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Marechal Momento histórico

“Vacina da Covid-19 representa uma conquista inigualável”, enaltece doutor Hipi

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Médico anestesista e diretor Hospital Rondon, Dietrich Rupprecht Seyboth (doutor Hipi), em visita ao Jornal O Presente: “Em Marechal Rondon, a vacinação dos grupos de risco deve acontecer até o final do ano. Para todo mundo receber, não só falando do município, deve levar dois anos” (Foto: O Presente)

Vacina. Do latim vaccinus, que significa “derivado da vaca”. Para todo o mundo, uma salvação. É com esse pensamento que a população mundial, e agora também o Brasil, recebe as primeiras doses do imunizante contra o coronavírus.

Do fim do século XVIII até aqui, muita coisa se passou para que as vacinas evoluíssem de uma inoculação de pus contaminado por varíola de vaca para as modernas tecnologias de hoje. Edward Jenner, aquele que registrou a primeira vacina que se tem notícia, quiçá não imaginou que um dia algum imunizante seria elaborado no tempo recorde com que vislumbramos hoje: em um esforço global, as primeiras vacinas com eficácia comprovada foram produzidas em menos de um ano.

No Brasil, as expectativas chegaram ao ápice na tarde de domingo (17), quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso emergencial das vacinas Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac, e AstraZeneca, produzida pela Fiocruz e desenvolvida pela Universidade de Oxford. Desde então, em uma mobilização nacional, Estados e municípios têm recebido insumos e o imunizante, dando início à vacinação já na tarde de ontem (18).

Há 48 anos na medicina, o médico rondonense Dietrich Rupprecht Seyboth, conhecido como doutor Hipi, resume o sentimento que essa vacina representa: “Esperança. Esperança de que vamos conseguir vencer essa tragédia que, com certeza, vai repercutir nos próximos milhares de anos na humanidade. A vacina da Covid-19 representa uma conquista inigualável em termos de produção científica na história da medicina até agora, porque levou menos de um ano para termos várias opções de imunizantes, quando normalmente se leva de seis a 12 anos para ter uma vacina eficaz. Essa produção de vacinas é uma realização sem precedentes na história da Medicina”, considera ele, que atua como médico anestesista no Hospital Rondon desde 1974.

Apesar de não ser especialista na área em questão, o profissional de saúde opina com conhecimento de quem atuou na medicina em um período em que as vacinas não eram tão populares. “Não era todo mundo que se vacinava, não havia essa popularidade. Eu vi muitas doenças que os médicos de hoje só veem nos livros. Tratei crianças com coqueluche, que tossiam até sufocar e, por vezes, morriam. Mas isso não existe mais. Eu vi sarampo, rubéola, difteria, tétano, doenças que hoje não vemos mais, porque as vacinas as eliminaram”, relembra.

 

EFICÁCIA DA VACINA

O temor de muitos negacionistas é de que a rapidez da produção das vacinas contra o coronavírus prejudique sua eficácia. Para o doutor Hipi, a agilidade na produção é um resultado da evolução técnica. “Hoje a ciência médica está anos luz à frente da ciência dos últimos anos. O que fez com que a vacina fosse produzida tão rápido não foi somente a disputa política envolvida, mas é lógico que contribuiu de certa forma. O que mais propiciou essa rapidez, aliada à eficácia, foi a evolução técnica, pois sabe-se muito mais hoje do que se sabia antigamente”, expõe.

O objetivo da vacina, segundo o médico rondonense, é tornar o organismo humano ciente de que existe um inimigo com a “cara” do coronavírus. “Além de ciente, o organismo fica preparado para se defender e essa imunidade está sento feita por pelo menos cinco caminhos diferentes”, enaltece, exemplificando: “A Pfizer BioNTech, alemã e estadunidense, usa o mecanismo do RNA mensageiro. A também norte-americana Moderna usa outro mecanismo, mas também a partir do RNA. A vacina russa, Sputink V, usa outro mecanismo, o vetor viral, assim como a AstraZeneca/Oxford. A Coronavac/Sinovac, originária da China, usa o mecanismo mais comum que é o vírus morto, inativado”, detalha.

 

VACINAÇÃO

Partindo da vastidão tecnológica a partir da qual foi produzida, doutor Hipi menciona que quem for chamado para vacinação é privilegiado. “A pessoa tem que agradecer a Deus pela oportunidade de ser um dos primeiros”, exalta.

Na estimativa do médico, para que todos recebam a vacina deve levar em torno de dois anos. “Em Marechal Rondon, a vacinação dos grupos de risco deve acontecer até o final de ano. Não vai ter vacina para todo mundo antes disso por causa do descaso que é esse governo”, lamenta.

 

Médico rondonense Dietrich Rupprecht Seyboth (doutor Hipi): “Não acreditaram nos livros, mas, ao contrário, apostaram em medicamentos que não servem para nada (…). A atuação do governo Bolsonaro na condução da reação do país à pandemia foi um absoluto desastre” (Foto: O Presente)

 

CONTROLE DA PANDEMIA

Para que haja efeitos reais na pandemia, ele ressalta a importância de atingir a imunização de rebanho. “Precisa imunizar 70% da população para conseguir reduzir a propagação do coronavírus”, mensura.

Na opinião do profissional de saúde, mesmo com a vacina deve levar de três a quatro anos até que a pandemia de coronavírus seja controlada. “Provavelmente, depois da Covid-19 estar controlada vem outra pandemia e depois outra, assim sucessivamente, porque o desequilíbrio criado na natureza pelo excesso de pessoas, pelo consumo exagerado, pela utilização desenfreada de recursos naturais precisa ser compensado de alguma maneira. A natureza vai tentar voltar ao equilíbrio dela”, opina.

 

ORGANIZAÇÃO DESASTROSA

Como alguém que lida com a logística da saúde há bons anos, Hipi avalia o desempenho do governo federal em relação à pandemia de Covid-19 como negativo. “O negacionismo e a forma errática com que o governo federal se comportou e desestruturou a logística do processo de combate ao coronavírus dificultaram tudo. Não acreditaram nos livros, mas, ao contrário, apostaram em medicamentos que não servem para nada, além de minimizarem o efeito protetor de medidas sociais. Tudo isso foram intervenções do governo federal que tornaram difíceis e retardaram muito o controle da pandemia no Brasil. A atuação do governo Bolsonaro na condução da reação do país à pandemia foi um absoluto desastre”, critica.

 

“DEVERIA SER OBRIGATÓRIO”

Comparando a medicina atual, com vacinas disponíveis para várias doenças, com a de outrora, quando a imunização era impopular, o médico opina pela obrigatoriedade da vacinação. “Pessoalmente, acho que não deveria haver a opção ao indivíduo, por qualquer que seja a razão ou motivo, para decidir não ser vacinado. A não ser que tenha alguma patologia que contraindique a vacina, ele não tem o direito de se negar à imunização. Vou mais longe, sou a favor de que legalmente deveria ser obrigatório que toda pessoa em condições clínicas, sem contraindicação, seja vacinada contra todas as doenças transmissíveis, não só pelo coronavírus. A imunização ativa, obrigatória, deveria estar escrita na Constituição”, destaca.

Para ele, “existir alguém que, em sã consciência, renegue o benefício individual, social e coletivo da imunização é inaceitável”.

 

HERÓIS ESQUECIDOS

O rondonense louva aqueles que, na batalha contra a Covid-19, mantiveram-se à frente, salvaguardando a população. “Morreram muitos médicos por continuar trabalhando, principalmente quando lidaram especificamente com o coronavírus. Quem continuou trabalhando, se expondo e sabendo do risco, foi muito heroico”, enaltece.

Contudo, o profissional é direto quando questionado a respeito do quanto essa mobilização pode acrescentar na saúde pública daqui para frente. “Nada. Isso tudo vai ser esquecido como sempre foi. No meu ver, essa comoção só deve persistir enquanto persistir a pandemia. Depois tudo volta ao normal, porque os heróis são facilmente esquecidos. Bandidos não são esquecidos, mas no Brasil os heróis são esquecidos”, constata.

 

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