondon, como era conhecido quando ainda distrito de Toledo. Com a emancipação, o general foi promovido a marechal e acresceu o primeiro nome. Mas melhor assim do que Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon!

Também temos logradouros nomeados com nome de personalidades ainda vivas, em confronto com a lei federal 6454/1977. No município, o agraciado que nomeia o Parque de Exposições ainda é muito ativo na política. Com a lei aprovada, espera-se que esta proibição seja reforçada.

Mas o município tem outras particularidades, que são os nomes de ruas nomeadas a partir do Rio Grande do Sul, Estado originário dos colonizadores nomeando a principal avenida da cidade. A partir da Avenida Rio Grande do Sul, as ruas foram sequencialmente nomeadas pelos Estados litorâneos até a Rua Espírito Santo. Ao Oeste da Praça Willy Barth seguimos com Rua Alagoas, Sergipe e Pernambuco. Opa, falta a Rua Bahia, e a Rua Alagoas vem antes da Rua Sergipe. Certamente um pequeno lapso geográfico!

Ao Leste da praça, após a Rua Espírito Santo, temos a Rua Pastor Meyer. Dizem que esta teria sido originalmente a Rua Bahia, mas alguém resolveu homenagear algum pastor e “discriminou” exatamente o Estado da Bahia.

E temos também uma praça em homenagem ao general Médici, entre a 1ª Igreja Batista e a Igreja Cristo da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Tendo sido um município extremamente “arenista” na década de 70, as lideranças locais não se constrangeram em homenagear o general mais duro do regime militar. Interessante lembrar que o único presidente brasileiro que visitou o município até hoje foi o general Ernesto Geisel, luterano da IELB, diga-se de passagem, em março de 1976. Ao que se saiba, o general da abertura política lenta e gradual não foi homenageado com ruas ou praças. Bem, talvez até porque a lei que proíbe este tipo de homenagem a pessoas vivas é de Geisel.

Temos também uma homenagem a três jovens bancários que morreram num acidente de trânsito, e que têm seus nomes lembrados em ruas do Loteamento Von Borstel. Hoje, certamente faltariam ruas para homenagear tantos jovens que perdem a vida no trânsito. Em todo caso, melhor homenagear pessoas conhecidas e com destaque na sociedade do que identificar ruas de novos loteamentos com o nome de parentes e de amigos dos loteadores, a maioria sem importância histórica e sem nenhuma ação relevante em prol da comunidade, o que certamente foi a motivação principal da lei aprovada na Câmara.

 

Urbano Mertz é engenheiro agrônomo, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário de Marechal Cândido Rondon e inspetor do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR)

urbanomertz2019@gmail.com

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