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A contribuição da agricultura para a preservação da Amazônia – por Dilceu Sperafico

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A decantada devastação da Floreta Amazônica, especialmente em território brasileiro, com derrubada desenfreada de matas nativas para o cultivo de grãos e criação de animais, com finalidades exclusivamente econômicas, não se trata de nenhum fenômeno recente e muito menos de abusos dos chamados ruralistas.

Conforme pesquisas de especialistas da Universidade de Exeter, da Inglaterra, já há mais de 4,5 mil anos a região conhecida como maior reserva florestal do planeta era habitada e tinha áreas exploradas pelos seres humanos, que deixaram marcas de sua presença e suas atividades produtivas.

De acordo com o levantamento, já naquela época a agricultura era praticada na região com o cultivo e colheita de diversos vegetais. Para isso, já se fazia o desmatamento de áreas mais extensas, com queima da madeira e uso de fertilizantes, como acontece com a atividade primária de subsistência da atualidade.

A pesquisa conduzida por diversos estudiosos da instituição, como arqueólogos, ecologistas, botânicos e paleoecologistas, entre outros, constatou, para surpresa de muito deles, que a Floresta Amazônica, ao contrário do que se imaginava e se apregoava, não era o santuário verde preservado pelas mãos humanas há milhares de anos.

Não que se defenda ou apoie a devastação da matas nativas e contaminação de solo e água, mas é preciso reconhecer que a exploração racional de recursos naturais beneficia o ser humano, sem prejuízos para a flora e fauna originais, até porque a humanidade faz parte da natureza terrestre.

Segundo o levantamento, já há quase cinco mil anos, no mínimo, houve interferência do ser humano na natureza da região, com efeitos dessa interação presentes até os dias atuais.

O mais interessante é que os agricultores ancestrais da Amazônia já sabiam como enriquecer ou aumentar a fertilidade da terra com nutrientes, o que dispensava a expansão anual da terra desmatada para manter ou elevar a produção de alimentos, pois melhoraram a qualidade do solo, implantando sistemas sustentáveis de produção.

Essa sustentabilidade na atividade e até mentalidade dos primeiros agricultores da Amazônia, ficou conhecida como a preservação da terra-preta ou terra-preta-de-índio, que é tipo de solo muito escuro e extremamente fértil, predominante na região.

Estudos desenvolvidos ao longo de décadas, buscando a explicação da origem desse tipo de terra, considerou diversas hipóteses, como a do solo escuro conter cinzas vulcânicas oriundas dos Andes ou ser resultado de sedimentação em lagos formados em antigos períodos geológicos da Amazônia.

Para isso também contribuiu a própria atividade humana, pois análises do solo permitiram identificar a combinação de matéria orgânica vegetal e animal, plantas carbonizadas e resquícios de cerâmica, na composição da terra fértil da região.

A ação humana ancestral, portanto, teve impacto duradouro no solo amazônico, pois sua fertilidade e coloração permanecem inalteradas, mostrando que o trabalho dos primeiros agricultores amazônicos deixou legado positivo e duradouro.

Em outras palavras, a forma como comunidades indígenas administraram a terra há milhares de anos ainda orienta ecossistemas florestais modernos. Para o bem da natureza e da humanidade, portanto, nossos agricultores preservaram conhecimentos de seus ancestrais.

O autor é deputado federal pelo Paraná licenciado e chefe da Casa Civil do Governo do Estado
dep.sperafico@uol.com.br

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