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Municípios O 1º de abril dos doutores

Formatura paga por seis anos por turma de Medicina da Unioeste virou trote no dia da mentira

Tradicional empresa de Floripa deixa homens e mulheres de branco em brancas nuvens também em Cascavel

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(Foto: Divulgação)

Quando, seis anos atrás, a comissão de formatura da 21ª turma de Medicina da Unioeste contratava a Brave Brasil, e via o principal evento do calendário cair no 1º de abril de 2023, jamais poderia imaginar que aquilo tudo seria uma grande mentira.

E foi mentira pra muita gente. Pelo menos 108 comissões de formatura espalhadas pelo Brasil levaram o mesmo calote. A empresa não conseguiu entregar o contratado e a programação festiva, com colação de grau, missa, jantar e baile, eventos acalentados por tantos anos, viraram uma miragem no deserto.

Não dá para atribuir os fatos à comissão de formatura. A Brave apresentava um vasto repertório e um acervo incrível. Tanto assim que atendia os ditos “cursos nobres” em todo o território nacional, nas melhores universidades do país. Antes de o calote chegar aos recém-formados da Unioeste, em Cascavel, a Brave já havia deixado na mão os formandos de medicina da Unicesumar, de Maringá.

A jornalista Sara Messias, de Assis Chateaubriand, está inconsolável. Ela é a mãe de uma formanda da Unioeste e se envolveu pessoalmente em todos os preparativos. “Está tudo pago. Durante anos cada acadêmico pagou o equivalente a um carro seminovo para a empresa de formatura. Agora, muitos não têm tempo ou recursos para um plano B, que chegamos a ventilar. O sonho foi calculado, planejado e esperado por 40 formandos ao longo de seis anos”, relata Sara.

O cronograma previa missa no dia 29 de março próximo, jantar no dia 30 de março, a colação festiva no dia seguinte, e o ponto alto da programação em 1º de abril – infeliz coincidência – com um prometido glamouroso baile de gala. “Os contatos disponibilizados, telefones, e-mails e até no endereço físico não atendem. Milhares de ligações feitas, centenas de mensagens enviadas, e nada”, prossegue a mãe da doutora.

Há outros inconvenientes neste pacote de calote. Os lesados precisam renegociar contratos já firmados com locação de roupa, salão de beleza, coquetel e outros serviços. “Agora é saber se esses prestadores já contratados, e também indiretamente afetados, terão compaixão dos formandos ou teremos que pagar por isso também”, diz Sara.

Asas do anjo

Quando se manifestou pela última vez em nota oficial, Rafael Brogni, responsável pela Brave, disse que as formaturas de março seriam atendidas pela empresa normalmente. Mas março e suas águas (incluindo algumas de lágrimas) chegaram e nada da empresa atender as aflitas ligações telefônicas.

Brogni, cujo o apelido é “Anjinho”, bateu asas e voou, deixando a turma de branco em brancas nuvens. Em média, cada formando já desembolsou mais de R$ 20 mil, sem contar nos ingressos extras que acabaram elevando o investimento para quase R$ 700 mil.

Formandos de Medicina da Unioeste na colação de grau: Anjinho bateu asas e voou

Elas mais uma vez no comando

Outra vez o curso mais disputado do vestibular da Unioeste foi o de Medicina, com 125 candidatos por vaga. Aqui dá para tirar um termômetro de gênero. Nas 20 vagas ofertadas, incluindo as por ações afirmativas (negros, pardos e egressos de escolas públicas), as mulheres ficaram com 50% das vagas.

Já nas dez vagas ofertadas no quesito “ampla concorrência”, em que vale o melhor desempenho geral, as meninas abocanharam 60% das cadeiras. O desempenho feminino superior nos cursos mais disputados tem sido recorrente nos vestibulares das principais universidades brasileiras.

Por Jairo Eduardo. Ele é jornalista e editor do Pitoco.

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