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Gêneros alimentícios são os mais atingidos pela inflação em 2020

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Professor de Economia da Unioeste esclarece termos cada vez mais mencionados ao longo da crise do coronavírus e faz considerações a respeito do futuro da economia brasileira (Foto: O Presente)

Quem costuma ir ao supermercado já percebeu que a mesma lista de compras de outrora hoje em dia precisa de mais recursos para ser adquirida. O poder de compra diminuiu, afetando o consumo da população. Mas o que seria esse poder de compra? Segundo o professor de Economia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), doutor Flávio Braga de Almeida Gabriel, o poder de compra está relacionado à renda do indivíduo e à valorização do preço dos bens, que é a inflação. “Eu digo renda e não especificamente salário, porque a renda do indivíduo pode vir de qualquer fonte que não seja o salário, bem como aposentadoria, aluguéis, aplicações, entre outros. Porém, sabemos que a maior parte da renda do indivíduo está atrelada ao trabalho e reflete o salário. Conforme a renda do indivíduo aumenta, aumenta também a capacidade de compra dele. Por outro lado, quando há o aumento (no valor) dos bens que esse indivíduo compra, oque está relacionado à inflação, ele acaba perdendo poder de compra”, explica o docente ao O Presente, salientando que a renda tem se mantido constante, ao contrário dos preços que sobem, e afetam negativamente o poder de compra.

Professor de Economia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), doutor Flávio Braga de Almeida Gabriel: “Não temos dados consolidados ainda, mas provavelmente a renda média caiu e isso afeta a capacidade de compra do consumidor, haja vista que a inflação de 4,31% já é um parâmetro consolidado” (Foto: Divulgação)

 

AUMENTO GENERALIZADO

Chegar ao mercado e ficar de “queixo caído” com os preços está virando rotina para os consumidores. Almeida-Gabriel afirma que não é apenas impressão, mas, sim, a inflação sendo levada no carrinho de compras. “Basicamente, a inflação é um aumento generalizado dos preços. Para entender, imagine uma cesta de bens e coloque nela todos os bens que você consome, inclusive energia elétrica, água, transporte, alimentação e escola. Cada um desses bens corresponde a um percentual do todo que você gasta por mês. Os economistas captam os preços dos bens dessa cesta de um mês para outro, vendo quanto variou. Então, na atual circunstância, o preço dos bens está subindo”, explica o economista, mencionando que a inflação acumulada nos últimos 12 meses, até novembro, foi de 4,31%.

 

IPCA

Ele comenta que a inflação se pauta oficialmente no Índice de Preço do Consumidor Amplo (IPCA). “É esse índice que vê a variação dos preços na cesta de bens mencionada anteriormente”, aponta.

O leitor atento deve estar se perguntado: mas alguns produtos não aumentaram mais que os 4,31% da inflação, principalmente alimentos?

Segundo o professor da Unioeste, deve-se prestar atenção na composição da cesta de bens. “Há outros produtos que compõem o IPCA e estes, como combustíveis, saúde pública e medicação, não variaram tanto quanto os alimentos, que chamam mais atenção”, ressalta.

 

PREÇO DOS ALIMENTOS

Como os alimentos compõem a maior parte dos gastos da população de baixa renda, o economista ressalta que o aumento no preço destes produtos pesa no fim do mês. “Parte da população usa boa parte de sua renda na compra de alimentos e os gêneros alimentícios subiram em maior grau que a inflação”, destaca, exemplificando: “O arroz, um item relativamente barato e básico, se comparado à renda e à capacidade de consumo, subiu em média 69% neste ano. Isso é muito significativo”.

Outros produtos que se destacam nessa escalada nos preços são o óleo de soja, com alta anual de 69,5%, o tomate, que acumulou alta de 76,5%, a batata inglesa, com variação de 55,9%, e a carne, que subiu 13,9% no ano.

Preço dos alimentos cresceu acima da inflação e, segundo o economista, o aumento pesa principalmente no poder de compra das famílias com menor renda (Foto: O Presente)

 

INPC

Na opinião de Almeida-Gabriel, outro indicador interessante para avaliar a inflação é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). “Enquanto o IPCA leva em consideração uma cesta de bens de famílias de renda entre zero e 40 salários mínimos, o INPC considera cestas de famílias que recebem até cinco salários. Imaginando que a maior parte da população recebe até cinco salários, o INPC seria o mais correto para ser utilizado, mesmo que não seja”, avalia.

Ele menciona que o INPC teve elevação superior ao IPCA. “O INPC foi de 5,2% em 12 meses. Ou seja, caso a inflação se pautasse nele, ela seria maior do que é calculada hoje pelo IPCA”, salienta.

 

RENDA DAS FAMÍLIAS

Os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a renda do brasileiro são referentes a março e, por isso, não abrangem a pandemia vivenciada. “Não temos dados consolidados ainda, mas provavelmente a renda média caiu e isso afeta a capacidade de compra do consumidor, haja vista que a inflação de 4,31% já é um parâmetro consolidado”, assegura o professores da Unioeste.

 

“NORMALIZAÇÃO” DOS PREÇOS

Questionado sobre a possibilidade dos preços voltarem à “normalidade”, o docente relata variação. “Sobre os produtos que mais tiveram aumentos, os alimentos, há uma tendência de redução de preços para gêneros sazonais, pois sabemos que na safra o preço cai e sobe na entressafra. No Brasil, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) é a agência reguladora desses por meio do estoque de produtos. Todavia, em uma análise econômica, a companhia deixou de acompanhar os preços, não fez estoque e não tem produto para colocar no mercado na entressafra”, expõe.

Para ele, em virtude desses fatores, a redução do preço provavelmente não vai acontecer. “Percebemos pelos dados históricos que a deflação, redução do preço dos produtos de forma generalizada, nunca aconteceu no Brasil e provavelmente nunca acontecerá. Alguns produtos podem reduzir de preço, mas não a ponto de afetar o IPCA”, analisa.

 

2021

Ainda com a sombra da pandemia afetando a todos, o economista diz que o coronavírus precisa ser controlado para que a economia volte a se recuperar. “Estamos em uma situação de instabilidade total, desde a pessoa mais carente até a mais rica. Ninguém consegue projetar o futuro, como mais ou menos as coisas acontecerão. Essa incerteza dificulta para que as pessoas comprem, produzam e se movimentem. Isso só vai acontecer quando a pandemia estiver controlada”, prevê.

Almeida-Gabriel ressalta que as notícias e pesquisas divergem sobre quando a população será imunizada, o que impede planejamentos futuros. “O cenário econômico de 2021 é uma incógnita. Se as pessoas forem imunizadas no primeiro semestre, teremos um grande ganho econômico no segundo semestre. Será automático. A partir da imunização essa situação de instabilidade vai diminuir de forma significativa e as pessoas voltarão as suas atividades normais gradativamente”, considera. “Se isso não acontecer no primeiro semestre e for para o segundo semestre, 2021 tende a ser um ano com recessão, assim como 2020, porém uma recessão menor. Tudo depende da imunização da população”, arremata.

 

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