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Apaixonados pela comunicação, pai e filho comandam a Tropical FM, uma das cinco melhores rádios comunitárias do Paraná

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Há 16 anos, Afonso e Diego Francener iniciaram a caminhada pela radiocomunicação, alimentando e compartilhando o fascínio pelas ondas da Rádio Tropical FM de Quatro Pontes. Através da frequência 106,3, os dois construíram suas histórias e ao mesmo tempo contribuíram com a história do município que, orgulhosamente, chamam de lar (Foto: O Presente)

 

Em algumas famílias, os ensinamentos de pai para filho se tornam também profissionais. Não basta torcer pelo mesmo time, gostar da mesma banda ou série de televisão, muitas pessoas acabam herdando dos pais o gosto pela mesma profissão.

Na vida, eles dividem o mesmo sangue e sobrenome, e no trabalho, os microfones do rádio. Eles são Afonso e Diego Francener. Pai e filho apaixonados pela comunicação.

Há 16 anos, Afonso, hoje com 66 anos, e Diego, com 36, iniciaram a caminhada pela radiocomunicação, alimentando e compartilhando o fascínio pelas ondas da Rádio Tropical FM de Quatro Pontes. Através da frequência 106,3 os dois construíram suas histórias e, ao mesmo tempo, contribuíram com a história do município que, orgulhosamente, chamam de lar.

Porém, como toda história tem um início, é preciso voltar a 1998, ano em que a ideia de abrir uma rádio comunitária em Quatro Pontes floresceu no coração de Afonso. Os trâmites começaram e cinco anos mais tarde o sonho se concretizou. Com a licença em mãos, tinha início a primeira rádio e, logo, o primeiro veículo de comunicação do pequeno município da região Oeste do Paraná.

“Quando aconteceu a aprovação da lei que permitiu a criação de rádios comunitárias legalizadas, pois já existiam as piratas em grandes centros, nós começamos a movimentação para que Quatro Pontes também tivesse sua rádio. Muita gente não acreditava. Achava que o lugar era muito pequeno, que não comportava, mesmo assim nós fomos à luta, conseguimos e estamos aí até hoje”, relata Afonso, orgulhoso da marca recentemente conquistada pela Rádio Tropical, que em 2018 ficou entre as cinco melhores rádios comunitárias do Paraná. “É muito gratificante. É um resultado de união, de equipe. Acho que são resultados que colhemos somente com o trabalho de todos”, enaltece.

Enquanto o rádio começava a dar seus primeiros passos, ainda em fase experimental, Diego, que à época cursava Direito, decidiu abraçar a comunicação e iniciou o curso de Jornalismo. “Eu sempre gostei bastante de me expressar e comunicar. Acredito que o gosto pela comunicação é mais uma herança genética”, menciona.

Mesmo em caráter experimental, a Rádio Tropical FM já realizava alguns programas e avisos à comunidade. No início, tudo muito simples, em uma pequena sala, nasciam as primeiras ideias que comporiam a programação oficial da rádio comunitária.

“No começo era precário. Depois foi ganhando corpo. Meu pai sempre esteve à frente da Associação Cultural Comunitária XIII de Novembro, que é a mantenedora da Rádio Tropical FM, juntamente com outras lideranças do município”, conta Diego.

Depois de graduado em Jornalismo, o rádio serviu como um verdadeiro laboratório para Diego desenvolver seu talento profissional. “Ficou tudo mais fácil. Já estava trabalhando na prefeitura como estagiário, realizando a parte de assessoria de imprensa, função que exerci por vários mandatos, além de cerimoniais. Então a comunicação sempre esteve bastante presente desde a minha juventude”, conta o jornalista.

 

COMUNICAÇÃO EM FAMÍLIA

Para Afonso e Diego, o trabalho com a comunicação não se resume apenas às quatro paredes do estúdio de rádio. Sem hora ou lugar, a casa também serve como palco de ideias e debates. “É uma coisa que fazemos porque gostamos, não porque precisamos. Eu trabalho como voluntário da comunicação em todos esses 16 anos e tenho outras atividades. Não vivo disso, mas me realizo com isso. Promovemos inúmeras campanhas na comunidade e isso é muito gratificante. Tiveram casos que nós ficamos impressionados com a ajuda da comunidade perante os apelos feitos pela rádio”, revela, acrescentando: “O foco de uma rádio comunitária não é ganhar dinheiro, mas, sim, ajudar a comunidade na verdadeira comunicação social”.

“Muitas pessoas dizem que não se deve levar trabalho para casa, mas nós pensamos fora da curva. Levamos trabalho para casa, debatemos algumas ações porque rádio comunitária é um grande desafio. Nós temos uma equipe reduzida, mas que faz o trabalho verdadeiramente por amor”, complementa Diego.

Ao lado de Afonso e Diego trabalha também o jornalista Willian Adrian Bender, que acompanha a história da Rádio Tropical desde sua fundação.

 

DESAFIOS E IMPORTÂNCIA

Pai e filho definem como essência e objetivo de uma rádio comunitária o desafio de captar conteúdo local. Produzir conteúdo e informar a comunidade sobre tudo o que acontece no município é a missão dos comunicadores comunitários.

“Para Quatro Pontes a rádio tem um papel fundamental porque a comunidade antes dependia de meios de comunicação de fora do município. E isso não é a mesma coisa. Os meios de comunicação de fora, principalmente no meio rádio, acabam interferindo, trazem uma cultura um pouco diferente de fora. Nós, por outro lado, somos a cultura daqui, fazemos parte do dia a dia daqui, então é uma comunicação extremamente local nesse aspecto cultural”, salienta Afonso.

Ele lembra ainda como sua história se cruza com a do município de Quatro Pontes. “Meus pais chegaram aqui quando eu tinha três meses, ou seja, já faz mais de 66 anos. Meus pais foram pioneiros. Hoje existem frases do tipo ‘qual foi o fato mais importante que aconteceu nos 27 anos do município?’. Para alguns, a coisa mais importante que aconteceu no município foi ter uma rádio, a rádio comunitária. E isso é impactante para nós”, destaca.

Segundo Afonso, aproximadamente de 80% a 90% dos quatro-pontenses ouvem a Rádio Tropical FM. “São 16 anos da rádio e 27 do município. Fomos crescendo e progredindo junto com o município. Eu fico imaginando como seria se não tivesse uma emissora comunitária em Quatro Pontes? Como que a tia do cachorro-quente iria divulgar as coisas dela? Como a dona do lar, por exemplo, iria comunicar algo perdido? Claro, sabemos que existem outros veículos de comunicação, mas fica muito mais fácil o elo de comunicação entre rádio-ouvinte através de uma rádio comunitária”, pontua Diego.

 

PROGRAMAÇÃO

Uma programação diversificada e que atende a todos os públicos. Enquanto Diego comanda programas da Rádio Tropical durante a semana, os sábados e domingos ficam por conta de Afonso.

Tradicionais e com boa audiência, o radialista apresenta o programa Destaques da Semana, aos sábados, sempre com novas entrevistas e conteúdos. Aos domingos, o programa Domingão Gauchesco embala o fim de semana de muitas pessoas. Para encerrar, à noite, acontece o programa que é considerado o “xodó” de Afonso – Saudade não tem idade -, trazendo um repertório seleto de músicas dos anos dourados.

“É uma espécie de realização, não só minha, mas dos ouvintes também. O importante é isso: eu estar interagindo com o ouvinte. E temos uma interação muito boa, não só em Quatro Pontes, mas também temos hoje uma audiência no mundo inteiro. Através da internet, vemos respostas da Alemanha, Paraguai, Argentina, Inglaterra, Áustria, além de praticamente o Brasil inteiro”, comenta Afonso.

De segunda a sexta-feira, Diego e William comandam o informativo “Hora da Notícia”, programa realizado desde o início da rádio. Além disso, também de forma diária, Diego apresenta o “Mix Tropical”, um programa de variedades, com músicas de diversos gêneros, participação dos ouvintes e realização de sorteios. “E das 17 às 18 horas eu faço um programa tradicionalista gaúcho, porque a nossa cultura, não só daqui de Quatro Pontes, mas de toda a região, tem um apelo muito grande. E nós sentimos a necessidade de levar um pouquinho da cultura gaúcha através da música, da poesia, dos seus costumes. Todo mundo faz um churrasco no domingo. Isso por si só já reflete que essa cultura é importante e merece ser valorizada”, menciona o jornalista.

Diego também está à frente do programa “Arco da Velha”, que vai ao ar todos os sábados. “Esse também caiu no gracejo popular, pois trago algumas músicas antigas, que por vezes não tocam nas emissoras comerciais, até porque não são músicas comerciais. É um programa que está dando um resultado fantástico, têm uma audiência incrível, ouvintes fiéis que sintonizam todos os sábados do meio-dia às 14 horas para escutar as pérolas, as “velharias”. Nós fazemos algumas brincadeiras, é um programa bem extrovertido”, descreve.

Uma ideia ainda não realizada, mas cogitada pelos comunicadores é um programa que uniria pai e filho através das ondas do rádio. “Nossa união acontece principalmente diante de questões que envolvem a parte técnica, de programação, pautas e radiojornalismo. Todos os dias nos reunimos para debater pautas e ações que serão direcionadas no cenário da comunicação para que a gente possa de fato levar a comunicação comunitária de acordo com o que ela é e conforme os acontecimentos”, relata Diego.

Por outro lado, há a interação nos programas. “Às vezes ele está no programa dele falando sobre algum assunto e eu participo falando junto, e assim ele faz nos meus programas também. Temos essa interação porque comungamos das mesmas ideias”, acrescenta Afonso.

 

TRADIÇÃO

Afonso e Diego definem a comunicação do rádio como uma tradição, fator que define sua identidade e sucesso. “Muitos diziam que o rádio iria morrer quando surgiu a televisão. E não morreu. Agora, com a internet, também. E a rádio comunitária tem esse viés de levar informação comunitária e dificilmente uma rádio irá sucumbir perante os outros veículos de comunicação. É a mesma coisa com o jornal impresso”, exemplifica o jornalista.

Contudo, ele acredita que o advento das redes sociais e o avanço das novas tecnologias, para os comunicadores e jornalistas, é um grande desafio. “É preciso associar essas mídias, trazer algo novo, estar sempre focando naquela informação que de fato vai trazer o seu ouvinte para dentro da emissora. Tudo isso é uma grande responsabilidade”, ressalta Diego.

Afonso também lembra que a Rádio Tropical FM foi a primeira rádio comunitária entre os municípios da microrregião do Oeste do Estado. “Por ser a primeira, todos os outros municípios vinham aqui ver como funcionava, buscar ideias para também ter a sua, como exemplo das cidades de Mercedes, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste e tantas outras localidades, inclusive lugares mais distantes”, expõe.

 

E O FUTURO?

Enraizada na família, a comunicação deve permanecer como um elo entre pai e filho por muitos anos. “Pretendemos continuar nesse caminho, embora temos muitos afazeres. Acredito que 70% do nosso tempo é dedicado à rádio. Nós temos outros projetos. Eu tenho os meus, assim como o Alfonso tem os dele, mas com certeza a rádio comunitária, enquanto estivermos aqui, vai continuar, sim”, afirma Diego.

Quanto ao futuro da rádio, Afonso pensa em preparar novas pessoas para dar continuidade ao trabalho construído. “Já tenho aprendizes que me acompanham nos meus programas. Caso saia alguém do nosso quadro, precisamos ter outra pessoa com o mínimo de conhecimento e preparação, além do gosto pela rádio”, enfatiza.

Apesar de aposentado, a ideia de deixar o rádio ainda não foi cogitada. “Se eu conseguir, irei trabalhar até os 80 ou 90 anos. Para mim não é nenhum sacrifício, é um prazer”, frisa.

Além disso, saber que o seu trabalho terá continuidade por meio do seu filho é, para Afonso, algo gratificante. “É de alta responsabilidade estar trabalhando com pessoas. Às vezes nem se tem conhecimento da repercussão daquilo que falamos, mas sempre imaginamos e buscamos fazer o bem por meio da comunicação”, salienta.

Diego, enquanto profissional, reconhece o papel decisivo do rádio em sua carreira. “E pessoalmente falando envolve a questão da realização. Quando a pessoa se encontra com aquilo que ela ama, de fato, o trabalho acaba se tornando uma paixão”, avalia. “A gente praticamente vive o rádio 24 horas por dia, por isso quer manter essa fidelidade com o ouvinte, de ele estar bem informado. Para isso é importante ter esse espírito de vontade de levar a informação a toda hora”, complementa Afonso.

 

RADIOJORNALISMO

Afonso diz que várias mudanças poderão surgir nos próximos anos para as rádios comunitárias, como o aumento de potencial e alcance, que hoje é limitado. “Se isso não acontecer, iremos continuar investindo em redes sociais e na rádio web, onde estamos há algum tempo. Já estamos abraçando o futuro e as novidades que aparecem, buscando novos equipamentos para sempre acompanhar a evolução tecnológica”, enaltece.

Na visão de Diego, o radiojornalismo comunitário vai permanecer porque ele é imprescindível. “Eu acredito que isso jamais vai morrer, porque criamos uma identidade, e nós, com a Rádio Tropical FM, fizemos isso em Quatro Pontes”, garante.

Conforme ele, hoje se estabelece uma pluralidade na comunicação através das redes sociais, como as transmissões ao vivo. “Nós utilizamos isso como estratégias para puxar aquela audiência que está nas redes sociais. Isso nos dá novas responsabilidades. A pessoa que se acomoda e fica na zona de conforto vai permanecer ali e não vai prosperar em nenhuma área da vida. Os desafios chegam para nos tirar dessa zona de conforto e prospectar novas metas e estamos atentos a isso”, finaliza.

 

O Presente

 

William Adrian Bender, Afonso Francener e Diego Francener comandam há 16 anos as programações da Rádio Tropical FM de Quatro Pontes (Foto: O Presente)

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