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Mudanças nas regras do futsal geram polêmica

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Foto: Joni Lang/OP

O Presente

As recentes decisões tomadas pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) estão dando o que falar devido ao impacto que irão causar na dinâmica de jogos na modalidade de futsal. Quatro mudanças foram aprovadas na assembleia da Uefa Euro Futsal, em Liubliana, Eslovênia, sendo a mais polêmica delas a possibilidade de cobrança de laterais e escanteios com as mãos. Quando a regra for homologada, o cobrador escolherá entre repor a bola com os pés ou com as mãos. Para a Fifa, que regula o futsal desde 1989, a mudança favorecerá o aumento do número de gols.

As demais alterações aprovadas dizem respeito à reposição de bola por parte do goleiro, quanto ao uso do goleiro-linha e às decisões por pênaltis.

Com o objetivo de aprimorar o jogo tático das equipes, os goleiros não poderão mais lançar a bola diretamente ao ataque. A partir de agora, a bola terá que tocar na quadra de defesa antes de chegar à outra metade. A regra era usada no antigo Futsal Fifusa, disputado antes dos anos 90 com uma bola mais pesada.

Bastante aplicado na atualidade, o goleiro-linha só poderá ser utilizado por uma equipe que estiver perdendo. Quanto às disputas por pênaltis em jogos eliminatórios, o número de cobranças muda de três para cinco, como acontece no futebol de campo.

Embora as mudanças tenham sido aprovadas, a Fifa destaca que o processo segue em fase de consulta, além de revelar que qualquer alteração nas regras deverá ser aprovada pelos órgãos responsáveis, entre eles o Conselho da Fifa, o que está previsto para o mês de junho, poucos dias antes da Copa do Mundo de Futebol, na Rússia.

OPINIÃO

Para falar sobre a possibilidade das mudanças, que estão gerando bastante polêmica entre os profissionais de futsal, a reportagem de O Presente entrevistou o supervisor técnico e o técnico da equipe Copagril/Sempre Vida/Sicredi/Marechal Cândido Rondon, Eduardo Santana e Paulinho Sananduva, assim como o técnico do Carlos Barbosa e da Seleção Brasileira de Futsal, Marquinhos Xavier. Conhecedores da modalidade como poucos, eles criticam algumas alterações e se dividem sobre certos pontos.

RETROCESSO

Na visão do supervisor técnico da Copagril Futsal, a modalidade pode dar uma passo atrás com a aplicação das alterações. “Eu acho que é um desrespeito à modalidade, porque logo depois que foi consolidada e aprovada pela Fifa já começaram os questionamentos nos veículos de comunicação. Eu vejo como um retrocesso nessa modalidade dinâmica e que atrai muitas pessoas aos jogos e têm emoção toda hora. Isso vai limitar muitas situações que vinham acontecendo, como goleiro-linha, além da evolução que fizemos tempos atrás sobre lateral e escanteio, que agora podem ser cobrados com as mãos”, ressalta Santana.

Conforme ele, a impressão observada é de que algumas situações que não foram aceitas em outras modalidades estão sendo colocadas no futsal. “Até este momento não foi repassada nenhuma alteração nas regras para disputar o Campeonato Paranaense Série Ouro e a Liga Nacional de Futsal, portanto espero que isso não se concretize. Agora, caso seja confirmado, infelizmente os clubes terão que acatar e nós teremos que nos readaptar a essas regras no futsal”, lamenta.

CHOQUE

Para o treinador do time Copagril Futsal, a princípio a tendência é de chocar pelo retorno ao que se fazia antigamente com quadras menores, área menor e regras mais definidas. “Eu acho que nós podemos nos adaptar, mas se vai ser positivo ou não isso vai depender da normatização. Se houver uma padronização da Fifa mostrando o que pode no decorrer, uso de bloqueio ou não, de braço ou não, isso de repente vai fazer com que o lateral ou o tiro de campo se torne eficiente e atrativo”, diz Sananduva, acrescentando: “A grosso modo, pode chocar um pouco porque ainda não existem regras claras para isso. Volta ao modelo antigo, mas com bolas, marcações e espaços diferentes. A outra parte é a questão do uso do goleiro-linha somente quando está perdendo, mas quando a regra fala que o empate pode favorecer determinada equipe eu me vejo prejudicado em não poder usar o goleiro-linha, então volta aquela instância de normatização, regras claras de acordo com o regulamento, por exemplo, se a vantagem é de determinado time tem que haver uma compensação”.

O técnico afirma ter gostado da mudança que prevê a reposição apenas no tiro de meta, uma vez que, em sua opinião, vai influenciar muito na formação de atletas nas equipes que adotam um jogo taticamente bem trabalhado. “Mas no decorrer do jogo se o goleiro fizer uma defesa com a mão ou com o pé, a reposição no ataque se torna indispensável, então primeiro precisa ver se as regras vão melhorar ou não. A gente vem de mudanças ao longo do tempo e a Fifa não faria essas mudanças sem ter um objetivo”, acredita.

DISCUSSÃO

O técnico do Carlos Barbosa e da Seleção Brasileira de Futsal acredita que a possibilidade de escolher cobrar lateral e escanteio com os pés ou com as mãos se apresenta como uma regra polêmica na sua proposta inicial. “Tanto faz bater de um jeito ou de outro, isso vai gerar muita polêmica e discussão, além de prejudicar o andamento da disputa, podendo trazer muitas reclamações. Acredito que essa regra retrocede no que diz respeito à dinâmica”, avalia.

Xavier comenta que o argumento muito mais fundamentado por algumas seleções europeias é de que isso tornará o jogo mais plástico e privilegiará mais os gols, no entanto o treinador discorda dessa possibilidade. “As comprovações que nós temos são de praticamente 15 anos e de lá para cá a dinâmica mudou muito. Não sou a favor dessas mudanças, acho que deve permanecer com os pés mesmo e de alguma forma tentar procurar outra solução, se é que a gente necessita de mudanças a esse respeito”, pontua.

Conforme Xavier, o Brasil é o país onde o futsal está mais difundido no mundo. “São 27 federações e mais de 460 mil atletas inscritos. Temos 300 mil jogos de futsal no território nacional e é impossível que não sejamos ouvidos. Se tem alguém que precisa ser ouvido, sem demérito a nenhum outro país, é o Brasil. Esta é a nossa briga: que a gente possa debater sobre as mudanças e participar ativamente delas. Este é o questionamento”, finaliza o técnico.

 

Leia a matéria completa na edição impressa de O Presente que circula nesta terça-feira (20).

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