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As demandas da pandemia de coronavírus e os leitos hospitalares do país – por Dilceu Sperafico

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(Foto: Divulgação)

As dificuldades e temores que o país enfrenta na prevenção e controle de coronavírus, como a falta de leitos hospitalares, tanto para internação como para tratamento intensivo, são o preço que a sociedade paga pela irresponsabilidade de determinados governantes.

Para se ter melhor dimensão dessa desatenção com a saúde pública, basta lembrar que o Brasil perdeu 34,5 mil leitos de internação hospitalar entre os anos de 2009 e 2020. Em números totais, leitos de internação foram reduzidos de 460,92 mil para 426,38 mil no intervalo que separou as pandemias de H1N1 e de coronavírus.

Os leitos de internação são espaços destinados a pacientes que precisam permanecer por mais de 24 horas dentro de hospital e, pelas previsões de autoridades de saúde, deverão atender boa parte dos casos mais graves da nova pandemia ou cerca de 20% do total dos contaminados, ao longo dos próximos meses.

A desativação de leitos ocorreu em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), onde a redução chegou a 48,53 mil espaços de atendimento. No mesmo período, a rede privada apresentou elevação de cerca de 14 mil leitos, mas o aumento é considerado insuficiente por especialistas do setor.

Técnicos do Ministério da Saúde afirmam que a queda do número de leitos de internação está relacionada, em parte considerável, com a política pública voltada à atenção básica. Isso significa que parte significativa de leitos fechados seria de hospitais conveniados com o SUS, que sendo pouco lucrativos, foram desativados sem maiores contestações.

Especialistas destacam que ainda é muito difícil projetar como o novo coronavírus irá pressionar a rede de serviços de saúde, por internação e tratamento de pacientes, pois isso dependerá dos resultados de medidas adotadas para controlar o crescimento da curva de novos casos.

Mesmo assim, alertam que a rede de assistência deve se preparar para liberação de leitos atendendo a demanda que a Covid-19 poderá impor, a partir de medidas específicas, como cancelar cirurgias simples e evitar internações desnecessárias.

Estudos especializados demonstram que a partir de dados de 2009 a 2017 houve grande desigualdade na distribuição e/ou oferta de leitos hospitalares no país. A relação de cerca de dois leitos disponibilizados por grupos de mil habitantes dependentes do SUS ficaria abaixo de índices apontados como satisfatórios pelo próprio Poder Público.

Na disponibilidade de leitos hospitalares, como em diversas outras áreas da realidade nacional, as desigualdades regionais são marcantes, seja na distribuição quanto na evolução de estabelecimentos e leitos hospitalares. O Rio de Janeiro perdeu mais de 17 mil dos 50 mil leitos de internação desativados desde 2009, ano da pandemia de H1N1.

Enquanto isso, a oferta de leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs), que atendem cerca de 15% dos pacientes mais graves ou cerca de 20% do total de internações, foi elevada no período, mas para patamar ainda insatisfatório, segundo a Associação de Medicina Intensiva do Brasil (AMIB).

O país teria ganho 17,3 mil leitos de UTI desde a pandemia de H1N1, elevando o total de 42,4 mil para cerca de 60 mil, mesmo assim as unidades destinadas a pacientes adultos têm mais de 90% de ocupação. O recomendado como estrutura ideal é de um a três leitos de UTI para cada dez mil habitantes e o SUS dispõe de apenas um leito para cada um desses grupos.

 

O autor é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado

dilceu.joao@uol.com.br

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