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Acaso Futebol Clube: bola escorregadia e com efeito do imponderável – por Jairo Eduardo

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Thiago, de joelhos, implora para a bola entrar. O acaso disse não (Foto: Divulgação)

Acompanhando atentamente as entrevistas do Tite e outros técnicos na Copa do Mundo, ouvi complexas explicações táticas para o esporte que põe 22 homens correndo atrás de uma esfera. Era um tal de “terço final do campo”, “compactação”, “bola no ponto futuro”, “linhas de defesa e meio de campo espremidas em dez metros”.

Em certo momento da entrevista, eu já começava a entender o futebol como uma ciência exata. Tudo poderia vir para o campo do previsível, desde que compactasse aqui, espremesse o adversário em dez metros ou desempenhássemos bem no terço final do campo.

Visitou minha memória um gol antológico que fiz no churrascão de 1º de maio, nos anos 80, lá no Seminário São José. Fui isolar uma bola que saía pela lateral do campo com a perna de subir no ônibus, a esquerda, e acabei pegando mal na redonda. Tão mal que ela ganhou outra direção e encobriu o goleiro adversário. Chamaram aquilo de “gol espírita”, logo ali, no terreiro do catolicismo.

Será que o local em que a bola entrou seria o ponto futuro do pretérito? Respeito esses milhares de comentaristas, com recursos de avatares se movendo na tela, mostrando incríveis sistemas táticos. Por serem dedicados estudiosos do tema, merecem meu respeito.

Porém, o futebol é um jogo. E jogo (seja de cartas, dominó ou futebol) sempre irá escalar alguns atletas invisíveis: acaso, sorte, azar. O jogo que eliminou o Brasil foi assim. Ao acaso, a bola bateu no Thiago Silva, no início da partida, e beijou a trave. Mas não entrou.

No lance seguinte, também por obra do acaso e com zero de mérito da Bélgica, a bola desviou no braço do Fernandinho e mudou a história do confronto. É injusto culpar o volante. Sim, o Brasil sentiu a falta de Casemiro, gigante no desarme, mas culpar o Fernandinho é ignorar os poderes mágicos do imponderável.

Fernandinho, Tite, quem quer que seja, não tem ascensão, nem poderes sobrenaturais, para marcar o craque chamado acaso. Ele é capaz de driblar um time inteiro de galácticos. Insuficiente argumentar que finalizamos 26 vezes, contra oito dos belgas. Ou que obtivemos 70% de posse de bola.

Esses argumentos não comovem o acaso. E pior: nem o árbitro de vídeo pôde conter o espírito arbitrário do futebol. O vencedor sempre será o Acaso Futebol Clube.

 

Por Jairo Eduardo/Pitoco/Cascavel

 

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