A conivência com a corrupção

Indignação. Essa é a palavra que melhor define o sentimento dos brasileiros ao testemunhar a mais recente aberração judicial protagonizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão do ministro Dias Toffoli de anular todos os atos praticados contra Marcelo Odebrecht é um tapa na cara de uma nação que ainda acredita, mesmo que com dificuldade, na possibilidade de justiça e ética na política.

A Operação Lava Jato, a mais audaciosa e bem-sucedida investida contra a corrupção já vista neste país, trouxe à tona uma verdade incômoda: as entranhas do poder estão apodrecidas. Políticos, empresários e servidores públicos tramaram, por décadas, um esquema de corrupção que desviou bilhões dos cofres públicos. E quando finalmente parecia que o Brasil começava a varrer essa sujeira para fora, eis que surge o STF, o mesmo STF que deveria proteger a justiça, para jogar todo esse esforço no lixo.

A decisão de Toffoli é uma verdadeira aberração. Anular os atos contra Marcelo Odebrecht é premiar a impunidade, é validar a corrupção, é debochar do cidadão honesto que paga seus impostos e que tem sido, dia após dia, esfolado por um sistema corrupto e desigual. Essa Corte, que em seus dias mais sombrios parece funcionar como a extensão de um projeto de poder, perdeu completamente a credibilidade junto ao povo brasileiro.

E não para por aí. O ministro Alexandre de Moraes tem se destacado por suas decisões monocráticas e absolutamente inconstitucionais, que mais parecem perseguições políticas do que atos de justiça. Sob o pretexto de defender a democracia, ele toma para si o poder de calar e censurar quem ousa discordar. É o autoritarismo disfarçado de legalidade, uma verdadeira afronta à liberdade de expressão e aos direitos fundamentais de uma democracia.

Enquanto isso, o Congresso Nacional assiste a tudo de camarote, acovardado e omisso. Deputados e senadores, que deveriam representar a vontade do povo e zelar pelo equilíbrio dos poderes, têm se mostrado incapazes de agir diante da ruína. Preferem o silêncio, a omissão, a submissão. Covardes! O Brasil não merece tamanho desrespeito!

Mais uma vez, a corrupção venceu. A anulação dos atos contra Marcelo Odebrecht e as decisões arbitrárias de Alexandre de Moraes são sintomas de uma justiça que, quando quer, é devastadora para quem combate a corrupção.

O Brasil se vê à mercê de um STF desacreditado, cuja atuação se distancia cada vez mais dos anseios de uma sociedade que clama por justiça e honestidade. A Operação Lava Jato, com todos os seus méritos e conquistas, não pode ser lembrada como uma exceção, mas como um exemplo do que deveria ser a norma em nosso país. A justiça, afinal, deve ser cega, mas nunca conivente.

 

 

 

 

Giuliano De Luca é jornalista, editor-chefe do O Presente Rural e do O Presente Pet

 

 

 

 

 

 

 

 

 

@giulianojornalista