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Geral VÍCIO DO BEM

Leitores assíduos da região sugerem livros imperdíveis

Ler instrui, aguça a criatividade, amplia o vocabulário, produz conhecimento… Todavia, não pode ser obrigação; precisa gerar satisfação. Para tanto, é necessário chegar ao livro certo. Além do mais, há leituras que só agradam com a maturidade

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Arquivo pessoal

Quem não lê, mal ouve, mal fala e mal vê, já dizia Monteiro Lobato. E é pura verdade! Quem lê vê um mundo novo a cada volume.

Ler não é só abrir as páginas de um livro e correr os olhos pelas palavras. Ler é descobrir lugares ermos do planeta sem nunca ter saído do sofá; é viver amores impressionantes e aventuras fantásticas do conforto da própria casa. É ver beleza e poesia em qualquer paisagem. É esquecer, nem que seja por meia hora, os problemas e a rotina. É estimular a imaginação e a criatividade.

Os livros são os maiores aliados da sociedade na formação de bagagem intelectual, cultural e emocional dos indivíduos. Por essas e outras que tanto se fala que a criança que ouve histórias desde cedo, que tem contato direto com obras e que é estimulada, será um adulto leitor, pensante, com plena consciência do bom-senso, visão crítica e com capacidade de romper com estruturas impostas pelo senso comum.

 

Processo constante

Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura precisa ser um processo constante, que começa muito cedo, em casa, e aperfeiçoa-se na escola.

Todavia, são poucos os pais que se dedicam efetivamente em estimular esta capacidade nos seus filhos. Infelizmente, a família brasileira não é leitora, conforme mostra a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Algumas não têm sequer um livro em casa e a responsabilidade de despertar o gosto literário acaba sendo da escola.

Os professores são a segunda principal influência na construção do hábito de leitura, e dona Maidi Migliorança sabe muito bem disso. Ao longo dos seus 30 anos de docência em Língua Portuguesa no município de Nova Santa Rosa, ela sempre foi elo importante entre estudantes e obras, mas é modesta ao afirmar que o mérito maior é dos alunos, que são naturalmente atraídos pelos livros, assim “como a mariposa pela lâmpada”.

Por sinal, super modesta a dona Maidi, porque o incentivo dela à leitura ultrapassa os muros do Colégio Gaspar Dutra. Nos últimos 13 anos a professora investiu R$ 18 mil em livros para dar de presente. “A maior parte deles dei para alunos”, conta.

Leitora assídua desde criança, a nova-santa-rosense lê em torno de 70 obras por ano. “Sou viciada em livros, como um fumante é por cigarros. Leio um na cola do outro. Às vezes, mais de um ao mesmo tempo”, comenta.

Conhecida na região como uma leitora-modelo, desde 1996, quando tinha 38 anos, dona Maidi contabiliza as obras que lê. “Há 22 anos somo as leituras que faço. Atualmente, estou lendo o livro número 1.044”, revela, orgulhosa, a professora, que tem em casa uma biblioteca com 650 livros. “É humilde, mas inspiradora”, diz.

 

Prioridade

Outro leitor assíduo, que tem em casa uma biblioteca particular com cerca de mil obras, é o jornalista Cristiano Viteck. O rondonense lê, em média, um livro por semana. “As pessoas dizem que é bastante, mas gostaria de ler mais. Às vezes acontece de ler mais de um ao mesmo tempo”, menciona.

Segundo Viteck, na sua agenda de atividades a leitura é prioridade. “Um fator que me ajuda a ter mais tempo para a leitura é que não assisto TV, não vejo novelas, futebol, programas de auditório e nem telejornais. Quando posso, assisto filmes ou documentários. Priorizo meu tempo em casa com outras atividades, e a leitura é uma delas”, expõe.

Apaixonado por livros, o jornalista afirma que ler é um vício do bem. “Além de prazeroso, instrui, aguça a criatividade, o vocabulário, amplia o conhecimento. Mas nada disso importaria se o ato de ler não me causasse bem-estar. Leitura pra mim é um ato de prazer. Tenho tesão por livro. Gosto de ler, de manusear, de comprar na internet e em livrarias, de buscar na biblioteca, de garimpar raridades em sebos. A leitura me dá satisfação. Ela tem que ser diversão, não obrigação. E para ser divertido, cada um precisa descobrir o estilo de livro que mais atrai e interessa”, declara. Por isso, ele costuma afirmar que não existe quem não goste de ler. “Existem pessoas que ainda não foram apresentadas aos livros certos”, frisa.

Como leitor, o foco de Viteck é diversificado, mas tem ênfase em história do Brasil, história da música, contracultura e obras clássicas de literatura, tanto brasileira quanto estrangeira. “Não gosto livros de autoajuda e similares”, salienta.

Jornalista Cristiano Viteck: “Tenho tesão por livro. Gosto de ler, de manusear, de comprar na internet e em livrarias, de buscar na biblioteca, de garimpar raridades em sebos. A leitura me dá satisfação”

 

Transformação

Muito mais do que entretenimento, ler é um ato de transformação. “A leitura é um mundo de possibilidades. Traz informação e formação, gera conhecimento sobre inúmeros assuntos que são essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional, oportuniza trocas com outras pessoas e auxilia e enriquece o trabalho. Muitas vezes, apenas diverte, mas de uma forma geral, para mim ao menos, ativa a memória e ajuda a vencer o estresse”, considera a coach e palestrante Marta Schumacher, que lê, em média, um livro por mês. “O tempo de leitura depende do tamanho da obra. Há obras que levam mais de um mês para eu concluir a leitura. Estou lendo um livro, por exemplo, já tem um ano. Vou e volto nele, para compreendê-lo e colocar em prática os aprendizados. Também faço muita leitura de artigos e publicações menores em sites e blogs entre os espaços de tempo livre e possíveis”, detalha.

A rondonense garante que não passa um dia sem leitura. “Nem que seja em algum site ou jornal”, relata, acrescentando: “Quanto mais eu leio, mais sinto necessidade e curiosidade em ler. Quando se tem interesse por alguns temas e assuntos, impossível ficar sem ler, ao menos para mim”.

Para Marta, a leitura estimula a memória e expande a capacidade da mente. “É combustível inesgotável para a imaginação. Serve também de instrumento para expressar nossos sentimentos. Quem não tem o hábito da leitura deveria começar e descobrir esse mundo inesgotável de enriquecer a mente que depois extravasa em ideias para o dia a dia. Se você quer se tornar melhor naquilo que é e faz, comece a ler”, incentiva.

 

Cada idade, um interesse diferente

Nem todas as leituras interessam em determinada idade. “Há leituras que só agradam com a maturidade, assim como há leituras que só agradam na infância, na adolescência e na juventude”, afirma a professora Maidi Migliorança.

A coach e palestrante Marta Schumacher complementa: “toda idade é idade para ler, mas existem leituras que despertam mais ou menos gosto conforme a idade ou o momento de vida”. Ela ressalta que cada um precisa descobrir na sua idade o que mais é “apetitoso” para “devorar”.

O jornalista Cristiano Viteck lembra que no tempo em que cursava o Ensino Fundamental, leu praticamente tudo o que teve à disposição. “Tenho um carinho imenso pelos livros da coleção Vaga-Lume, que faziam muito sucesso naquele tempo. Já no Ensino Médio teve um período em que deixei a leitura de lado. Não gostava das obras obrigatórias da escola. Achava tudo muito chato. O que fez renascer meu gosto pela leitura foi, ainda adolescente, ter descoberto escritores como Charles Bukowski, Jack Kerouac, Carlos Heitor Cony e JD Salinger, autores que passam longe do universo escolar”, enaltece.

Na opinião do rondonense, adolescente não tem bagagem suficiente para entender o contexto de obras de autores como Machado de Assis, Lima Barreto e Manuel Antônio de Almeida. “Foi só depois de adulto, quando revisitei esses escritores, que entendi a grandiosidade deles. São escritores fantásticos, mas penso que pouco interessantes para o universo de quem tem 15 ou 16 anos”, acredita.

Para ele, leitura não é algo que se enfia goela abaixo. “Ninguém, seja em qual idade estiver, deve ser obrigado a ler livro nenhum, mas estimulado a ler conforme o seu próprio interesse”, destaca.

Marta concorda: “leitura por obrigação é uma chatice”. Contar histórias, na visão dela, é uma boa forma de incentivar o hábito de ler. “A leitura pode ser despertada desde a infância, ao lermos para os nossos filhos, por exemplo. Contar histórias e contar coisas que se leu ajuda a instigar o outro a ler. Lembro que eu provocava a curiosidade de meus filhos e até mesmo de outros familiares chamando a atenção sobre algo interessante. Assim, decidiam ler também porque queriam saber mais sobre determinado assunto. Aliás, faço isso até hoje e com isso levo outros a querer ler”, comenta.

Coah palestrante Marta Schumacher: “Ler traz informação e formação, gera conhecimento, oportuniza trocas, auxilia e enriquece o trabalho, ativa a memória e ajuda a vencer o estresse”

 

Todo incentivo é válido

Num país onde 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro sequer, conforme aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, todo incentivo à leitura é válido.

Em Marechal Cândido Rondon há duas bibliotecas públicas municipais à disposição para o empréstimo de livros: a Biblioteca Pública Municipal Martinho Lutero e a Biblioteca Cidadã Alice Weirich. Ambas possuem um acervo de aproximadamente 29 mil obras.

Para fazer a carteirinha e retirar livros é necessário apenas se dirigir a uma das bibliotecas e apresentar um documento com foto e um comprovante de endereço.

 

Indicação aos leitores

A convite de O Presente, os entrevistados desta reportagem indicaram livros que, na opinião deles, toda pessoa deveria ler. Confira as sugestões:

 

MAIDI MIGLIORANÇA

A montanha mágica – Thomas Mann

Sapiens – uma breve história da humanidade – Yuval Noah Harari

O tempo e o vento – Erico Verissimo

Memorial do convento – José Saramago

Tratado sobre a tolerância – Voltaire

Venenos de Deus, remédios do diabo – Mia Couto

Homens imprudentemente poéticos – Valter Hugo Mãe

Um rio imita o Reno – Vianna Moog

Videiras de cristal – Luiz de Assis Brasil

Hibisco roxo – Chimamanda Ngozi Adichie

 

 

MARTA SCHUMACHER

Para pais e educadores:

Quem ama, educa – Içami Tiba

 

Para empresários:

Empresas feitas para vencer – Jim Collins

 

Para autoconhecimento e desenvolvimento pessoal:

Inteligência emocional – Daniel Goleman

Profunda simplicidade – Will Schutz

 

Para carreira e profissão:

O poder da ação – Paulo Vieira

Metacompetência – Eugênio Mussak

 

 

CRISTIANO VITECK

Literatura

Apanhador no campo de centeio – JD Salinger

On the road: pé na estrada – Jack Kerouac

Pilatos – Carlos Heitor Cony

 

História

As barbas do imperador – Lilia Moritz Schwarcz

A formação das almas: o imaginário da República no Brasil – José Murilo de Carvalho

 

Música

JRNLS 80S – Lee Ranaldo

Mate-me por favor: uma história sem censura do punk – Legs McNeil e Gillian McCain

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