Fale com a gente

Marechal Preços "salgados"

Postos de combustíveis de Marechal Rondon registram queda no movimento

Publicado

em

(Foto: Bruno de Souza/OP)

Ir e voltar do trabalho, passear no fim de semana e cumprir os destinos que a rotina impõe estão cada vez mais na ponta do lápis quando os trajetos precisam ser feitos de carro. De reajuste em reajuste, que se avoluma mês após mês, o combustível está cada vez mais “salgado” para o bolso do consumidor. Tanto que muitas pessoas não podem mais se dar ao luxo de circular com seus veículos todos os dias. Buscando economizar, têm priorizado outros meios de locomoção.

Apesar de os repasses acontecerem, na maioria dos casos, em percentuais menores que uma dezena, o acumulado de 2021 é significativo. “O combustível está 40% mais caro hoje do que no dia 1º de janeiro”, relata ao O Presente o gerente comercial da Rede Gmaxx, Djaeimes Darrem Glaser, que administra postos de combustíveis em Toledo, Marechal Cândido Rondon, Mercedes e Guaíra.

Gerente comercial da Rede Gmaxx, Djaeimes Darrem Glaser: “Há quem diga que os postos nadam em dinheiro com esses preços, mas acaba sendo prejudicial. Se o produto está caro você tende a economizar, pensa duas vezes antes de sair de casa ou vai de bicicleta” (Foto: Divulgação)

 

OSCILAÇÃO CONSTANTE

Em ritmo contínuo, Glaser diz que o que dita a variação nos preços dos combustíveis são os valores do petróleo americano e europeu, simultaneamente ao dólar. “A Petrobras acompanha o mercado internacional e executa seus reajustes a partir daí. Por exemplo, o preço do petróleo registrou queda na semana passada e a Petrobras tem margens para abaixar”, comenta, pontuando que a nova direção da estatal, ao contrário da antiga, tende a esperar uma estabilização do cenário internacional para então alinhar os preços.

Devido aos diversos aspectos que norteiam os valores dos combustíveis, o gerente considera pouco provável a estabilização dos preços. “Analistas dizem que até final do ano o preço do barril do petróleo bateria US$ 100 e o dólar R$ 4,70. Com a política da Petrobras de acompanhar o cenário internacional, essa previsão, se consolidada, afetaria drasticamente os preços ao consumidor. Agora o barril está batendo a casa dos US$ 60, com o dólar em R$ 5,34. É um cenário incerto e difícil de prever a longo prazo, porque qualquer sinal no mercado em nível mundial impacta diretamente nos preços”, considera, indicando que as ações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) também ditam as condições desse mercado.

 

REAJUSTES ÀS DEZENAS

Conforme o acompanhamento realizado pelo diretor administrativo do Posto Trovão Azul em Marechal Rondon, Jean Zimermann, os principais combustíveis não tiveram menos que dez reajustes desde o início de 2021. “Na gasolina foram 11 reajustes, no etanol 16 e 12 no diesel somente neste ano. Comparando os preços, a gasolina estava R$ 4,59 no início de 2021 e agora está R$ 5,69, aumentou mais de R$ 1 por litro. O etanol estava R$ 3,19 no começo do ano e agora está em R$ 4,49, sendo R$ 1,3 mais caro. O diesel custava R$ 3,46 e agora está saindo por R$ 4,3”, detalha, reiterando que os preços dos combustíveis no Brasil seguem, desde 2016, as oscilações dos países mais desenvolvidos.

Ele lembra que no início da pandemia os preços tiveram uma grande redução. “O petróleo saiu de US$ 70 em dezembro de 2019 e foi a US$ 20 em março do ano passado. Os preços só não baixaram mais porque o dólar subiu nesse mesmo período. Da mesma maneira que oscilou para baixo no ano passado, neste ano o petróleo voltou aos antigos patamares, visto que as demandas se normalizaram”, menciona.

Em relação aos períodos e às oscilações, Zimermann considera que a alta não é tão grande se comparada com antes da pandemia, porque os preços já estavam altos. “Se comparar com o preço no meio da pandemia, a alta foi grande”, enfatiza.

Diretor administrativo do Posto Trovão Azul, Jean Zimermann: “Na gasolina foram 11 reajustes, no etanol 16 e 12 no diesel somente neste ano. Comparando os preços, a gasolina estava R$ 4,59 no início de 2021 e agora está R$ 5,69, aumentou mais de um real por litro. O etanol estava R$ 3,19 no começo do ano e agora está em R$ 4,49, sendo R$ 1,3 mais caro. O diesel custava R$ 3,46 e agora está saindo por R$ 4,3” (Foto: Divulgação)

 

PRODUTO GLOBALIZADO

Para o proprietário dos postos Tonin, empresário Marcos Tonin, a tendência é que os preços dos combustíveis subam ainda mais. “O combustível é um produto globalizado, assim como soja, carne, ferro, cimento e outros. O agronegócio é vinculado ao dólar e, do mesmo modo, subindo a moeda sobe o petróleo. O preço do barril está subindo e não vejo perspectiva de baixar”, analisa.

Devido aos frequentes aumentos, ele diz ter constatado queda no movimento. “A tendência do preço é sempre estabilizar. Acho muito difícil diminuir”, opina.

Proprietário dos postos Tonin, empresário Marcos Tonin: “A tendência é que os preços dos combustíveis subam ainda mais. O combustível é um produto globalizado, assim como soja, carne ferro, cimento e outros. O agronegócio é vinculado a dólar e, do mesmo modo, subindo a moeda sobe o petróleo” (Foto: Divulgação)

 

ABASTECER ETANOL COMPENSA?

Assim como os demais combustíveis, o etanol também acumulou reajustes neste ano e, além disso, se aproveitou da alta nas commodities, tornando-se uma opção não tão viável como outrora, salienta o diretor administrativo do Trovão Azul. “O etanol tem uma variável diferente. Reage ao dólar também, mas majoritariamente à safra da cana-de-açúcar. Como as commodities agrícolas estão em alta, não compensa para as usinas fazer etanol e, com isso, seu preço nunca esteve tão alto”, destaca.

Mesmo finalizando a safra da cana-de-açúcar, Zimermann relata que o preço do etanol não caiu como geralmente ocorre nesse mesmo período. “Está mais vantajoso fazer açúcar, o que encarece o etanol. Quem tem o etanol como opção para abastecer olha o preço da gasolina e nem sempre é uma escolha óbvia, pois ambos ocupam patamares quase equivalentes”, aponta.

Tonin acrescenta que o etanol está pouco mais barato, porém, como acompanha a gasolina, optar por ele a longo prazo não resulta em vantagens.

 

“NADANDO EM DINHEIRO”

Os altos preços nos combustíveis não correspondem a um lucro maior aos postos de combustível, ressalta Zimermann. “Há quem diga que os postos nadam em dinheiro com esses preços, mas acaba sendo prejudicial. Se o produto está caro você tende a economizar: pensa duas vezes antes de sair de casa ou vai de bicicleta”, exemplifica Glaser, acrescentando que os pedidos para completar o tanque se tornaram raros: “O consumo cai e as margens para o posto são as mesmas, uma vez que com um produto caro o consumidor tende a consumir menos”.

O gerente comercial da Rede Gmaxx reforça que, mesmo com preços crescentes, a margem dos postos tende a ficar igual. “Aumenta em centavos, mas os custos sobem em porcentagem. O ideal é preço baixo, que requer menor capital de giro, e as pessoas vão consumir mais”, enfatiza.

Tonin destaca que, além de não haver vantagens com os preços altos, a situação fica mais complicada para os postos. “Dobra o capital de giro e o risco de inadimplência é maior”, observa.

 

REMEDIADORES

Empresários do setor consideram que os principais vilões do preço dos combustíveis são os impostos estaduais e a falta de concorrência gerada pelo monopólio da Petrobras. “Governos estaduais deveriam rever o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), porque é um efeito dominó que, semanalmente, encarece o preço na bomba”, opina Glaser.

No Paraná, exemplifica Zimermann, o tributo sob a gasolina é de 29%, o que pesa no final das contas. “O que precisa mudar é a carga tributária, porque, tirando os impostos, a gasolina e o diesel têm o mesmo preço dos Estados Unidos. A margem do imposto é maior que o lucro bruto do posto, da distribuidora e da Petrobras”, lamenta.

O empresário dos Postos Tonin considera que a logística também prejudica os preços praticados no setor. “O problema do preço do combustível não está no preço do petróleo, porque sai da refinaria a R$ 2,5, mas os impostos aplicados são altos. O preço ganha dimensão, mais ainda com a distribuição, transporte e pedágio. É uma situação alarmante e complicada, mas ninguém tem coragem de baixar o imposto e o consumidor paga a conta”, evidencia.

Hoje, somente a Petrobras refina petróleo no Brasil e, na visão do diretor administrativo do Posto Trovão Azul, a abertura do mercado beneficiaria o setor. “Se acontecerem as vendas das refinarias, o mercado de combustível deve mudar muito. Hoje os postos têm muita concorrência no país, mas distribuidoras grandes são só três e quem refina o petróleo é só uma. Precisamos de mais competitividade. Sabemos que quanto mais players há o mercado tende a baixar os preços a longo prazo”, expõe.

 

FUTURO DO PETRÓLEO

Com os combustíveis mais caros, o futuro do petróleo e seus preços são colocados em xeque. Mesmo que o movimento caia com preços em alta, uma ruptura total com os combustíveis fósseis não está na perspectiva dos gestores dos postos.

Para Glaser, o setor de combustíveis fósseis só deve sofrer mudanças mais perceptíveis em longo prazo. “O petróleo não vai sair do mercado tão fácil. As mudanças vêm acontecendo, mas é uma questão de longo prazo. Sou realista nessa questão e a chave não vai mudar repentinamente. Os postos não vão acabar, mas, sim, se adaptar a novos ambientes”, considera.

O diretor do Posto Trovão Azul demonstra preocupação com problemas ainda não solucionados dos carros elétricos, alternativas que podem pôr fim aos combustíveis fósseis. “Esses veículos têm autonomia baixa e há a questão de o que fazer com as baterias. Aparentemente, vão trocar a queima de combustíveis fósseis pelas muitas baterias que ficarão sem destino, porque duram pouco. Não acho que essa geração terá o domínio de carro elétrico no Brasil, talvez na próxima”, projeta, ampliando que talvez a “alternativa mais viável seja o investimento em veículos de etanol, combustível verde que já existe”.

 

O Presente

Clique aqui e participe do nosso grupo no WhatsApp

Copyright © 2017 O Presente