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Paraná Preocupação

“Brasil não está preparado para falta de adubos e fertilizantes”, diz presidente do Conselho do Agronegócio de Toledo

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Especialista em Agronegócio e presidente do Conselho de Desenvolvimento do Agronegócio de Toledo, João Luis Nogueira: "Este combate já está impactando nos custos, que já estavam altos, pois estamos em um ano proveniente de duas frustrações de safra por questões climáticas” (Foto: Divulgação)

A invasão da Rússia à Ucrânia, na semana passada, teve impacto imediato no mercado financeiro, que reagiu com fortes quedas das bolsas globais e ainda se encontra em um ambiente incerto.

A alta volatilidade de preços no petróleo, fertilizantes, adubos, juntamente com o mercado de proteína animal, são alguns dos efeitos do conflito. Todas essas mudanças refletem diretamente no Paraná, incluindo a região Oeste, celeiro do agronegócio.

Os próximos desdobramentos do conflito serão determinantes para a confirmação ou não de certos cenários, especialmente quanto àrelação comercial entre países exportadores e importadores, considerando que os dois países do Leste europeu fornecem soja,milho, trigo e demais insumos importantes inclusive para a região Oeste paranaense.

 

Ainda é cedo

O especialista em Agronegócio e presidente do Conselho de Desenvolvimento do Agronegócio de Toledo, João Luis Nogueira, diz que ainda é cedo para prever o impacto que o conflito vai gerar. “Vai depender muito da duração do conflito, das sanções econômicas impostas à Rússia e como ela vai responder a isso”, comentou o profissional em entrevista ao O Presente.

 

O que esperar do futuro

Na terça-feira (1º) o Brasil foi avisado que não conseguirá comprar mais fertilizantes de Belarus, país que é responsável por mais de 20% de todo o produto utilizado pelo agronegócio brasileiro. A suspensão das vendas ocorreu devido à proibição do escoamento pela Lituânia, que fechou suas fronteiras.

A possível falta de fertilizantes pode afetar a próxima safra de verão, que começa a ser plantada em setembro. Sem os produtos, a tendência de oferta é diminuir e o preço disparar. Vale lembrar que nos últimos anos os fertilizantes ficaram 155% mais caros.

“O agronegócio brasileiro depende totalmente dos fertilizantes. Este combate já está impactando nos custos, que já estavam altos, pois estamos em um ano proveniente de duas frustrações de safra por questões climáticas”, observa o Nogueira.

Ele explica ainda que no Oeste os fertilizantes são insumos usados principalmente na formulação de rações, tendo em vista que a região é uma grande produtora de proteína animal,sobretudo suínos, aves e peixes. “A redução da oferta mundial de fertilizantes certamente vai nos afetar. O Brasil está diretamente ligado a isto por ser importador e exportador de proteínas e já sentimos o impacto disto aqui na região. Vamos ver como as ações vão se desencadear ao longo do ano”, pontua.

Uma alternativa para o mercado brasileiro, na importação do produto, seria o Canadá, que também é um grande produtor e exportador do cloreto de potássio.

O especialista lamenta o cenário em que tudo isto ocorre. “A pandemia gerou muita distorção no mercado, ansiedade e incerteza. Isso causa inflação e recessão, já que o mercado ainda não encontrou um ambiente calmo o suficiente para que todos os que estão alinhados com o agronegócio possam estabelecer um planejamento sólido”, salienta.

 

Oeste do Paraná

O Oeste do Estado tem a base de produção na pequena propriedade. Ainda assim, mais de 90% estão abaixo dos quatro módulos fiscais. Inclusive, esta foi uma das pautas discutidas entre os agricultores e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, durante sua recente visita à região. “A base de produção das agroindústrias está nas pequenas propriedades. Diferente dos grandes produtores, que possuem alta escala de produção, os pequenos agricultores não conseguem diluir custos”, frisa.

Nogueira alerta que é necessário apoio governamental. Em uma reunião com os assessores da Companhia Nacional de Abastecimento, o especialista diz que já foi relatada a importância do suporte às pequenas propriedades. “Aqui temos uma renda distribuída no campo, na cadeia de produção. Eles justamente socorrerem os produtores na falta destes insumos tão importantes, como a soja e milho principalmente. Tudo isso promove desenvolvimento nos grandes centros urbanos, mostrando que o Oeste do Paraná é um exemplo a ser seguido em todo o Brasil”, ressalta.

 

Impactos a longo prazo

No ano passado o Fundo Monetário Brasileiro já tinha previsto para 2022 uma redução do comércio mundial e do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, com relação aos números de 2021.

Existe uma preocupação, principalmente com o segmento dos granéis de importação, especialmente dos adubos. Para se ter uma ideia, das quase 11,5 milhões de toneladas importadas de fertilizante no ano passado, cerca de 2,35 milhões (mais de 20%) vieram da Rússia.

Os commodities já estão com preços elevados sobre a inflação, e essa matéria-prima leva na esteira altas do custo do combustível e alimentos em geral. Na Bolsa Chicago o trigo, por exemplo, onde a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores globais – representando cerca de 30%, o preço do bushel ultrapassa US$ 11.

“Um preço exorbitante. Temos que considerar que o preço de uma coisa eleva o preço de outra. É uma cadeia dependente. A liquidez muito alta dos produtos no mercado internacional já é algo normal. Não sabemos até onde isso pode ir. Já chegamos a um ponto insuportável de ajustamento de preços para os produtores arcarem com estes custos”, lamenta.

 

Mercado de proteínas animais

Também é impossível prever o que a guerra vai causar no mercado de proteínas animais e carnes no Estado. De acordo com o Sindicarne do Paraná, no momento não está sendo exportado nenhum suíno para os dois países em conflito.

Nogueira cita que a expectativa para 2022 era aumentar a exportação de carne, mas a partir de agora tudo depende da duração da guerra. “O que a gente percebe nesse momento é uma especulação muito grande no mercado internacional de milho, pois a Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores e definidores de preços dessa obra prima”, expõe.

A exportação de frango é mais expressiva. No ano passado, cerca de US$100 milhões foram gerados, informou. Na carne bovina, o valor gerado foi de US$7 milhões e não há informações sobre a interrupção do fluxo dessas mercadorias.

 

Gasolina

O preço da gasolina, que subiu quase 50% nos últimos 12 meses, pode ser fortemente afetado. O petróleo disparou após a invasão russa na Ucrânia, superando o patamar de US$ 100 – o que não ocorria desde 2014.

 

Falta de infraestrutura e logística

Para o especialista, o Brasil não está preparado para a falta de adubos e fertilizantes. Segundo ele, ao longo dos anos não houve um investimento em infraestrutura para que o país fosse menos dependente da importação. “Isso demanda investimento em logística, construção de ferrovias e demais setores. A má condição financeira do país, que tem vivido um problema fiscal sério e que não tem resolução a curto prazo, fez com que estes investimentos fossem contingenciados”, relata.

Ele menciona ainda que o Brasil encerrou 2021 com um déficit de R$ 28,1 bilhões em transações correntes, quase 2% do Produto Interno Bruto (PIB). O Banco Central alegou que este déficit se deu em razão da ampliação de R$ 2,2 bilhões no déficit da renda primária. “Dependemos muito do mercado externo e a balança comercial é superavitária. Precisamos entender que moramos em um país de renda altamente concentrada, mas que a maioria da população vem perdendo a capacidade de compra”, enfatiza.

A queda de renda dificulta uma melhor liquidez e a tendência dos juros é crescer ao longo de 2022.

 

Rússia e Brasil em números

A Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) fez um levantamento prévio de impactos com a guerra. Conforme a entidade, os principais produtos paranaenses exportados para a Rússia em 2021 foram pedaços e miudezas de galos e galinhas (43,3%) e café solúvel (20%). Os cinco principais produtos paranaenses exportados para a Rússia em 2021 foram alimentos e corresponderam a 91,1% de tudo o que foi exportado para o país.

Já nas importações, a Rússia é o 7º maior parceiro paranaense, respondendo por 2,8% das importações em 2021. Os principais produtos importados da Rússia pelo Paraná em 2021 foram: cloretos de potássio (25,7%) e diidrogeno-ortofosfato(20,3%) (fertilizantes). Os quatro principais produtos importados da Rússia pelo Paraná em 2021 foram produtos químicos e corresponderam a 72% de tudo o que foi importado pelo Estado.

Especialista em Agronegócio e presidente do Conselho de Desenvolvimento do Agronegócio de Toledo, João Luis Nogueira: “Este combate já está impactando nos custos, que já estavam altos, pois estamos em um ano proveniente de duas frustrações de safra por questões climáticas” (Foto: Divulgação)

 

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