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Municípios Projeto Roda de Conversa

Professores, ex-professores, coordenadores e diretores se unem para debater o futuro da Unioeste

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Fotos: O Presente

 

A Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) é uma universidade regional multicampi, formada por cinco campus, localizados nos municípios de Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Marechal Cândido Rondon e Toledo. Inicialmente foi resultado da congregação de faculdades municipais isoladas, criadas em Cascavel (Fecivel, 1972), Foz do Iguaçu (Facisa, 1979), Marechal Cândido Rondon (Facimar, 1980) e Toledo (Facitol, 1980). Em 24 de julho de 1998, por meio da lei estadual nº 12.235/98, foi autorizada a incorporação da Facibel à Unioeste e o decreto estadual 995/99 instituiu o campus de Francisco Beltrão.

Abrangendo um total de 94 municípios, sendo 52 na região Oeste e 42 na região Sudoeste do Paraná, a instituição foi reconhecida como universidade por meio da portaria ministerial nº 1784-A, de 23 de dezembro de 1994, e do parecer do Conselho Estadual de Educação nº 137/94. Em dezembro de 2000 houve a transformação de Hospital Regional de Cascavel em Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop) e a transferência deste para a Unioeste, dando suporte às atividades dos cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Odontologia.

Desde então, a Unioeste cresceu rapidamente e hoje é uma das maiores referências do Ensino Superior do Brasil e também do mundo, ocupando colocações de destaque em pesquisas e rankings internacionais.

Entretanto, o futuro da universidade que hoje sustenta uma grande representatividade é motivo de preocupação para aqueles que conhecem de perto a realidade do Ensino Superior público: os docentes. Por isso, analisar a história, pontuar o presente e projetar o futuro é o objetivo de um grupo que reúne professores ativos, ex-professores, coordenadores de cursos e diretores de campi, membros que atuam diretamente na construção de uma das maiores e melhores universidades do Estado.

Desta forma, com o intuito de avaliar e repensar a Unioeste e seu papel como universidade, foi criado o projeto Roda de Conversa sobre a Unioeste, que, de forma independente, discute os gargalos existentes no Ensino Público Superior, como também as potencialidades da universidade. “Pretendemos construir um planejamento mostrando os principais pontos que precisam ser revistos, fazendo com que os candidatos à reitoria assumam esse projeto, que é originário de um grupo mesclado, eclético e consistente, que tem experiência e conteúdo para contribuir”, afirma um dos idealizadores do projeto e professor da Unioeste, Lair José Bersch.

 

Raio-x da universidade

Potencialidades, dificuldades, pontos fortes e fracos. As questões debatidas pelo grupo vão desde a estrutura da universidade até sua metodologia de ensino, perpassando por diversas áreas que, segundo os integrantes, são de extrema importância para analisar a atual conjuntura da Unioeste.

Conforme Bersch, um dos problemas mais graves e que causa angústia é o modelo de gestão que foi implantado na Unioeste. “Compreendemos que ele é um modelo frágil, confuso, que faz encaminhamentos para não decidir nada, além da falta de transparência”, frisa.

Outro ponto debatido, aponta, é a falta de conhecimento da comunidade sobre o que a universidade representa e o que ela produz. A situação, segundo Bersch, não é culpa da população e sim da universidade. “Ela não consegue se comunicar com a sociedade. Faz mal seu trabalho de marketing e comunicação social, pois não investe nessa área, até porque legalmente há alguns impeditivos. Por conta disso, a população não conhece as estruturas dos campi, os laboratórios que existem, as pesquisas que já trazem resultados. Acham que pagam imposto para manter a universidade, mas que isso não traz retorno, e é um engano. Só em Marechal Rondon a Unioeste é 50% do que representa a prefeitura na economia. É um dinheiro que volta em forma de ICMS e que é gasto nos mercados, postos de combustíveis, habitação, entre outros”, menciona o professor.

Além disso, ele ressalta que de acordo com estimativas, a Unioeste já formou no decorrer desses 30 anos de universidade em torno de 45 mil profissionais. “Isso tem um preço imensurável em relação ao que ela custa. A população é quem sai ganhando”, garante.

 

Conhecimento

Desde o ano passado, o projeto promove encontros para fomentar as discussões e ao passo que o grupo cresce aumentam também as proposições acerca da realidade da universidade. Como resultado, será elaborado um documento que será entregue aos candidatos à reitoria, durante as eleições que acontecem no próximo ano. “Vamos dar a eles um trabalho que levaria meses ou até mesmo anos para ser feito. Fazer os candidatos assumirem o compromisso com a comunidade acadêmica de que realmente haja mecanismos de transparência e fiscalização, melhor uso dos recursos, que já são tão escassos, e um forte crescimento da nossa folha”, destaca, acrescentando: “Não temos reajustes há três anos, e se os professores que são os principais sustentáculos da universidade estão todos queixosos, para onde essa folha cresceu? Informalmente sabemos que a folha cresceu com os cargos irregulares que foram criados”.

Bersch participou do início do processo da criação da Unioeste e viveu a transição da antiga Facimar para o campus da Unioeste. Ele relata que viveu a experiência de quando se pagava mensalidade e depois a gratuidade, de quando os professores ganhavam por hora-aula e posteriormente veio o plano de carreira. “Na época nós tínhamos uma mestra e hoje o nosso quadro é composto 70% por doutores. Olhando esse cenário consigo ver o quanto crescemos. Todos os números positivos são frutos de um trabalho de toda essa história, e talvez daqui a cinco ou dez anos, quando vierem os próximos resultados, eles decaiam, porque a gestão não está sendo boa. Estamos perdendo professores e nosso quadro é cada vez mais de temporários ao invés de efetivos”, salienta.

 

Autonomia universitária

O ideal, de acordo com Bersch, seria que o governador do Estado propusesse a implantação da autonomia universitária. “Uma implantação gradativa, que pudesse analisar todo o contexto das universidades públicas estaduais. Sabemos que é uma carga pesada para o governo manter, mas se pegarmos a Constituição Federal fica claro que o Ensino Superior deve ser bancado pela União”, evidencia.

O professor diz que por isso deve-se procurar usar a força política do Paraná e conseguir parte desse recurso para ser financiado pela União. “Então poderemos ter perspectivas de avançar, porque com os orçamentos estagnados e até reduzidos sabemos que o próximo período não vai ser bom. Não se consegue reformar as estruturas físicas, recuperar laboratório, muito menos pensar em investimentos e avanços”, menciona, emendando: “Se os salários forem congelados por mais um período e a pós-graduação continuar sendo vista como um ônus e não como um bônus, vamos acabar perdendo os bons professores”.

 

Metodologias

Para Erneldo Schallenberger, primeiro reitor da Unioeste e atualmente professor sênior aposentado da Fundação Araucária, os cursos de graduação da universidade se consolidaram, mas enfrentam grandes desafios para manter seus alunos. A situação, segundo ele, requer uma revisão das metodologias de ensino. “Lutamos para que a Unioeste não se torne uma universidade fechada em si mesma, com seus guetos internos que olham apenas seus interesses. Isso é um perigo dentro das universidades, principalmente para as públicas. Devemos manter certa crítica sobre isso para que de fato ela esteja voltada aos interesses da sociedade”, frisa.

 

Professor da Unioeste e um dos idealizadores do projeto, Lair Bersch: “Pretendemos construir um planejamento mostrando os principais pontos que precisam ser revistos, fazendo com que os candidatos à reitoria assumam esse projeto, que é originário de um grupo mesclado, que tem experiência e conteúdo para contribuir”

 

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