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Paraná Economia

Sinal amarelo para produção agrícola e expectativas positivas para varejo e construção civil

Economistas chamam atenção para o impacto da redução da safra colhida no Paraná uma vez que setor corresponde a um terço de tudo que é produzido no estado

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(Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná)
(Fonte: IBGE/IPARDES)

2023 fica para trás no Paraná com indicativos de que o ano foi de crescimento da economia. Dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) indicam para alta de 6,9% do PIB – o acumulado de toda a riqueza produzida pelo estado.

Esse valor é uma estimativa considerando dados até setembro de 2023. Em 2022, o estado cresceu 1% em relação a 2021, último ano com dado consolidado sobre o PIB, quando o crescimento foi de 3,5% em comparação a 2020.

Economistas ouvidos pelo g1 consideram que o Paraná pode registrar encolhimento no avanço da economia em 2024, em especial, pelos resultados do setor agro que corresponde a um terço de tudo que é produzido no estado.

Agro impactado pela instabilidade climática

A supersafra nacional de grãos no primeiro semestre de 2023 fez muito bem ao PIB do Paraná com 8,66% de crescimento, de acordo com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

O desempenho foi impulsionado, fundamentalmente, pelo grande volume de soja retirado das propriedades rurais.

Há, entretanto, segundo os especialistas, uma preocupação no radar para 2024.

O segundo prognóstico da produção nacional de grãos, cereais, leguminosas e oleaginosas – apurado pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE – aponta para 2024 uma safra de 306, 2 milhões de toneladas.

O volume representa queda de 3,2% na comparação com a safra anterior. No Paraná, a estimativa parcial do LSPA é de que a safra do ano que vem registre redução de 1,4%.

O economista Jackson Bitencourt avalia que o resultado – que deve ser fruto das instabilidades climáticas – pode afetar a expansão da economia.

Bitencourt pondera, contudo, que este risco pode ser reduzido.

“O risco gerado pela possível quebra na safra pode ser compensado por outros setores, como indústria, por exemplo – já que a economia paranaense demonstrou força neste ano, com efeitos que podem ser multiplicadores em 2024”.

Exportações para China, Estados Unidos e Argentina

Jackson Bitencourt também avalia, ainda, que alguns cenários externos podem interferir nos resultados da Balança Comercial paranaense.

De acordo com o professor, a estimativa de crescimento da China para 2024 deve ficar em 4,5%, mais modesta do que o crescimento de 2023.

“Essa retração no gigante asiático pode desenhar reflexos por aqui, já que a China é o principal destino das exportações paranaenses”, lembra Bitencourt.

Isso, segundo o economista, ainda soma-se à provável redução no ritmo da economia dos Estados Unidos e às incertezas no cenário político da Argentina, que acaba de eleger um novo presidente.

Cenário macroeconômico

Para Lucas Dezordi, doutor em economia, o desempenho dos indicadores de crescimento do Paraná vai depender, em grande medida, do comportamento da Taxa Básica de Juros da Economia (Selic) e da inflação.

A Selic, em dezembro de 2023, estava em 11,75%. Já o a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), até novembro, atingiu 4,04% no acumulado dos 12 meses anteriores.

Considerando esses resultados e as projeções, Dezordi acredita que os preços devem permanecer sob controle, o que manteria o IPCA mais próximo do centro da meta inflacionária definida pelo Conselho Monetário Nacional, de 3,0% para 2024.

“O que a gente pode observar é que a inflação tá perdendo força no que diz respeito ao período mais complicado do processo inflacionário brasileiro que foi o período de 2021 e 2022. Para 2024, a gente entende que há fatores de queda desse processo inflacionário e provavelmente a gente pode ter IPCA em torno de 3,78% mais próximo do centro da meta”, avalia Dezordi.

(Fonte: IBGE/IPARDES.) *O valor de 2022 é uma estimativa.

De olho no varejo e na construção civil

Com inflação sob controle, o economista acredita que não haverá motivos para mudança na rota de queda da Taxa Básica de Juros da Economia, (SELIC) definida pelo Conselho de Política Monetária do Banco Central (COPOM).

Dezordi está entre os economistas que projetam a SELIC próxima dos 9% ao ano em dezembro do ano que vem.

A manutenção da queda dos juros, afirma o economista, dará tração a setores como o varejo e a construção civil do Paraná, que não experimentaram crescimento vistoso em 2023.

É que, com dinheiro um pouco mais acessível, muitos consumidores realizam um movimento bastante típico dessas horas: a busca por financiamentos a longo prazo para financiar imóveis e bens de consumo, por exemplo.

Mas isso ficará mais evidente a partir do segundo semestre, afirma Lucas Dezordi

“(…) Acredito que no segundo semestre de 2024 as condições econômica e financeira vão melhorar bastante na nossa economia, principalmente, para esse setor de comércio, serviços e varejo, e o setor de construção civil, que é importante pra economia nacional e paranaense”.

Fator inadimplência

Quaisquer que sejam as variáveis e previsões para o ambiente nos próximos meses, a confirmação do cenário passará, fundamentalmente, pela capacidade de consumo das famílias.

A busca pela aquisição de bens e de produtos sempre estabelece o ritmo em que gira a economia. Para elevar o consumo, é preciso que a inadimplência comece a ceder com mais consistência.

2023 registrou recordes nacionais na quantidade de consumidores com o nome sujo na praça e, portanto, sem condições de comprar. Sem eles, o consumo não decola.

Inadimplência no Paraná

3.757.777 consumidores negativados (41,8% da população adulta)
22,3 bilhões de reais em dívidas
15.241.439 dívidas
Em média, 4,06 dívidas por CPF

Algumas variáveis da economia oferecem sinais de que, a partir do ano que vem, essa multidão de brasileiros negativados pode, finalmente, diminuir.

Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, afirma que inflação controlada e a melhora nos índices de emprego fazem parte da receita – que exige também outro ingrediente: a manutenção da política de cortes na taxa SELIC.

“São três fatores básicos que determinam a inadimplência. A inflação é um deles e foi o principal fator que desencadeou essa onda de inadimplência desde a virada do primeiro semestre de 2021. Taxa de juros é um outro elemento e a renda do trabalhador que depende do emprego”.

Mas para Rabi, a inadimplência – que no Paraná atingia 41,8% da população adulta em outubro – vai resistir nos primeiros meses do ano que vem.

“Primeiro, a melhora na renda, gerada por emprego, leva à procura pela renegociação de dívidas. O reflexo na rotina das famílias aparece um pouco depois. É um movimento de cada vez”, explica Rabi

“Aquela renda que poderia ir para uma ampliação de consumo acaba indo para o processo de renegociação de dívidas, então a inadimplência alta é o freio para a expansão mais consistente e mais acelerada do consumo, foi assim em 2023 e vai continuar sendo em 2024, pelo menos em boa parte do ano, e enquanto a inadimplência não entrar numa trajetória consistente de redução”.

Com G1

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