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Municípios Busão na tomada

Cascavel pode se posicionar à frente de Curitiba como cidade-modelo no transporte coletivo

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(Foto: Divulgação)

“Trata-se de uma escolha entre o passado e o futuro”. Assim o diretor geral de operações e inovação da Volvo Car Brasil, João Oliveira, definiu as escolhas que as nações farão na transição dos veículos a combustão para os elétricos.

O transporte coletivo urbano de Cascavel vive um momento de escolhas. O setor atravessou seu vale de sombras na pandemia, quando não restou outra alternativa às autoridades da saúde pública que não restringir por decretos o funcionamento do serviço. Entre janeiro e agosto do 2019 pré-pandêmico, o sistema registrou 13,6 milhões de embarques. No mesmo período de 2020, 118% a menos, 6,2 milhões, segundo dados da Transitar.

A ocupação de assentos já vinha mal. Há muitos anos que o sistema só faz perder passageiros, a ponto de tornar ainda mais obsoleta a expressão “lotação”, outrora designada para nominar o “busão”. Mesmo agora, com a pandemia aparentemente controlada, o sistema permanece subutilizado. Inúmeros fatores contribuem para tal.

Embora a Cascavel ostente uma das frotas mais novas e confortáveis do Estado e tenha investido em faixas exclusivas para ônibus, a mobilidade urbana sofreu profundas alterações. A concorrência das bikes, patinetes, scooters e toda sorte de badulaque sobre rodas, incluindo aí a expansão da frota de motocicletas e veículos acionados por aplicativos tirou muita gente de dentro do busão.

 

SUBSÍDIO PARA SEGURAR A TARIFA

Às vésperas da nova licitação para o setor que irá habilitar as permissionárias, a Prefeitura de Cascavel á percebeu que terá de injetar algum nível de subsídio se quiser conter a explosão na tarifa. Além da queda de mais de 5% nos usuários, aferida no último trimestre de 2021, as operadoras do setor enfrentaram pesados aumentos no custo operacional, o principal deles, o combustível.

Restam poucas alternativas, nenhuma delas a curto prazo, para o destino do subsídio – dinheiro público injetado no sistema. A pior delas já está em vigor. O Governo do Paraná subsidia o transporte coletivo urbano da região Metropolitana de Curitiba com o dinheiro de todos os paranaenses, inclusive daqueles que nunca utilizarão o sistema. Pior: subsidia um sistema arcaico, baseado em combustíveis fósseis, fumacentos, barulhentos e danosos à saúde física e mental.

 

MOMENTO DA DISRUPÇÃO

Cascavel tem a oportunidade de romper essa lógica. O edital já publicado e em fase de audiência pública poderá permitir a gradual substituição da frota fóssil pela eletrificação. “Queremos adquirir, com recursos da prefeitura, dez ônibus elétricos, dando início ao processo de descarbonização do setor, em linha com os compromissos ambientais dos quais somos signatários como município e como nação”, afirma o prefeito Leonaldo Paranhos.

Não se trata de pouco dinheiro. O município precisa aportar R$ 30 milhões para obter dez unidades. O veículo elétrico custa pelo menos o dobro do fumacento. Porém, quem instalou telhados solares em sua residência sabe que esse investimento retorna, centavo por centavo.

Com demanda em baixa, eletrificação da frota é o caminho limpo, silencioso e sustentável para o transporte coletivo (Foto: Divulgação)

 

Do corujão ao frescão

l Cascavel já tentou de tudo um pouco no transporte coletivo. Houve experiências com o “corujão da madrugada”, micro-ônibus, bi-articulados e os tais “frescões”, providos de ar-condicionado. Livrar os passageiros do suador não é tarefa fácil, e iniciativas assim foram descontinuadas, já que impactam no consumo do diesel.

 

l Os veículos elétricos são mais eficientes e comportam ar-condicionado com pequenos impactos no desempenho e autonomia.

 

l A ideia é colocar esses carros para até 180 passageiros nas linhas mais demandadas. “Os elétricos têm vida útil de até 20 anos, autonomia de 250 quilômetros e serão cedidos para as permissionárias prestarem os serviços como subsídio do município, e após dez anos as empresas assumem o compromisso de trocar a bateria, item mais caro do sistema”, explica Paranhos.

 

l O prefeito fala também em tornar a eletricidade no transporte ainda mais competitiva, aproveitando a energia gerada no aterro sanitário do município e em novas plantas de energia solar.

 

 

Shenzhen tem frota de mais de 16 mil elétricos

l Como uma mãe orgulhosa, Shenzhen, a “São Paulo” da China, revelou sua enorme e nova frota de ônibus elétricos para o mundo. Um projeto que levou anos para completar foi recentemente concluído, totalizando um impressionante número de 16.358 ônibus elétricos entregues dois anos antes do cronograma.

 

l Os veículos atenderão a 12 milhões de cidadãos. A extensa frota conta com oito mil pontos de carga em 510 estações.

 

l As estimativas indicam que a nova frota elétrica poderia economizar até 345 mil toneladas de combustíveis por ano e reduzir a emissão de dióxido de carbono em 1,35 milhão de toneladas.

Ônibus elétrico em frente ao paço municipal de Cascavel: zero barulho, zero fumaça (Foto: Divulgação)

 

 

Protótipo cascavelense

Veículo elétrico desenvolvido pela empresa Mascarello foi apresentado e testado ainda em 2019

 

O prefeito Leonaldo Paranhos já havia assinado, em março de 2019, um termo de compromisso para implantar, na próxima licitação do transporte público, ônibus elétricos em Cascavel. Um protótipo elétrico, desenvolvido pela montadora cascavelense Mascarello, foi apresentado na ocasião e estava em teste durante cinco dias nas ruas de Cascavel.

“Nós queremos colocar na frota dos próximos veículos o sistema elétrico. Então fizemos uma parceria sem nenhum custo para o município, pois este já era um projeto da Mascarello. Este foi o primeiro passo de um trabalho para incluir a eletrificação na próxima licitação do transporte coletivo urbano de Cascavel”, declarou o prefeito.

 

CONFORTO E SILÊNCIO

O engenheiro Vladimir Silveira, responsável pelo protótipo, disse que esta é uma tecnologia que está disponível em todo o mundo. O ônibus tem carroceria com piso baixo e possui acessibilidade total para pessoas com algum tipo de deficiência. Sem elevadores, ele dá total condição para a pessoa portadora de alguma dificuldade de locomoção acessar o interior do veículo sem ajuda de terceiros.

O piso baixo permite um ambiente mais alto, uma melhor circulação de ar, melhor eficiência do ar-condicionado, layout mais confortável, corredor de circulação mais largo e conforto sonoro, uma vez que o ônibus com motor elétrico não produz barulho.

As baterias são de íons de lítio, semelhantes às baterias de celular. Elas permitem 200 quilômetros de autonomia e possuem tecnologia similar à da Fórmula-1, que permite a cada frenagem a transformação dessa energia em carga para a bateria.

O veículo possui um sistema de GPS ligado a um sistema do operador da frota que permite acompanhar em tempo real a localização do veículo, a lotação do carro e tempo de locomoção no trajeto que ele percorrer.

 

VEÍCULO IDEAL

“Se pararmos para pensar como meio de transporte urbano com qualidade, este é o veículo ideal para o transporte de passageiros no município”, salienta Vladimir.

O engenheiro explica ainda o custo-benefício em relação ao uso de energia. De acordo com ele, a redução é de cerca de 70% do custo por quilômetro rodado.

O ônibus em desenvolvimento na Mascarello possui apenas as baterias com tecnologia chinesa, todo o restante é nacional.

As baterias usadas no ônibus elétrico permitem uma carga rápida de 80% em meia hora. A carga total leva de seis a oito horas, dependendo da potência do carregador.

Vladimir lembra ainda que o combustível é o segundo item mais caro da planilha de custos das empresas de transporte coletivo urbano, perdendo apenas para a folha de pagamento dos funcionários.

Empresária Celinha Mascarello e o prefeito Paranhos no interior do protótipo cascavelense: dez unidades elétricas previstas no novo edital (Foto: Divulgação)

 

 

Estudo de viabilidade

  • “Essa questão do custo não será a prefeitura que pagará. Será colocado como exigência no novo termo de licitação. Nós vamos fazer um estudo que nos aponte a viabilidade econômica destes veículos para o município e para os usuários também. O estudo que faremos vai mostrar a quantidade necessária de ônibus elétricos integrados à frota existente”, expõe Paranhos.

 

  • O prefeito destacou ainda que outra questão positiva é que o motor elétrico gera menos manutenção, o que diminui ainda mais esse insumo na planilha de custos que determina o valor da passagem.

 

  • “Esse é um lançamento mundial, é o que existe de melhor hoje. Esse carro é um protótipo desenvolvido pela Mascarello. Cascavel merece esta tecnologia”, disse a empresária Celinha Mascarello.

 

Por Jairo Eduardo, editor do Pitoco

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