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Geral Avicultura a serviço da vida

Você sabia que algumas vacinas são produzidas a partir de ovos de galinha? Saiba mais

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(Foto: Shutterstock)

A pandemia da Covid-19 fez inúmeros pesquisadores se debruçarem em cima de estudos em uma verdadeira corrida contra o tempo na tentativa de descobrir uma vacina que seja capaz de controlar o avanço da doença pelo mundo. Enquanto alguns estudos de vacinas levaram anos para serem concluídos – contra o sarampo foram dez anos e contra ebola as pesquisas somaram 20 anos -, a fórmula capaz de travar a disseminação do coronavírus parece cada vez mais próxima.

A fase de testes em humanos já começou no Brasil, inclusive no Paraná, e o Ministério da Saúde acredita que até o fim do ano as primeiras doses estarão disponíveis.

Mas quem vê as campanhas de vacinação sendo realizadas anualmente e quem vai até o posto de saúde para ser imunizado, muitas vezes nem imagina a forma como é feita a produção de uma vacina. A maioria das pessoas sequer sabe que, além de alimentar milhões de pessoas, a avicultura também está a serviço da vida.

Isto porque alguns tipos de vacina, como contra a Influenza e a febre amarela, são feitas a partir dos ovos de galinha. Mas engana-se quem pensa que o processo é simples. Trata-se de uma etapa que exige meses de preparação, além de uma exigência sanitária de alto nível. Até por isso os ovos são chamados de “controlados”, conforme normativa do Ministério da Saúde.

O Instituto Butantan, de São Paulo, que está em uma das linhas de frente nos trabalhos de pesquisa em busca de uma vacina contra a Covid-19, aumentou a capacidade de produção de vacina de Influenza de 55 milhões para 80 milhões de doses por ano, ampliando seus fornecedores de ovos controlados.

Para falar a respeito da produção destes ovos, a reportagem do Jornal O Presente entrevistou a médica veterinária Nayra Magnusson. Ela é consultora avícola com 15 anos de experiência no setor, sendo 12 anos dedicados à produção de ovos controlados. Foi Nayra, inclusive, quem ajudou a implantar na Globoaves, que tem sede em Cascavel, toda a parte de biotecnologia.

A empresa possui uma unidade específica no interior de São Paulo para fornecer ovos controlados ao Butantan.

 

PREPARAÇÃO NA GRANJA

Para produzir ovos controlados, as barreiras e controles sanitários estão em um grau mais elevado em comparação com matrizeiro, onde são produzidos ovos para pintinhos de engorda ou para postura comercial. “Para visitar as granjas de ovos controlados é preciso respeitar um tempo mínimo de vazio sanitário. São sete dias em que não podemos ter nenhum contato com outra ave, de qualquer espécie. Sendo uma poedeira comercial, um frango de corte, não existe essa barreira sanitária em termos de dias de vazio sanitário, embora o acesso não seja tão livre como antigamente”, diz Nayra.

Outro cuidado especial é com relação ao limite periférico da propriedade até o núcleo, que deve respeitar a distância de 500 metros – na granja matriz a distância é de 200 metros. “Há, ainda, o cuidado com a qualidade do ar no aviário. É obrigatório o galpão ser fechado e ter o fluxo de ar unidirecional, o qual contribui para melhor qualidade do ambiente quanto à temperatura do aviário, redução da concentração de CO² e monitoramento”, explica a médica veterinária.

Quer mais um diferencial? As aves não podem receber vacinação contra salmonela. “O grande diferencial é o rigor na parte sanitária. Isso é fundamental para manter as aves livres dos patógenos, principalmente salmonela, pois existem mais de três mil tipos. Essa ave tem que ser negativa para salmonela total. Esse é o maior desafio: manter livre de Mycoplasma e Salmonela e também livres de anticorpos para o vírus da Influenza, Laringotraqueite, Leucose e Reticuloendoteliose. E é onde entra o rigor sanitário”, frisa a consultora avícola, que complementa: “São normas que visam um elevado grau sanitário, justamente para ter essa cautela”.

 

OVOS

Desde a criação das aves há um grande cuidado com a parte sanitária. E o cuidado com os ovos não poderia ser diferente. Afinal, eles que serão a peça-chave para produção, posteriormente, da vacina contra Influenza e febre amarela.

Com o objetivo de evitar ao máximo uma possível contaminação cruzada, o contato manual com os ovos controlados é o menor possível e a maioria das granjas são automatizadas. “A coleta dos ovos é feita a cada uma hora para que tenha menos contato no ninho. Neste tipo de ninho automático, as aves não têm contato com os ovos, pois eles caem em uma esteira e isso ajuda na parte de prevenção às bactérias. Os ovos são embandejados automaticamente e o contato manual é bastante reduzido para evitar possível contaminação”, enaltece Nayra.

A profissional menciona que em no máximo uma hora depois da coleta é realizado o trabalho de desinfecção dos ovos, os quais, na sequência, seguem para o incubatório. “Na granja só se coloca a mão nos ovos sujos ou trincados, que são retirados da esteira”, expõe.

 

INCUBATÓRIO

Os ovos ficam 11 dias no incubatório. Nesta etapa é feita a ovoscopia em 100% da produção. O método verifica internamente o ovo para classificar aquele que é viável. “Os ovos inférteis, que não foram fecundados, e com mortalidade embrionária são descartados. São enviados (para o Butantan) apenas os ovos em que houve fecundação e que o embrião se desenvolveu e está vivo, apto para receber o vírus”, explica a consultora.

 

PROCESSO

Já no Instituto Butantan, um equipamento com microagulhas injeta em cada ovo o vírus. Em seguida, os ovos retornam para a incubadora, onde permanecem por mais 72 horas visando replicar a carga viral. “Para a produção de vacinas são utilizados somente ovos de galinha. Não são usados ovos de pato, ganso, marreco, apenas galinha”, informa.

A etapa seguinte consiste em colher o líquido alantóico que envolve o embrião, o qual é centrifugado, concentrado, fragmentado e inativado, originando uma suspensão da vacina monovalente. A mistura das suspensões de cada monovalente resulta assim na vacina trivalente.

Cada ovo rende em média uma dose de vacina. No entanto, o Butantan tem feito estudos para aumentar este número. “O vírus injetado é inativado. Muitas pessoas falam que foram vacinadas e tiveram reação, mas não há como dar reação, pois o vírus está inativo. Existem muitos tipos de vírus da gripe. Então às vezes pega um resfriado ou gripe, mas não é o mesmo vírus daquele da vacina. Muitas pessoas confundem isso”, garante a médica veterinária.

 

PLANEJAMENTO

Conforme Nayra, o mais demorado neste processo de produção de vacina contra Influenza é a preparação das aves. “São quase cinco meses somente de preparação das aves para iniciar a produção de ovos. Depois que começa a produzir, a sequência é rápida”, detalha. “O Ministério da Saúde faz esse planejamento de vacina com o Instituto Butantan, que solicita aos fornecedores de ovos. O planejamento é de no mínimo sete meses”, emenda.

Além disso, o maior medo dos fornecedores, que são os produtores de ovos, e do cliente, que é o Butantan, é haver uma doença sanitária capaz de impedir a entrega da produção e afetar o comprometimento na fabricação de vacinas. “Para isso, é feita uma estratégia de granjas backup para garantir o fornecimento dos ovos. Sempre se trabalha com essa segurança sanitária para garantir a entrega dos ovos”, ressalta.

 

GRIPE

A consultora avícola expõe que para a vacina de Covid os pesquisadores não têm utilizado ovos de galinha, pois há outros métodos que são mais eficazes dependendo do tipo de cada vírus. “A vacina contra Influenza usou neste ano três cepas diferentes. Não é só H1N1, que causou mais mortalidade por sua agressividade, mas tem outras cepas na mesma vacina, que são todas destinadas para combater a gripe humana”, diz.

De acordo com ela, a imunização contra Influenza foi importante, em especial neste ano, devido à circulação do coronavírus no país. Apesar de não proteger contra a Covid-19, a imunização auxilia os profissionais da saúde na exclusão do diagnóstico da gripe, já que os sintomas são parecidos, salienta.

 

O Presente

 

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