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Marechal História

Memória Rondonense completa 5º aniversário com acervo de dez mil imagens

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Coordenador do projeto Memória Rondonense, Harto Viteck: “Quando iniciamos, muitas pessoas me falavam que seria um projeto para idoso, que não teria a adesão de jovens. Hoje está se mostrando justamente o contrário. São os jovens que mais nos procuram para ser registrada a história dos avós, que chegaram aqui como pioneiros, ou outros fatos da família” (Foto: Joni Lang/OP)

Aos 69 anos, ele esbanja disposição ao desenvolver um hobby que transformou em trabalho, ou sinônimo de vida. Este é Harto Viteck, rondonense apaixonado por História e Geografia que dedicou grande parte de sua vida às pesquisas. Contudo, de uns anos para cá, isso se fortaleceu ainda mais, especialmente depois que ele criou o projeto Memória Rondonense, que culminou no lançamento de um portal, que hoje (23) completa o quinto aniversário.

Consolidado, o site Memória Rondonense virou xodó de muita gente em Marechal Cândido Rondon e região por manter viva a história do Oeste do Paraná, preservar as origens e servir de fonte de pesquisa aos que se interessam em conhecer mais sobre o passado. “Foram cinco anos de aprendizados, descobertas, de muita pesquisa e organização. Seguimos com nossa proposta de trabalho, que é não perder nenhuma curiosidade, nenhum acontecimento e nenhum dado da história de Marechal Rondon ou que esteja ligado ao cidadão rondonense”, enaltece Viteck ao O Presente.

Com um acervo de cerca de dez mil imagens, nem todas postadas no portal, o projeto tem grande respaldo junto à comunidade, que interage e contribui com informações e fotografias. “Quando iniciamos, muitas pessoas me falavam que seria um projeto para idoso, que não teria a adesão de jovens. Hoje ele está se mostrando justamente o contrário. São os jovens que mais nos procuram”, revela.

Em entrevista à reportagem, Viteck fala das pesquisas desenvolvidas, dos desafios, do reconhecimento pelo trabalho e dos projetos futuros. Confira.

 

O Presente (OP): Com a missão de preservar a história e servir de fonte de pesquisa a todos que se interessam em conhecer mais sobre o passado de Marechal Rondon, o portal Memória Rondonense completa o quinto aniversário amanhã. Quais foram as principais conquistas ao longo desses anos?

Harto Viteck (HV): Foi um período cheio de aprendizados, descobertas, de muita pesquisa e organização. Um fato que me chamou a atenção nestes anos foi a pré-colonização da Colonizadora Maripá, um período muito forte de economia na região, através das empresas argentinas que se estabeleceram por aqui. Em relação a Marechal Rondon, nós temos a presença da Companhia Matte Larangeira, que instalou o antigo Porto Mendes, que hoje está submerso nas águas. Foi muito forte a presença da empresa Porto Artaza, que também era um porto junto ao Rio Paraná, mais ou menos a 600 metros de Porto Mendes no sentido Sul. Era muito forte ali a presença do Julio Tomaz Allica (polêmico personagem da história local; obrageiro lendário pela riqueza e violência praticada na região de Porto Mendes) e a força dele na economia do Paraná, sendo que em 1920 o governador Afonso Camargo chegou a visitá-lo em Porto Mendes, no Porto Artaza. O Allica é um personagem que me interessa muito na pesquisa que estamos fazendo. Nossa proposta de trabalho é não perder nenhuma curiosidade, nenhum acontecimento e nenhum dado da história de Marechal Rondon ou que esteja ligado ao cidadão rondonense.

 

OP: Enquanto pesquisador e coordenador do Memória Rondonense, as expectativas desse projeto foram alcançadas ou superadas?

HV: O projeto sempre vai ter expectativas. Ainda não temos como dizer que aconteceu uma superação, porque você tem uma superação quando você conclui um projeto. O projeto Memória Rondonense tem uma proposta de trabalho inconclusiva, porque as pesquisas são constantes e sempre vai ter material para buscar em fontes primárias, secundárias e colocar nos arquivos e compartilhar.

 

OP: Quais foram as principais dificuldades nesse tempo de atuação? Quais continuam existindo? Ou não há dificuldades?

HV: Todo projeto tem dificuldades, principalmente no começo, porque você tem que ter base para fazer, além de muito empenho e trabalho, bem como recursos. Nós temos um compromisso muito grande com a seriedade. Precisamos de tudo com referência, tudo documentado. Não se faz nada sem ter uma referência de que aquilo que você está postando tem procedência. Esse é um trabalho que a gente tem sempre dificuldades e vai continuar tendo. Faz parte do nosso dia a dia lidar com essa situação. Além disso, o projeto precisa de apoio financeiro para vigorar, fortalecer as pesquisas. Esse é um drama. Então, estes apoios são sempre bem-vindos.

 

OP: O site iniciou suas atividades em 2015 com a colaboração de uma equipe de cinco pessoas. Atualmente, quantos formam a equipe do Memória Rondonense?

HV: A equipe continua a mesma. Cinco pessoas ficam na coordenação. Temos um número grande de colaboradores em Toledo, Cascavel e Curitiba. Tem pessoas de Foz do Iguaçu que nos ajudam e de outras cidades que, às vezes, eu me dirijo para pedir colaboração para determinado assunto, mas a equipe-base continua a mesma.

 

OP: Quem é parceiro nas pesquisas e na divulgação? Além de pessoas, há entidades e instituições?

HV: Não temos parcerias diretas com instituições e entidades. Procuramos algumas para abordar determinados assuntos, mas a colaboração constante e diária não existe. Todavia, sempre conseguimos grande apoio das instituições que procuramos, de pessoas de conhecimento maior do que a gente para determinar uma opinião, nos passar um conhecimento sobre determinada área ou assunto ou alguma ação no sentido de instruir, algum tópico histórico para fundamentar melhor; essa colaboração é constante.

 

OP: O site tem cunho comercial ou é meramente voltado à cultura?

HV: É meramente voltado à cultura. As inserções publicitárias que temos ali são exclusivamente para pagar as despesas do site, do projeto. Temos aí uma participação muito positiva de empresas no custeio desse projeto e eu quero agradecer a essas empresas que começaram com a gente e permanecem até hoje, pois nos dão uma ajuda tremenda para tocar o projeto.

 

OP: O Memória Rondonense comemorou em 2016 seu 1º aniversário com 165 mil horas de acesso/mês. Atualmente, qual é a média mensal de acessos?

HV: Varia muito. Temos agora este momento de pandemia, em que avalio que até tenha diminuído um pouco, porque é um período sem aulas presenciais, o que influencia em termos de visitas para pesquisas, para trabalhos. Então, oscila, mas não muito. Permanece estável, ora com mais acessos, ora com menos acessos.

 

OP: Qual o perfil de publicação que mais rende acesso?

HV: Principalmente informações antigas relacionadas, por exemplo, à Matte Larangeira, à Colonizadora Maripá, ao Allica e também à morte de personagens que ajudaram a construir a nossa história. Esses são os mais procurados, mais acessados.

 

OP: O principal atrativo do site é o acervo fotográfico. Quando o projeto foi iniciado, eram três mil imagens. Hoje, qual é o acervo do portal?

HV: Hoje o acervo tem cerca de dez mil imagens, mas nem todas estão postadas. Estamos trabalhando o acervo (três mil fotos) que nos foi passado pela senhora Írica Kaefer, que foi uma das primeiras fotógrafas de Marechal Rondon. Está sendo digitalizado, mas o trabalho ficou um pouco prejudicado pela pandemia, porque não podemos nos reunir com a dona Írica para identificar o que cada foto contém, cada pessoa retratada. Temos ainda outro material para ser digitalizado e uma imensidão de documentos também.

 

Harto Viteck: “Informações antigas relacionadas à Matte Larangeira, à Colonizadora Maripá, ao Allica e também à morte de personagens que ajudaram a construir a nossa história são as mais procuradas” (Foto: Joni Lang/OP)

 

OP: O senhor recebe muito conteúdo? De que maneira? E-mails ou ligações de pessoas que querem colaborar cedendo informações e material?

HV: Os dois veículos de maior contato com as pessoas são Facebook e e-mail. Telefonemas são poucos. WhatsApp pesa muito também.

 

OP: Qual é o perfil do público que mais colabora com o site: idosos, jovens, homem, mulher, pessoas ligadas a universidades?

HV: Quando iniciamos, muitas pessoas me falavam que seria um projeto para idoso, que não teria a adesão de jovens. Hoje está se mostrando justamente o contrário. São os jovens que mais nos procuram para ser registrada a história dos avós, que chegaram aqui como pioneiros, ou outros fatos da família, porque querem que isso fique para sempre arquivado. Essa é a finalidade do projeto: guardar e preservar a história da nossa região ou daquilo que é pertinente ao rondonense.

 

OP: As pessoas interessadas em contribuir com o site, enviando fotos, informações ou outros materiais, devem proceder de que modo?

HV: No site há um link que se chama contato. Ali a pessoa pode nos enviar mensagem, o que ela tem para oferecer ou para pedir. Temos também a página do Facebook, que a pessoa pode manter contato.

 

OP: O senhor observa que, depois de anos de atividades, este trabalho de resgate/reconstrução do passado é reconhecido pela sociedade local e regional? Acredita que este reconhecimento vai melhorar ainda mais com o passar do tempo? 

HV: Estamos em um período de construção e à medida que essa construção vai evoluindo, o reconhecimento da sociedade vai ser maior. Nesses cinco anos, temos cada vez mais pessoas reconhecendo o nosso trabalho. Hoje, esse trabalho já extrapolou Marechal Rondon, porque trazemos muita coisa de Toledo, Cascavel e, principalmente, de Foz do Iguaçu. O pessoal valoriza o trabalho que estamos realizando, pelo contato que fazemos com as pessoas e também pelo contato que recebemos. Já tivemos muitos contatos, de diferentes regiões e Estados brasileiros, além da Polônia, da Argentina, Paraguai, onde aconteceu a colonização de brasileiros, hoje brasiguaios. Quando fazemos determinadas postagens, recebo muita mensagem inbox fazendo sugestão e reconhecendo aquilo que foi postado. A cada momento vemos que estamos expandindo e ganhando reconhecimento pelo trabalho que fazemos. Acho que é o único site em nível de Brasil que tem esse método e proposta de trabalho.

 

OP: Nestes cinco anos de atividades, o que mais lhe marcou como coordenador do projeto Memória Rondonense?

HV: O que me marca é o período de pré-colonização da Maripá, a presença forte no Oeste do Paraná de empresas argentinas. No tocante a Marechal Rondon, esse forte interesse me despertou a estudar com bastante afinco a empresa Matte Larangeira e o Julio Tomaz Allica. Avançamos muito nessas pesquisas, com a colaboração de muitas pessoas, principalmente nas viagens que fizemos a Posadas (Argentina), onde descobrimos muito desse personagem. Eu sempre brinco que o Allica é meu ídolo para estudar, é a esfinge que quero pesquisar, porque tão pouco se sabe dele. Hoje muitos historiadores falam dele como uma figura polêmica, de barbárie. Só que as publicações de quem esteve com o Allica em Porto Mendes falam dele ao contrário. Outra coisa que me interessa muito é o que o Allica fez, por exemplo, na negociação com o Governo do Estado para compra das áreas em Porto Mendes e nas margens do Rio Piquiri, que não é nada mais que a Central Santa Cruz na região (atual município de Cafelândia). Essas duas áreas ele negociou em 1908 com o compromisso de alargar a picada de Porto Britânia (Pato Bragado) até as margens do Rio Piquiri, para tornar essa picada carroçal e cobrar pedágio. Depois, ele abriu um caminho que era a estrada de Porto Mendes até a Central Santa Cruz, que se estendeu além do Rio Piquiri. Ao estudar e ler as publicações do jornal A República, de Curitiba, da década de 1915 a 1920, você encontra uma referência, uma notícia distribuída pelo Governo do Estado em relação à estrada, à via de comunicação do Paraná com o Mato Grosso do Sul, com a seguinte anotação: “O Estado rompe um contrato com a empresa Cello Weiss, que foi encarregada de construir o caminho de Catanduvas até Guaíra. Mas, essa empresa teve problemas e, dentro da nossa pesquisa, ela só construiu o trecho de Catanduvas, onde passava o antigo caminho Curitiba e Foz do Iguaçu ou Guarapuava/Foz do Iguaçu e ligava para cá. Então, essa empresa Cello Weiss construiu de Catanduvas à Central de Santa Cruz. Dentro dessa nota informativa, o governo diz que existe já um caminho aberto de Central Santa Cruz até Porto Artaza, sempre colocando que isso era Porto Mendes, e que também existia já um caminho aberto do Alto Rio Paraná, hoje a cidade de Guaíra, até Porto Mendes, pela Matte Larangeira. Na mesma nota, informa também que o governo encampa esse trecho construído pela Cello Weiss e paralisa o projeto ali, em vista de que já existe uma estrada entre Central Santa Cruz e Porto Artaza, que vai a Guaíra, e que neste trecho, inclusive, já passaram tropas de gado bovino vindo do Mato Grosso para as fazendas de Guarapuava. O que era o antigo caminho Allica, que muitas vezes a gente pisa e não conhece? A nossa Avenida Rio Grande do Sul é parte do antigo caminho do Allica até a Central Santa Cruz e depois, além do Rio Piquiri, saía de Porto Mendes, vinha para Bom Jardim e em Iguiporã, que continua o mesmo caminho. A única coisa que alterou um pouquinho foi em Curvado, na Linha Ajuricaba, e antes da Linha Curvado, caminho de Porto Mendes, mas depois o caminho segue o velho traçado que o Alicca fez para construir essa rodovia. O caminho é conhecido dentro da história como caminho do Allica. Então, esse é um tema que me encanta estudar e vou continuar a pesquisar.

 

OP: Em setembro do ano passado, ao completar quatro anos de atividades, o Memória Rondonense ampliou sua atuação com um projeto de caráter internacional, com pesquisas sobre as obrages de Nunêz Y Gibaja, que existiam na região do Lopeí, entre Toledo e Cascavel; e de Puerto Artaza, que havia na região do distrito rondonense de Porto Mendes e era de propriedade do mítico Julio Tomaz Allica. O senhor, juntamente com outras pessoas, chegou a viajar para a Argentina em busca de documentos e informações sobre a região do Rio Paraná, tanto no lado brasileiro como no paraguaio. Como anda este tipo de atividade? Houve outras missões do gênero? Há expectativa de novas viagens e pesquisas? Para quais lugares?

HV: Provavelmente vamos voltar a Posadas, onde temos a grande colaboração do professor da universidade da área de História, doutor Alberto Daniel Alcaráz, que tem fornecido um material muito importante. Inclusive, o site tem publicações desse professor que falam do baixo Paraná, que é de nós até Guaíra a Foz do Iguaçu, a presença das empresas argentinas, começando no final das décadas de 1800 e adentrando muito nas primeiras décadas de 1900. Esse é um tema recorrente das nossas pesquisas e, possivelmente, vamos voltar à Argentina. Há um museu muito importante em Posadas que aborda a questão da navegação, que é um tema que vamos explorar em breve.

 

OP: Há alguma novidade prevista para o site? Algum novo projeto em vista, alguma mudança em layout, produção de materiais, equipe ou algo do gênero?

HV: Foi difícil criar o site porque não encontramos nenhuma referência ou similaridade em projetos desse sentido. Ele ainda está deficiente em alguns aspectos. Agora vamos trabalhar em um novo projeto em termos de mídia para superar essa dificuldade. O objetivo sempre é melhorar, tornar mais fácil o acesso e ter o maior conteúdo possível.

 

OP: O senhor é um apaixonado declarado por História e Geografia e dedicou grande parte de sua vida às pesquisas. Que avaliação faz até aqui de todas as sementes plantadas neste âmbito?

HV: Sempre gostei de História. Trabalho com História acho que a vida inteira. Nos últimos anos, esse espírito tem se fortalecido. Especialmente dos anos 90 para cá. Acho que a minha maior contribuição é para o conhecimento histórico das pessoas, também para recordação. A pessoa vai lá e vê a foto e aquilo traz boas lembranças. Mas a premissa do projeto é oportunizar conhecimento histórico e cultural.

 

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