Hoje é o Dia Nacional de Combate ao Câncer; confira o “diário de uma pessoa com câncer”

O dia 27 de novembro é o Dia Nacional de Combate ao Câncer. A data foi criada em 1988, com o intuito de ampliar o conhecimento da população sobre as formas de prevenção e de tratamento da doença.

Aproveitando a data, O Presente divulga uma carta escrita por uma pessoa com câncer, intitulada “O diário de uma pessoa com câncer”. A carta foi entregue nesta quarta-feira (27) na redação do jornal, pela prima da pessoa com câncer, chamada Marisa Terezinha Schneider, moradora de Marechal Cândido Rondon. A autora da carta é Lonita Lerner, moradora do Rio Grande do Sul. Confira:

Diário de uma pessoa de câncer

Na luta contra o câncer aprendi a ganhar.

Ao enfrentarmos o câncer, temos a difícil tarefa de contabilizar as perdas e a sabedoria de reconhecer os ganhos.

Enfrentar o câncer é uma verdadeira e árdua batalha. O câncer me tirou tudo. Mais do que expressar meu pensamento, trago neste texto um breve relato do que estou passando e vivendo desde que recebi o diagnóstico em 2002,  e pior foi em 2016, quando pensei que já estava livre desta doença.

 

 

 

Realmente, as perdas já começaram com a chegada da notícia: perde-se o rumo, certezas, convicções e questionamentos.

 

O tempo para e a vida passa depressa na cabeça como um filme. Começa então uma rotina de exames, de idas e vindas a médicos, laboratórios, clínicas e hospitais.

Muitas vezes, adentra-se pela primeira vez neste universo obscuro e distante do cotidiano e das quimioterapias e radioterapias.

Ganha-se nas histórias de vida narradas nos corredores dos hospitais, na prece de quem está orando por você ou na pessoa que está inquieta na sala de espera num bloco cirúrgico.

Ganha-se quando o tempo não é em vão e que cada minuto vale ouro. Ganha-se quando o tempo não é aquela comida preparada com amor e carinho que quando preparada seja aceita pelo organismo. Ganha-se com o desenho de uma criança que na sua simplicidade diz que ama você e que tudo vai ficar bem, sem mesmo compreender o que se passa.

Ganha-se quando quem está a seu lado faz de tudo para que alivie a sua dor e seu sofrimento. Ganha-se com mensagens que vêm pelos amigos e desconhecidos pelas redes sociais.

Começa então uma corrida contra o tempo. A vida toma outra direção e passa a ser habitada por pessoas e locais diferentes.

Surge um novo vocabulário, complexo e desconhecido, de nomes grandes e esquisitos, laudos, biópsias e resultados.

Perdem-se os dias passados dentro de um hospital numa fila de espera, nas idas e vindas de papéis, autorizações, agendamentos e cancelamentos.

Sim, perde-se a autonomia de ir e vir livremente. Perde-se a capacidade de trabalhar, perde-se o controle do corpo e da vida.

Perde-se a noção do tempo e a certeza de quanto tempo ainda nos resta, perde-se o apreço e a fama; vão-se embora os conhecidos e faz doer a perdas dos que eram ‘amigos’.

Perdem-se as roupas que já não servem mais, perde-se o apetite, sabores e cheiros, o cabelo, a pele rosada, a aparência saudável.

Perde-se a capacidade de carregar seu café da manhã de um supermercado, perde-se realmente tudo.

E temos de nos conformar.

Sabedoria é conseguir reconhecer os ganhos em meio ao caos gerado pelo excesso de perdas, é enxergar estas perdas com podas que bem aproveitadas fazem surgir um broto novo.

O câncer pode trazer com ganho família, amigos verdadeiros que se unem para juntos lutar e superar esta guerra.

Ganha-se com lágrimas que não são choradas sozinhas, mas divididas com aqueles que mais amamos.

Ganha-se fé, porque se descobre pequeno, frágil e totalmente dependente de Deus.

Ganha-se com a presença de Jesus que nunca abandona a quem d’Ele precisa.

Ganham-se novos amigos, uma nova família; a filha do leito ao lado, as enfermeiras que se revezam dia e noite nos cuidando, o rapaz, a senhora, a menina que senta ao seu lado na sala de quimioterapia e o carinho que chega pelas redes sociais ou uma voz embargada pelo celular por uma pessoa distante. Ganha-se pelas grandes e pequenas gentilezas.

Enfim, realmente são muitas as perdas e elas são comuns a todos nós que somos impactados e atingidos pelo câncer.

Já os ganhos não; eles são como pedras preciosas vasculhadas e encontradas no garimpo reservados para aqueles que conseguem ir no profundo e ir além.

Sei que muitos conseguem a cura, mas a luta é árdua, muito exigente e o tratamento exigente e cruel.

Não é possível vencer sem o apoio, sem o suporte e sem fé.

Assim, quando é, se o pior de todas as perdas chegar, a morte, sei também que neste momento será preciso conservar no coração a certeza do maior de todos os ganhos; a vida eterna.

Nita (Lonita Lerner) – 25/07/2019, 23h52

UM POUCO MAIS SOBRE A DATA

O Presente com agências