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Agroindústria conquista paladares, ganha fama e coloca Mercedes na Rota do Queijo do Paraná

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(Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

O queijo sempre esteve presente na vida de Patrícia Eger Stein, de 30 anos. O produto foi uma constante desde a infância até quando a mercedense conheceu seu marido e mudou o rumo de sua vida, passando a investir em uma agroindústria voltada a produtos lácteos.

Em um passo de ousadia, a família Stein abandonou a venda de leite aos laticínios e decidiu agregar valor à produção. Há três anos no mercado, a Leiteria Santa Fé conquistou espaço e já se tornou destaque estadual, uma vez que faz parte da Rota do Queijo do Paraná.

Em entrevista ao Jornal O Presente, Patrícia contou um pouco da trajetória da família nessa aventura empreendedora e revelou os planos para o futuro. Confira.

 

Em família

Vizinho dos sogros Maria e Wilson Stein, o casal Patrícia e Jeferson, bem como as filhas Amanda e Milena, moram na Linha Sanga Tupi, no interior de Mercedes. Por lá, a família tem um plantel de vacas leiteiras e produz leite integral, queijo e nata.

“Tanto eu quanto meu esposo sempre fomos envolvidos com gado de leite. Eu cresci vendo minha mãe tirando leite e fazendo queijo, mas naquele tempo fazia em pequena escala e vendia em casa mesmo. Quando a produção de leite aumentou ela precisou parar com a produção de queijos e vender o leite cru. No entanto, volta e meia ela fazia queijo para nós”, relembra Patrícia.

 

Tempo de incertezas

Até então, a mercedense nem sequer pensava em empreender, que dirá investir na produção de queijo. “Quando conheci meu marido ele trabalhava em um laticínio. Nós nos casamos e já começamos a mexer com gado de leite, primeiro junto com os meus pais e depois com os meus sogros. A vida foi passando e, em 2018, tivemos uma oportunidade de empreender na atividade”, conta.

A “mudança de rumo” se deu por meio da Associação dos Produtores Orgânicos de Mercedes (Apromer), que ofertou à família um pasteurizador em comodato. “Não sabíamos se daria certo e foram tempos de muitas incertezas até que um dia decidimos encarar. O que nos motivou foi a chance de mudar a nossa vida, porque o setor leiteiro sofre muito com as oscilações e nós teríamos um negócio próprio”, expõe.

O equipamento foi liberado em 2018 e a família se empenhou na construção da agroindústria, uma sala de 37 metros quadrados ao lado da casa do casal. “No dia 10 de março de 2019 começamos com a produção de leite e logo expandimos para queijo e nata, porque as pessoas pediam muito”, relembra.

 

300 kg de queijo/mês

O queijo que fazia parte da rotina da família mercedense era diferente do produto requerido pela agroindústria e a produção teve que se adaptar. “O queijo que minha mãe fazia era com leite cru e a gente faz com leite pasteurizado. Fomos testando até chegar nesse tipo de queijo e o pessoal aprovou”, enaltece ela, que hoje conquista paladares com o queijo frescal colonial.

Semanalmente, cerca de 600 litros de leite são transformados em 75 quilos de queijo. Mensalmente, a produção de queijo chega a 300 quilos, que são vendidos a R$ 28 o quilo, nas versões temperada e tradicional. A base de qualquer queijo, detalha a agricultora, é leite, coalho e sal. “O leite precisa ser de qualidade. Tem um ditado que diz assim: é possível fazer um queijo ruim com leite bom, mas é impossível fazer um queijo bom de um leite ruim”, salienta.

Além disso, são feitos 240 quilos de nata por mês e envasados quatro mil litros de leite na embalagem “barriga mole” (de pacote). O leite da Santa Fé tem espaço garantido na merenda escolar e na distribuição da Prefeitura de Mercedes, bem como em supermercados, comércios e diretamente nas casas. “A leiteria tem apenas o Serviço de Inspeção de Mercedes (Sim), o que impede a venda para outros municípios. Ainda assim, muita gente de fora experimenta, gosta e compra meus produtos quando está por aqui. Os meus queijos vão para praia e muitos lugares, só eu que não saio daqui”, brinca ela, acrescentando: “A comercialização está muito boa e a nossa marca tem ganhado espaço”.

Patrícia Stein está presente em todas as etapas da agroindústria: desde a ordenha e produção até entrega dos produtos: “Está indo de vento em poupa” (Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

 

Investimento no plantel

Diante da repercussão das vendas, a família decidiu ampliar os investimentos para a base da produção: os animais. “A lógica foi que não adiantava investir na agroindústria em si se não tivéssemos uma produção funcional. Quando tudo começou, a estrebaria era pequena e a ordenha era bem simples”, compara.

No primeiro ano de vida da agroindústria o investimento já “se pagou” e, então, os recursos foram direcionados ao plantel. “Hoje os animais estão confinados em sistema free stall. As vacas ficam em ambiente climatizado, cada uma em sua cama forrada com maravalha, tudo bem sequinho. Cada uma tem um colar de monitoramento e a qualquer sinal de doença ou perturbação vem um alerta no nosso celular. É bem moderno”, detalha Patrícia, pontuando que o objetivo é aumentar a média de leite e também a qualidade: “Você insemina hoje e só daqui alguns anos essa bezerra vai ser produtora. É um processo demorado, mas a gente pensa a longo prazo”.

 

Popularidade

A nova acomodação dos animais ganhou fama nas redes sociais e a Leiteria Santa Fé se popularizou pelo cuidado com as “vaquinhas”. “Quando a gente terminou a obra, começamos a postar as fotos dos animais e isso despertou a curiosidade das pessoas. Elas começaram a querer ver e visitar e nós passamos a atendê-las, conforme a disponibilidade”, conta.

De acordo com Patrícia, a Emater de Mercedes viu o movimento e encaminhou a família para integrar a Rota do Queijo do Paraná. O mapa turístico foi apresentado no final de 2021 e neste mês o projeto recebeu um roteiro informativo que divulga as 29 propriedades paranaenses incluídas no material. “Mesmo antes da Rota se consolidar a gente já recebia visitantes. Então, o movimento tende a aumentar”, prevê.

A Rota do Queijo Paranaense é uma iniciativa do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR, Iapar e Emater) e visa fortalecer o mercado das queijarias do Estado.

Além do destaque estadual, a Leiteria Santa Fé faz parte do projeto Queijos Finos do Biopark há cerca de seis meses e tem aproveitado a oportunidade para se aperfeiçoar. “Estamos em uma fase de análises da água e do leite. Até o final do ano pretendemos incluir um queijo fino nos nossos produtos, mas ainda estamos avaliando qual será”, revela.

Localizada na Linha Sanga Tupi em Mercedes, Leiteria Santa Fé é uma das 29 queijarias paranaenses incluídas na Rota do Queijo (Fotos: Raquel Ratajczyk/OP)

 

Trabalho de fé

A mercedense diz que o nome da agroindústria representa as provações que a família passou quando decidiu inovar no setor. “O que seria da gente se não fosse a nossa fé. De início, tínhamos muitas dúvidas e se não fosse a nossa fé poderíamos ter desistido. A leiteria mudou a nossa vida”, afirma, emocionada: “Está indo de vento em poupa. A gente entrega no comércio e também de porta a porta. Temos clientes muito bons e eu só tenho a agradecer”, frisa.

Todo o leite utilizado na agroindústria é proveniente das vacas da propriedade Stein. De acordo com a empreendedora, a produção ainda não consegue absorver todo o leite ordenhado, mas essa equação deve se equilibrar em breve. “A intenção é ainda este ano ampliar um pouco a agroindústria e estamos reunindo os recursos. Em todo caso, não adianta começar um novo produto se não teremos leite para fabricar. Para suprir essa demanda, esperamos colher os frutos do investimento nas vacas com o progressivo aumento da média de produção”, pontua.

Outra empreitada para o futuro da Leiteria Santa Fé é a conquista do selo Susaf (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte do Paraná), que possibilitará a venda para outros municípios. “Estamos fazendo a nossa parte, mas não depende só da gente. Estamos bem amparados e o município está nos ajudando nesse avanço”, assegura Patrícia, mencionando que é possível que a licença seja conseguida até ano que vem.

 

“Somos uma classe pouco valorizada”

Diante das consecutivas quebras de safra, a pecuária tem sofrido com elevados custos de produção e baixa remuneração. Agregar valor ao produto surge como uma opção para amortecer o impacto negativo do setor, avalia a mercedense. “Claro, precisamos ‘andar’ conforme o mercado, mas quando se produz também se controla a precificação. Ainda que o custo de produção esteja elevado, a agroindústria é uma vantagem”, salienta.

Ela ressalta que a criação de gado leiteiro mudou muito nos últimos anos, mas “há quem ainda pense naquela história de vaca amarrada ou no pasto. Com a tecnologia, hoje as coisas são diferentes, mais práticas e modernas. Sou formada em Pedagogia e decidi não seguir na carreira porque percebi o quanto a coisa evoluiu no campo”, considera.

Segundo a empreendedora, a pressão do mercado é acompanhada por esse desconhecimento sobre o funcionamento da lida com gado leiteiro. “Somos uma classe pouco valorizada, sempre à mercê. A gente entrega o produto, mas não sabe quanto vai receber. Isso deveria ser diferente. Muitas mais propriedades poderiam evoluir e acompanhar a inovação se o setor fosse mais valorizado”, opina.

Família Stein investiu no plantel pensando no futuro da agroindústria: vacas são criadas no sistema free stall (Foto: Raquel Ratajczyk/OP)

 

Leiteria Santa Fé se fortalece pelo trabalho da família Stein. Na foto, o casal Jeferson e Patrícia à esquerda e, à direita, Maria e Wilson. À frente, as pequenas Amanda e Milena são o futuro da queijaria (Foto: Divulgação)

 

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