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Marechal Viralizou

Pulei Rondon agrada, ganha popularidade e vira canal de denúncias

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(Foto: Sandro Mesquita/OP)

Um perfil do Instagram (rede social on-line de compartilhamento de fotos e vídeos) idealizado por dois soldados da Polícia Militar da 2ª Companhia de Marechal Cândido Rondon ganhou milhares de seguidores em pouco tempo e está chamando a atenção de muitos rondonenses.

O objetivo inicial, segundo os idealizadores, era mostrar a rotina profissional dos policiais, mas, com o passar do tempo, a ferramenta ganhou outros rumos e se tornou um canal de denúncia.

O perfil foi criado em março deste ano e em menos de sete meses conseguiu atrair mais de cinco mil seguidores. Atualmente, a média diária é de 40 novos seguidores.

As publicações feitas no perfil costumam usar a linguagem utilizada no meio policial e geralmente possuem uma pitada de humor, como essa, publicada em 18 de março: “O Caverão está de volta, terror das motos pizera (veículos com inúmeras irregularidades). Essa VTR (viatura) pega mais que coronavírus. Se você tiver na errada e ela passar do seu lado, acredite, você vai #pular e muito provavelmente aparecer nessa rede social”.

Fábio Fockink, ou policial Fábio, como é chamado, é o administrador da página e o responsável pela seleção dos conteúdos enviados pelos seguidores.

 

Como surgiu a ideia?

O santa-helenense reside em Marechal Rondon desde o ano passado e foi durante um patrulhamento pelas ruas da cidade, em companhia do soldado Natan Gomes Machado, que surgiu a ideia de criar o perfil no Instagram.

Em relação ao nome da página “Pulei Rondon”, Fockink explica que é um termo utilizado para se referir a alguém que foi multado e/ou teve o veículo apreendido. “É uma expressão usada para quem foi punido porque cometeu alguma infração, por exemplo”, menciona.

De acordo com ele, a iniciativa foi inspirada em perfis semelhantes existentes em todo o Brasil e que também são administrados por policiais. “Criamos o perfil no Instagram e começamos a postar as fotos para mostrar a rotina das ocorrências na nossa visão. A gente dá a nossa opinião, a nossa versão, porque, muitas vezes, a nossa versão não é ouvida”, enaltece.

 

Quebrando paradigmas

Conforme o policial, ainda existe uma referência errônea a respeito da relação entre a comunidade e os policiais. “As pessoas têm muito aquele paradigma ‘polícia lá e eu aqui’, ‘só quero ter contato com a polícia quando precisar dela’”, diz.

Para ele, o distanciamento entre a população e a comunidade é prejudicial para ambos os lados. “Por isso, o nosso foco é mostrar para as pessoas que somos cidadãos comuns, que temos família, que somos pais, vizinhos, para, assim, as pessoas perceberem que podem conversar com a polícia não somente na parte de segurança”, ressalta.


Policial militar Fábio Fockink, um dos idealizadores do Pulei Rondon: “O Pulei Rondon veio para ajudar a comunidade, prestigiar e exaltar a atuação da PM. Queremos que as pessoas sintam-se confiantes para vir conversar com a gente, para, assim, darmos o melhor atendimento” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Repercussão

Fockink afirma que o propósito inicial era mostrar a rotina e o desempenho da equipe policial. “Não esperávamos essa repercussão. Deu uma reação em cadeia e a galera começou a compartilhar e seguir o Pulei Rondon”, destaca.
Segundo ele, em apenas uma semana quase duas mil pessoas começaram a seguir o perfil no Instagram. “E agora estamos com um podcast no YouTube. Convidamos personalidades da cidade para bater papo sobre diversos temas”, informa.


Estacionar em fila dupla é uma infração grave e causa a perda de cinco pontos na CNH e multa de R$ 195,23 (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Resultados

Em virtude da repercussão, evidenciada através dos inúmeros vídeos e fotos enviados pelos seguidores, o propósito do perfil ganhou outras direções. “Mais policiais gostaram da ideia, começaram a mandar imagens das ocorrências e assim o negócio começou a ganhar volume. Perceberam que podemos participar mais na sociedade”, salienta.

Fockink conta que já foi abordado por pessoas na rua para relatar infrações de trânsito. “Já fizemos muitas apreensões de veículos através de denúncias relatadas por conta da repercussão do Pulei Rondon”, relata.
Segundo ele, os resultados são positivos e demonstram o estreitamento da relação com a comunidade. “Já realizamos até a prisão de pequenos traficantes, aqueles que vendem drogas diretamente aos usuários”, expõe.


Estacionar o veículo no passeio, faixa de pedestre, ciclovia ou ciclofaixa é uma infração considerada grave, gera multa de R$ 195,23 e cinco pontos a menos na CNH (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Canal de denúncia

A ferramenta que inicialmente era para mostrar o dia a dia dos policiais acabou se tornando um canal de denúncia, mas, apesar de a iniciativa ter a melhor das intenções, será que o fato do denunciante estar se identificando, mesmo que de maneira “off-line”, pode causar algum risco a ele?

O policial idealizador do “Pulei Rondon” garante que não. “Eu passo essa segurança para os seguidores de que somente eu faço a gestão da página e nenhuma outra pessoa terá acesso ao que for enviado”, evidencia.
De acordo com o soldado, quando chega alguma denúncia mais complexa, que exige investigação, o denunciante é orientado a procurar os canais oficiais da PM ou da Polícia Civil. “O canal oficial da PM é o 190 e o 181 é o disque-denúncia”, informa.

Conforme Fockink, nas imagens publicadas sempre é preservada a identidade das pessoas envolvidas e as placas dos veículos. “Quando as pessoas mandam as fotos eu salvo esse material para me resguardar o direito de que não fui eu que fiz aquela imagem. Mas geralmente as pessoas marcam e a gente compartilha”, explica.

A maioria das imagens ou vídeos enviados por internautas, segundo o militar, são situações relacionadas a delitos de trânsito, sendo o campeão estacionar o veículo em local proibido.

Fockink diz que geralmente não é possível notificar os infratores no momento da infração, por isso, as imagens são postadas como forma de orientar os motoristas. “Recebo cinco ou seis mensagens por dia de pessoas dizendo que pararam de estacionar errado porque não querem aparecer no Pulei Rondon”, relata.


Estacionar o veículo afastado demais da guia da calçada pode ser considerada uma infração leve (R$ 88,38) ou grave (R$ 195,23), com a perda de três a cinco pontos, respectivamente, na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O valor e os pontos perdidos variam conforme a distância em que o veículo ficou do meio-fio (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Sem vínculo com a PM

A página não é institucional, portanto, enfatiza o soldado, não tem vínculo oficial com a Polícia Militar (PM). “Nós nunca falamos em nome da instituição e, sim, em nome do próprio policial”, enfatiza.

De acordo com ele, o perfil criado pelos policiais é uma forma de enaltecer o trabalho da PM. Fockink afirma que muitas pessoas mudaram o conceito em relação à Polícia Militar. “Tenho depoimentos de pessoas dizendo que passaram a admirar o trabalho da PM depois de ter conhecido o nosso perfil”, compartilha.

 

O que diz a PM

Em nota, o Subcomando do 19º Batalhão da Polícia Militar de Toledo afirma que “a Polícia Militar do Paraná não possui vínculo com sites ou canais independentes e que todas as manifestações da corporação se dão por canais oficiais da própria PM”.

Ressalta ainda que “a Polícia Militar do Paraná é defensora da liberdade de expressão, destacando que todos devem exercer este direito com responsabilidade”.

 

Denunciantes devem ter cuidados para evitar implicações judiciais

A reportagem de O Presente conversou com o advogado Luciano Caetano para saber quais cuidados devem ser tomados para evitar implicações judiciais ao fazer publicações em redes sociais, com caráter de denúncia.
“Todo cidadão tem direito de fazer denúncias, ter suspeitas, o que é incentivado pelo Estado e não é, em regra, punível civilmente, mesmo que a suspeita tenha sido equivocada”, pontua.

No entanto, Caetano alerta que as publicações devem ser feitas com muita cautela, observando a real necessidade de divulgação. “É importante destacar que não apenas a pessoa que divulga, mas aquela que também reproduz o material ou faz comentários danosos podem ser responsabilizadas, tanto civilmente como criminalmente”, ressalta.
Segundo ele, o que deve ser observado em cada publicação é o interesse público que isso representa.

“Muitas vezes, acaba havendo certa distorção nesse ponto. Por exemplo: uma pessoa expõe outra em suposto cometimento de crime, taxando de ladrão e divulgando imagens do suspeito levando certos objetos que estão depositados em frente à sua casa. Imagine que essa suposta vítima tenha a identificação da pessoa que apanhou os objetos. O mais cauteloso, neste caso, é apenas noticiar o crime à polícia para que o suposto criminoso dê suas explicações, pois poderia alegar, hipoteticamente, que acreditou que os objetos eram para doação, reciclagem, etc”, exemplifica.

De acordo com o advogado, são muitas as situações em que a pessoa busca alertar a população em geral sobre determinado suspeito ou tenta, dentro do interesse público, identificá-lo. Contudo, existem diversas formas de isso ocorrer: em uma situação em que alguém, percebendo a presença de uma pessoa estranha na vizinhança, posta em alguma mídia social a foto do indivíduo perguntando aos vizinhos se alguém o conhece. “Uma publicação do tipo: alguém conhece essa pessoa? Esse cara está rodando a vizinhança, fiquem alertas! É uma maneira bem menos danosa”, orienta.


Advogado Luciano Caetano: “Todos têm direito à informação e à manifestação, entretanto, serão responsáveis pelos eventuais danos que essas informações e manifestações podem causarem” (Foto: Divulgação)

 

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