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Municípios Descontrole populacional

Cascavel busca alternativa para barrar crescimento de capivaras e minimizar risco de doença letal

Município precisa controlar proliferação da espécie, mas impedimentos legais travaram iniciativas

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Flagrante do fotógrafo Julio Szymanski
No flagrante do fotógrafo Julio Szymanski, capivaras observam o Lago Municipal de Cascavel e a cidade ao fundo: descontrole populacional

O dilema da capivara

Esterilização reduziu de 100 para 12 o número de animais em BH; Cascavel busca alternativa para barrar crescimento e minimizar risco de doença letal

A lagoa da Pampulha, cartão postal de Belo Horizonte, por cuja orla estão espalhados projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer, já contou com uma população de capivaras que chegou a somar entre 85 e 100 animais em 2017, segundo informações da Prefeitura de Belo Horizonte à época.

Famílias com macho, fêmea e filhotes podiam ser vistas próximas à Casa do Baile, da Igreja da Pampulha ou do Iate Tênis Clube, todos projetados pelo arquiteto. Mas já naquele ano a presença dos animais na lagoa havia se tornado um problema de saúde pública.

Em setembro de 2016, o garoto Thales Cruz morreu aos dez anos vítima de febre maculosa. Ele havia visitado um parque na região durante atividade como integrante de um grupo de escoteiros, e a suspeita foi de que o garoto contraiu a doença no parque.
A prefeitura, então, iniciou processo de esterilização dos animais. As capivaras foram capturadas e operadas dentro de um contêiner instalado na região. Após as cirurgias, foi feita aplicação de carrapaticidas e implantação de chip para identificação e monitoramento do animal. Houve ainda a instalação de placas de orientação na orla da lagoa sobre o carrapato-estrela, transmissor da doença.

A esterilização resultou em uma queda expressiva na população de capivaras da orla da lagoa, que tem cerca de 18 quilômetros de extensão. Em censo realizado em 2021, foi constatada a presença de 56 animais na área, número que caiu para 12 no ano passado.

HOSPEDEIROS

“As capivaras são consideradas hospedeiros primários da bactéria causadora da febre maculosa. Para controlar esta população, foi necessário restringir a reprodução desses animais por meio de um trabalho iniciado em 2017, que contemplou animais presentes no município, mais especificamente na bacia da lagoa da Pampulha”, disse a Prefeitura de Belo Horizonte, em nota.

A queda na população de capivaras na região, com a esterilização, ocorreu de forma natural, afirma o município. “Tendo em vista o trabalho de manejo e castração realizado, é natural que esta população diminua com o passar do tempo”.

Além disso, “algumas capivaras morrem por idade, em disputas por território com outros animais da mesma espécie ou outras dinâmicas comuns da sua interação com a fauna existente no local”, conclui a prefeitura.

Por Leonardo Augusto, Folha de São Paulo

Cascavel vive impasse com os roedores

Município precisa controlar proliferação da espécie, mas impedimentos legais travaram iniciativas

No exato momento em que as futilidades da internet trazem um influencer digital ganhando likes e dinheiro usando uma capivara, o crescimento da população destes animais no Lago Municipal de Cascavel traz preocupação para o Ministério Público e Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Sema).

O bicho é hospedeiro do carrapato estrela, transmissor da febre maculosa, moléstia que pode levar sapiens a óbito como – suspeita-se – aconteceu com uma criança em Belo Horizonte.

O dilema da capivara vem de longa data, desde que os roedores gigantes foram introduzidos em uma das maiores florestas urbanas do Paraná, estabelecida às margens do Lago Municipal de Cascavel. Estima-se que haja cerca de 400 capivaras no local.

Aí está a diferença entre a Capital do Oeste e Belo Horizonte. A Lagoa da Pampulha, na Capital mineira, é considerada área urbana livre de muitas restrições ambientais. Já o entorno do Parque Ecológico Paulo Gorski, onde está o Lago Municipal, leva o status de unidade de conservação. Assim sendo, as capivaras são descritas como animais de vida livre pertencentes à fauna brasileira. Isso as torna – do ponto de vista legal – intocáveis.

CASTRAÇÃO

A Sema buscou alternativas. Elaborou – conveniada com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) – um projeto de castração química, através da introdução de hormônios nos bichos. A técnica permite ao macho continuar dominando o território, mas sem reprodução. O projeto foi descontinuado após objeção do Instituto Agua e Terra (IAT). Também deu na trave do IAT um plano de manejo que previa a castração cirúrgica das capivaras, operação complexa que precisa incluir um acompanhamento pós-cirúrgico com medicamentos específicos.

Tais procedimentos se mostraram trabalhosos e até arriscados para os animais, como mostrou a experiência de castração em massa de cães e gatos em Cascavel.

RESTRIÇÕES

Como as tentativas de controle não avançaram, a Sema, por recomendação do Ministério Público, adotou medidas administrativas paliativas. Segundo o secretário Ney Haveroth, foram instaladas placas alertando para o risco do contato com esses animais e enfatizada a fiscalização para impedir que animais domésticos como cães e gatos circulem na região. “Vamos estudar esse caso de Belo Horizonte e continuar buscando alternativas, pois o risco é iminente”, disse Haveroth.

Por Jairo Eduardo, editor do Pitoco

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