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Municípios Pesadelo para os agricultores

Cigarrinha e enfezamento do milho desafiam produtores; índice de infestação chega a 60% em Marechal Rondon

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(Foto: Divulgação)

Diversas pragas afetam a cultura do milho. Lagarta, percevejos, pulgão. No entanto, há uma que está causando dor de cabeça aos produtores devido aos prejuízos que provoca: a cigarrinha do milho (Dalbulus maidis). O inseto é considerado, atualmente, uma das mais severas pragas na América Latina, inclusive no Brasil.

O problema ocorre por ela succionar a seiva das plantas e transmitir vírus e molicutes do enfezamento do milho, que são doenças sistêmicas que causam distúrbios fisiológicos dentro da planta.

Diante de toda a problemática, a prevenção é um dos caminhos. Em vista disso, foi lançada na última sexta-feira (13), durante evento que reuniu agricultores, pesquisadores e assistentes técnicos no auditório da Associação Comercial e Empresarial de Marechal Cândido Rondon (Acimacar), a Campanha de Eliminação do Milho Voluntário.

Eliminar milho voluntário é uma das práticas de manejo mais recomendadas para reduzir os transtornos com a cigarrinha. “Uma das soluções é a redução da perda de espigas no momento da colheita, pois estas espigas germinam e formam o milho tiguera (voluntário)”, expõe o fiscal agropecuário da Adapar – unidade rondonense, Anderson Lemiska. O ideal, segundo ele, é que o agricultor elimine estas plantas na entressafra, “principalmente quando fica no meio da cultura da soja”.

Estragos nas lavouras de Marechal Rondon dependem da região onde o milho está plantado: em alguns locais as perdas são maiores; em outros, menores (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

Índice de infestação

Lemiska esteve a campo para estudar o problema e destaca que a cigarrinha do milho é o único inseto que transmite a doença. Conforme ele, os índices de infestação em Marechal Rondon variam bastante. “As primeiras lavouras plantadas em janeiro apresentam grandes índices, chegando entre 50% e 60%, principalmente quando o material é sensível”, informa.

Se o material é mais tolerante, os índices patológicos ficam entre 30% e 40%, acrescenta. “Mas esses mesmos materiais, plantados dentro de uma janela de semeadura que o pessoal montou de uma forma geral, podem se comportar de uma maneira diferente, chegando a atingir somente 15% a 20% de danos. Em alguns casos, pode chegar a zero também, já que este ano está chovendo bastante e o milho está se desenvolvendo de forma adequada. Tudo depende da região onde o milho está plantado”, explica o fiscal.

 

Sintomas

Em relação aos sintomas, eles surgem em até quatro semanas após a infecção, começando pelo aparecimento de estrias na base das folhas da planta. “Como sintoma visual, geralmente, percebem-se folhas avermelhadas, amareladas, planta com corte reduzido e formação da espiga comprometida”, cita o profissional da Adapar.

Cigarrinha succiona a seiva das plantas e transmite vírus e molicutes do enfezamento do milho, que são doenças sistêmicas e causam distúrbios fisiológicos dentro da planta (Foto: Divulgação)

 

Práticas de manejo

Outra medida para amenizar o problema, conforme Lemiska, é a escolha de materiais híbridos tolerantes. “Sabemos que há no mercado produtos mais tolerantes aos enfezamentos que outros. Esta escolha deve ser feita junto com o setor agronômico que atende o agricultor. O controle químico da Adapar conta com 57 produtos registrados com esta finalidade”, enaltece, salientando que produtos não cadastrados têm menor eficácia em termos de solução.

O tratamento de sementes com inseticidas também reduz a infestação inicial da cigarrinha na lavoura, aponta ele. “O monitoramento também é importante. Áreas com mais cigarrinhas devem ser monitoradas com mais precisão e com manejo diferenciado”, expõe.

Profissionais da Adapar e do Ministério da Agricultura palestraram para agricultores, pesquisadores e assistentes técnicos, em Marechal Rondon, ocasião em que trataram sobre as ações de fitossanidade (Foto: Daniel Felício/OP)

 

Problema antigo

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Marechal Rondon, Edio Chapla, problemas envolvendo o enfezamento do milho preocupam os produtores rurais desde 2019. “É uma adversidade que iniciou em 2019, de forma mais tímida, e que foi agravada em 2020. Já em 2021 não sentimos tanto impacto por conta da geada que amenizou a situação. No entanto, este ano o problema se acentuou ainda mais”, frisa.

Chapla afirma que daqui em diante é preciso se aprofundar em outros estudos. “São muitas as medidas que devem ser tomadas pela área técnica e pelos produtores, as quais devem ser alinhadas entre teoria e campo”, opina.

Presidente do Sindicato Rural de Marechal Rondon, Edio Chapla: “É uma adversidade que iniciou em 2019, de forma mais tímida, e que foi agravada em 2020. Já em 2021 não teve tanto impacto por conta da geada, mas neste o problema se acentuou ainda mais” (Foto: Arquivo/OP)

 

Cigarrinha do milho

Apesar de ter apenas quatro milímetros de comprimento, a cigarrinha-do milho já provou causar problemas absurdos. De coloração amarelo-palha, seus primeiros registros no Brasil são de 1938, segundo relata a pesquisadora da Embrapa, Simone Mendes. “Em função dos processos de produção intensiva, temos a presença da cigarrinha durante o ano inteiro nas lavouras”, ressaltou a profissional, que palestrou de forma virtual no evento que reuniu agricultores, pesquisadores e assistentes técnicos no auditório da Acimacar.

Conforme ela, a temperatura é fator-chave para o desenvolvimento do inseto. “Quanto mais alta a temperatura, mais ele se desenvolve, chegando à longevidade de até 80 dias. Seu desenvolvimento máximo é em regiões que variam entre os 25ºC e 30ºC”, detalhou.

Embora difícil, é possível conviver com as cigarrinhas, afirma a pesquisadora. “Os produtores devem evitar o semeio de milho ao lado de lavouras com enfezamento e respeitar o período de semeadura da região”, orienta Simone, reforçando a necessidade de eliminação do milho tiguera.

(Foto: Sandro Mesquita/OP)

Espiga comprometida é um dos sintomas de planta infectada (Foto: Divulgação)

 

Uso de tecnologias para o controle de pragas

O vice-presidente do Sindicato Rural de Marechal Rondon, Cévio Mengarda, destaca o evento realizado na última sexta-feira, que teve o lançamento da Campanha de Eliminação do Milho Voluntário e palestras sobre o enfezamento do milho com profissionais da Adapar, Ministério da Agricultura e Embrapa. “Foi uma união de esforços entre diversos conselhos, sindicatos, cooperativas e institutos de pesquisa. Os técnicos vieram à região para analisar o cenário local durante uma semana, coletaram amostras para pesquisa e vão estudar se há mais problemas que possam surgir mediante o enfezamento. No geral, eles evidenciaram que é preciso uma força-tarefa entre todos e que há uma série de fatores para a gente atingir o sucesso”, ressalta.

Mengarda, que é engenheiro agrônomo e esteve a campo junto com os pesquisadores da Adapar e Embrapa, diz que o controle da cigarrinha é difícil. “Ela transmite duas espécies de patógenos: duas bactérias e um vírus. É preciso um acompanhamento semanal para saber se as cigarrinhas carregam consigo o patógeno. Esta é a principal questão: o patógeno, não o inseto em si”, explica, acrescentando ainda que os próprios pesquisadores não conseguem entender totalmente o ciclo de atividades na agricultura. “Em um dia ela pode estar na lavoura e no outro dia não. Estamos todos aprendendo a lidar com a praga”, amplia.

Segundo o vice-presidente do Sindicato Rural, durante as visitas com pesquisadores foi possível observar áreas com perdas acima de 50% do milho. “A pesquisa indica ainda que há 30% de quebra regional dessa safrinha”, revela. E sobre isso ele alerta: “O controle precisa ser feito durante o período vegetativo. Só assim os danos são mínimos”, salienta.

 

Milho em zonas urbanas

Mengarda critica os milhos plantados em lotes urbanos: “Representam um perigo aos milhos de lavoura. Normalmente são plantas que não recebem nenhum tipo de controle, pois não são produzidas em escala, apenas para consumo da família, e por isso não há este cuidado”, expõe.

Vice-presidente do Sindicato Rural de Marechal Rondon, Cévio Mengarda: “Usar drones ou demais aviações é uma forma de contornar esta situação. Com o pulverizador solto por aeronaves é mais difícil da cigarrinha fugir ou se esconder pelo efeito guarda-chuva” (Foto: Divulgação)

 

Milho verão

Sobre o plantio do milho verão, o vice-presidente do Sindicato Rural diz que também é preciso conscientização. “A gente sabe da necessidade dos pecuaristas em fazer o plantio do milho verão. O problema é que a população de cigarrinha, devido à época, está baixa, então o controle é menor que no inverno. Porém, este milho saiu da lavoura um pouco depois que iniciou o plantio da segunda safra. Desta forma, a planta contaminada pela safra de verão transmite para a cigarrinha, que entra na nova cultura do milho. É o que chamamos de cortina verde, que também não conseguimos resolver de maneira eficiente”, aponta.

 

Tecnologias

Uma das formas para redução do enfezamento defendida por Mengarda é o uso de tecnologias para o controle de pragas. “Usar drones ou demais aviações é uma forma de contornar esta situação. Com o pulverizador solto por aeronaves é mais difícil da cigarrinha fugir ou se esconder pelo efeito guarda-chuva (quando o inseto se esconde debaixo da folha), tornando-se mais eficiente que os pulverizadores terrestres”, menciona.

 

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