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Municípios Minicentral de biogás

Entre Rios do Oeste estreia projeto inédito no Brasil

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Inauguração da Minicentral Termelétrica de Biogás dará início à operação de um projeto inédito no Brasil, solucionando passivos da suinocultura de forma adequada e gerando renda extra a produtores rurais por meio da geração de energia elétrica (Foto: CIBiogás)

 

Um projeto inédito de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) no Brasil começa sua operação em Entre Rios do Oeste nesta quarta-feira (24), com a inauguração da Minicentral Termelétrica de Biogás.

Após três anos de trabalho das instituições parceiras, o projeto intitulado “Arranjo Técnico e comercial de geração distribuída de energia elétrica a partir do biogás de biomassa residual da suinocultura em propriedades rurais do município de Entre Rios do Oeste” oportunizará a 18 produtores de suínos a solução de um grande problema ambiental: a destinação dos dejetos provenientes da atividade.

Mais do que isso, os suinocultores terão a oportunidade de gerar um recurso financeiro sustentável.

A iniciativa partiu de uma chamada pública realizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que aprovou R$ 17 milhões em recursos de P&D investidos pela Copel Geração e Transmissão (CGT). O Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e o Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás) participaram diretamente do projeto desde a modelagem de negócios até a execução das atividades de engenharia, fazendo desta uma tecnologia legitimamente paranaense. “O Oeste do Paraná tem um potencial enorme de produção de biogás por conta da suinocultura e a escolha por Entre Rios do Oeste baseou-se em estudos realizados há alguns anos, especialmente por este ser um município com um plantel grande e uma área pequena”, diz o pesquisador e engenheiro eletricista da CIBiogás, Breno Carneiro Pinheiro.

Conforme dados da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Entre Rios do Oeste conta hoje com cerca de 155 mil suínos e a população não chega a cinco mil habitantes, o que resulta em uma média de 35 suínos para cada morador. Somente as 18 propriedades somam 40 mil suínos e aproximadamente 215 toneladas de dejetos por dia. “Neste cenário o passivo ambiental se torna uma grande preocupação e o projeto vem como uma forma de mostrar a possibilidade de tratamento nas propriedades e geração de um recurso sustentável”, ressalta o secretário de Saneamento Básico, Energias Renováveis e Iluminação Pública de Entre Rios do Oeste, Carlos Eduardo Levandowski.

 

PROBLEMA RESOLVIDO E COM LUCRO

Há cerca de 120 dias o biodigestor da propriedade de Gilmar Anderle está produzindo biogás e, há poucos dias, o produto começou a ser canalizado para a minicentral termelétrica. Ele é um dos 18 produtores participantes do projeto e quando questionado sobre o porquê de ter se interessado pela iniciativa, a resposta está na ponta da língua: “para estar certo com o meio ambiente”. “Seria uma questão de tempo para surgir algum tipo de legislação exigindo a destinação correta dos dejetos da suinocultura. Com esse projeto, além de estar tratando e dando a correta destinação, vou poder ter lucro”, expõe.

Seguindo os passos do pai, Waldomir, que também trabalhava com a suinocultura e acompanhou de perto a instalação do biodigestor, das lagoas e da casa de máquinas na propriedade, tem parceria com uma cooperativa da região e produz cerca de três mil suínos em terminação. “Sem o projeto eu não iria conseguir fazer um investimento desse. Talvez o biodigestor sim, mas colocar o gerador para produzir energia eu não teria condições”, comenta.

Na propriedade ele também trabalha com lavoura, por isso, considera outro benefício: a utilização do biofertilizante, que, além de não ser poluente, não tem odor desagradável e os nutrientes são absorvidos mais facilmente. “Antes eu utilizava na lavoura ou mesmo na grama e sapecava tudo e agora tenho um fertilizante com muito mais qualidade e que não queima a planta”, observa. “Se todos os cálculos que fizemos estiverem certos, será extremamente viável. Com base no que eu investi e no que tenho capacidade para gerar, em cerca de três anos e meio já terei pago o investimento feito na propriedade”, menciona Gilmar.

 

Na minicentral termelétrica, localizada no Parque Industrial II, há cinco gasômetros, estrutura de escritório, subestação e dois geradores, com potencial instalado de 480 kilowatts (Foto: Mirely Lins Weirich)

 

NA PRÁTICA

Em cada uma das 18 propriedades há um sistema de tratamento de dejetos – um biodigestor – que foi implantado com investimentos dos próprios suinocultores.

Nas propriedades também há uma casa de equipamentos, onde está instalado um compressor para o envio do biogás à minicentral termelétrica, local em que ocorre a geração de energia.

O biogás é canalizado para a minicentral por uma rede coletora de 20,3 quilômetros.

Nas propriedades também há um sistema de monitoramento para coleta de dados como vazão, temperatura, pressão, amperagem do motor e outros detalhes importantes, caso ocorra alguma intercorrência no processo. “O biogás que chegar até a minicentral será comprado pela prefeitura, que fará a remuneração aos produtores conforme a produção de cada um deles”, detalha Levandowski.

A geração de energia, explica ele, vai abater as contas de energia do Poder Público: postes de iluminação pública, poços artesianos que enviam água ao município, paço municipal, quadras de esportes, praia, entre outras estruturas. “A conta da cidade não vai ser zerada, até porque há os custos de tributação, em torno de 20% a 30%, que vão continuar sendo pagos normalmente. O objetivo é diminuir o valor da conta de energia dos prédios públicos do município”, pontua o secretário.

 

NA MINICENTRAL

Na minicentral termelétrica, localizada no Parque Industrial II em área cedida pela prefeitura, há cinco gasômetros com capacidade de armazenamento de 250 metros cúbicos de biogás. “A minicentral tem potencial instalada de 480 kilowatts com dois grupos geradores, que ficará sob responsabilidade da prefeitura para operar e fazer a manutenção”, explica Pinheiro.

Levandowski diz que a estimativa do projeto é de que a produção chegue a cinco ou seis mil metros cúbicos de biogás por dia, que devem ser convertidos em energia elétrica nos dois grupos geradores instalados no local, de 420 kVA cada. “Quando entrarmos no regime de operação, a estimativa é de que os geradores trabalhem 16 horas por dia para chegar à geração de 250 megawatts de energia por mês, mas tudo depende de atingirmos o potencial máximo da produção de biogás. Para isso, é preciso levar em consideração a sazonalidade: aqui temos um clima tropical, então no verão a produção de biogás aumenta e há também questão da entrada e saída dos lotes de suínos das propriedades”, salienta o secretário.

Além dos gasômetros e geradores, a minicentral está equipada com a parte de comissionamento necessária para a geração distribuída, painel de comunicação com as propriedades para acompanhamento dos dados, a parte da subestação e uma estrutura de escritório. “É importante lembrar que este é um processo gradativo e não um projeto de gaveta. Inicialmente vamos operar conforme a produção de biogás e com o passar do tempo vamos conhecendo o sistema. Cada projeto dessa natureza é único e desenvolvido para uma demanda específica”, enfatiza Levandowski.

 

Secretário de Saneamento Básico, Energias Renováveis e Iluminação Pública de Entre Rios do Oeste, Carlos Eduardo Levandowski: “O passivo ambiental se torna uma grande preocupação e o projeto vem como uma forma de mostrar a possibilidade de tratamento nas propriedades e geração de um recurso sustentável” (Foto: Mirely Lins Weirich)

 

OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

Para os produtores venderem o biogás ao município foi realizado um chamamento público por parte da prefeitura para a compra, a partir do qual cada um realizou cadastramento e apresentação de certidões negativas.

Conforme a produção de metro cúbico de biogás, cada um deles receberá um percentual diferente, já que há diferenças de produção de uma propriedade para outra, variando de acordo com o posicionamento do biodigestor, temperatura, quantidade de animais, dejeto, fase do ciclo de vida do animal, entre outros fatores. “A prefeitura será responsável por gerar a energia a partir do biogás comprado e operar o projeto, ou seja, operação e manutenção. Os produtores têm a responsabilidade de fazer a manutenção do biodigestor instalado nas suas propriedades e das lagoas, então o destino final do efluente, do biofertilizante, é responsabilidade deles”, enaltece o secretário municipal.

 

Waldomir, Gustavo e Gilmar Anderle: as três gerações acompanham a solução de passivos ambientais e a geração de renda extra na propriedade da família por meio da produção do biogás (Foto: Mirely Lins Weirich)

 

OBJETIVOS

O início da operação da minicentral termelétrica oportuniza aos produtores rurais envolvidos a solução de um problema ambiental que, muitas vezes, é destinado de maneira inadequada.

Pinheiro diz que os biodigestores fazem o tratamento dos resíduos da suinocultura e geram o biogás com diversos benefícios, sendo o primeiro deles o ambiental, com a preservação dos rios, tendo em vista que quando o passivo é despejado inadequadamente no meio ambiente há possibilidade de contaminação dos efluentes. “O produtor tem mais saneamento, melhorando a qualidade de vida na propriedade, com a diminuição do odor e melhorando a estética do local”, destaca o engenheiro eletricista.

Levandowski complementa que a maior parte dos produtores participantes do projeto também não teria a possibilidade de investir em um biodigestor e viabilizar a geração de energia, sendo este outro significativo ganho do projeto. “Além de solucionar um problema ambiental, o objetivo é que o produtor consiga aferir lucro, pelo menos, para custear o investimento feito com o financiamento para o biodigestor. Esse resultado já terá grande valia frente à solução do passivo que estão tendo em suas propriedades”, resume.

A inauguração da Minicentral Termelétrica de Biogás está marcada para as 10 horas desta quarta-feira e contará com a presença de autoridades municipais, locais e regionais, além do governador do Estado, Carlos Massa Ratinho Junior.

 

O Presente

 

Nas propriedades, além do biodigestor e das lagoas, está instalada uma casa de máquinas com um compressor para o envio do biogás à minicentral e um painel para acompanhamento de dados (Foto: Mirely Lins Weirich)

 

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