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Municípios "Eu falo pra vocês, uma vida de cão"

Mulher vive há 30 anos em barraco no meio de mata na área central de Foz do Iguaçu

Secretaria de Assistência Social afirma que há histórico de atendimentos, mas que mulher não aceita condições estabelecidas nos locais que ela poderia ser acolhida

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Estrutura da "casa" feita com pedaços de madeira e uma lona (Foto: Reprodução RPC)

Maria vive há pelo menos 30 anos em um barraco improvisado em uma área verde ao lado da Avenida Paraná, região central de Foz do Iguaçu. De acordo com a prefeitura, no futuro, a área deve ser transformada em um centro cívico da cidade. A moradora tem 58 anos, de acordo com a Pastoral da Família.

O fogão a lenha dentro do barraco produz uma fumaça sufocante e muita fuligem no teto que dificulta a respiração. A estrutura do ambiente é feita com pedaços de madeira e uma lona.

“Aqui eu faço a comida… para você ver, não vai reparar na ‘boniteza’. É muito lindo demais, muito lindo. […] O que eu passo aqui nessa fumaça, meu Deus do céu, não é brincadeira. A minha vista, às vezes, fica queimando, queimando, queimando […] Eu falo pra vocês, uma vida de cão”, afirmou a mulher.

O barraco é dividido com João que vive pelas ruas de Foz do Iguaçu pedindo doações.
A representante da Pastoral da Família, Madalena Roth Sordi, lembra que Maria já trabalhou um curto período na Prefeitura de Foz do Iguaçu. Com o tempo e o distanciamento da família foi parar no barraco no meio da mata.

“A gente já levou ela para a casa mãe Maria. Ela já foi atropelada na sinaleira, já foi hospitalizada, já foi dada toda assistência que a gente podia, a gente já deu para ela aqui. Mas é difícil porque a gente já procurou assistência social, a gente já procurou o poder público, mas infelizmente tem muita coisa que não está ao nosso alcance para a gente ajudar”, afirmou Madalena.

O barraco é rodeado por lixo e não há energia elétrica. A água que os dois usam para as necessidades básicas vem da gentileza de guardas de uma obra próxima. Em meio a toda a situação, Maria sonha com um lugar melhor para descansar e cultivar o que gosta.

“Se fosse do meu gosto, moço, eu plantava de tudo, mas não posso, fazer o que. Essas 11 horas (flor) eu queria, aquelas bem rosinha, mas não encontrei, bem bonitinha né”, descreveu a mulher.

(Foto: Reprodução RPC)

Situação já é conhecida por autoridades

A história de abandono e sofrimento já é conhecida das autoridades. Em 2013, fiscais da prefeitura avisaram ela e o então companheiro, que já morreu, que não poderiam ficar na área pública.

Em nova reportagem da RPC, em 2015, o casal continuava no mesmo local. O então assessor da pastoral da família, o padre Luis Prigol, falava da dificuldade em tirá-los do local.

“Da nossa parte estamos fazendo alguma coisa, mas escapa também das nossas possibilidades, e queremos justamente sensibilizar a sociedade, através dos meios públicos, para ter uma dignidade melhor como família, pessoas, seres humanos”, afirmou na época.

O que diz a Secretaria de Assistência Social

A Secretaria de Assistência Social informou que no passado já foi oferecido um apartamento para Maria, ela se recusou por uma questão particular, afirmando que não queria viver apertada perto de outras pessoas. Isso impediu que ela pudesse ser abrigada em uma casa obtida pelo poder público.

A secretaria informou ainda que médicos que atendem pessoas em situação de rua vão com frequência ao local, mas que as vezes enfrentam dificuldade para acessar o local, por questões de segurança.

Há histórico de atendimento, mas por vezes a mulher se nega a recebê-los, segundo a secretaria.

Recentemente o nome dela foi incluso na lista para receber o Bolsa Família, porém a mulher afirmou que perdeu os documentos pessoais. Até não ter novos documentos, ela não pode usufruir do benefício.

Com G1

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