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Política Pato Bragado

“Eu sei porque as denúncias foram feitas. Queriam me tirar do páreo”, relembra Normilda

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Ex-prefeita de Pato Bragado, Normilda Koehler (MDB): “Espero que o John (Nodari, PSD) seja o candidato do grupo" (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Foram 45 anos de casamento, período em que teve em seu companheiro o grande incentivador e apoiador na vida pública. Ano passado, em junho, a ex-prefeita de Pato Bragado, Normilda Koehler (gestão 2005/2008 e 2009/2012), perdeu seu marido Paulo.

Ainda vivendo o período de luto e mais reclusa em casa por conta da pandemia, ela recebeu a reportagem do Jornal O Presente para uma entrevista.

Na oportunidade, Normilda revelou que não tem pretensão em ser candidata novamente e falou sobre as denúncias que surgiram em sua gestão, as quais ela reforça que tinham apenas como objetivo tirá-la da política. Confira.

 

O Presente (OP): A senhora sofreu ano passado dois baques. A pandemia lhe afastou das salas de aula e das atividades comunitárias e, junto a isso, o seu marido faleceu. Como está a Normilda hoje?
Normilda Koehler (NK): Estou me recuperando. Foi um período difícil mesmo, pois primeiro veio a doença e depois a morte. Algo que nunca esperamos. Junto com tudo isso surgiu a pandemia, o que fez com que nos recolhêssemos dentro de casa. Na escola, onde eu mais atuava, e na comunidade, principalmente na comunidade católica, tivemos que nos afastar. Passamos a dar aula on-line e na igreja fizemos trabalhos que precisavam ser feitos, alguns a distância. É um período difícil para todas as pessoas, e não somente para mim. É difícil quando se tem uma convivência dentro da comunidade e de repente tem que se afastar. Sou uma pessoa do grupo de risco e só saio para ir ao mercado, farmácia, banco. Falta aquele abraço, convivência, carinho. Aos poucos vamos nos recuperando e esperamos que essa pandemia vá sumindo com a vacinação. Eu confio na vacina, porque a ciência é muito importante. Não estariam vacinando se não houvesse eficácia. Talvez não haja eficácia completa, mas tenho certeza que aos poucos vamos começar a retornar, mas acho que nunca mais será como antes.

 

OP: A senhora tem saudade da vida pública?
NK: Às vezes sinto falta, porque tinha um envolvimento muito grande. A vida pública faz com que você fique mais perto das pessoas. Eu gostava muito das pessoas, aquela convivência, e tenho um carinho especial pela população de Pato Bragado, onde vivo há 46 anos. Tenho um círculo de amizade e as pessoas sabem quem é a Normilda. A vida pública lhe aproxima das pessoas.

 

OP: E tem vontade em voltar para a vida pública?
NK: Não, por enquanto não. Não posso falar nunca mais, porque às vezes as pessoas falam ‘nunca mais vou fazer isso’ e de repente estão fazendo. Não tenho pretensões. Quero terminar a minha profissão, pois ainda estou como professora. Espero concluir este meu ciclo. Além disso, há tantos jovens que podem assumir cargos. Já estou com idade e penso que há outras pessoas que podem fazer um trabalho a contento da nossa comunidade. Há muitos jovens que ultimamente aderiram à política. Desejamos que façam um trabalho voltado à nossa população e que pensem não somente em si, mas no crescimento do nosso município. Pato Bragado está crescendo e tenho orgulho disso, porque uma parte iniciou muito no incentivo à industrialização na época em que fui prefeita junto com nossa equipe. Fizemos com que Pato Bragado mudasse um pouco esse setor e não dependesse só dos royalties. Isso me orgulha muito, mas não tenho pretensões.

 

“Não posso falar nunca mais, porque às vezes as pessoas falam ‘nunca mais vou fazer isso’ e de repente estão fazendo. Não tenho pretensões. Quero terminar a minha profissão”

 

OP: Quando se fala em eleição municipal e começam a ser cotados nomes, o seu sempre acaba citado. Então não há esse desejo em retornar à política?
NK: Não, não tem porque. Há tantas outras pessoas que poderão assumir esses cargos. Eu sempre estarei junto do grupo para que possamos ajudá-las a contribuir para que o município continue crescendo.

 

OP: A senhora acha que o vice-prefeito John Nodari (PSD) é o nome natural do grupo como principal pré-candidato para disputar a prefeitura na eleição de 2024?
NK: Acredito que sim, porque no ano passado o nome do John já começou a surgir. É um jovem com bastante empenho em desenvolver a atividade que faz. Começou a trabalhar em 2005, 2006, quando fui prefeita. É um jovem bem ativo dentro da comunidade e penso que o nome dele vai continuar sendo apontado como o próximo candidato a prefeito. Depende tudo do trabalho que está fazendo. Ele continua na Secretaria de Saúde, onde ninguém mais está querendo assumir o cargo, e está buscando soluções para que a população seja bem atendida. Espero que o John seja o candidato do grupo. Esperamos que o grupo continue e penso que o nome dele vai permanecer apontado para ser o próximo candidato a prefeito.

 

OP: Em 2024 o grupo de situação vai em busca do 6º mandato consecutivo. Qual linha deve ser mantida e de que forma não se perder no caminho para conseguir garantir a próxima eleição?
NK: É difícil, mas já estamos no 5º mandato desde que nosso grupo assumiu. Na época diziam que nosso grupo era oposição e não teria condições em administrar o município, mas mostramos que temos capacidade. Primeiro, tem que ter pessoas sérias. É preciso seriedade e comprometimento. Se não há comprometimento não adianta querer impor para ser prefeito ou algum cargo dentro da comunidade. E a comunidade avalia o trabalho sério que estamos fazendo e o progresso que acontece no município. Veja o crescimento de Pato Bragado em 16 anos. Muitas pessoas vêm ao município porque hoje existe a oferta de emprego. A industrialização que iniciou em 2008, 2009, e hoje está em expansão, faz com que novas pessoas venham, profissionais capacitados, que têm experiência, que vêm para trabalhar em Pato Bragado. Quem vem morar aqui vê o atendimento que está sendo prestado, tanto na área social, saúde, agricultura, educação. Isso faz com que as pessoas acreditem no grupo. Inclusive a cada eleição há pessoas que estavam na oposição e hoje estão conosco.

 

“Quem vem morar aqui vê o atendimento que está sendo prestado, tanto na área social, saúde, agricultura, educação. Isso faz com que as pessoas acreditem no grupo. Inclusive a cada eleição há pessoas que estavam na oposição e hoje estão conosco”

 

OP: A senhora acha que é por isso que a oposição, que se enfraqueceu, tem dificuldade em se reestruturar?
NK: Enfraqueceu bastante. Na última eleição foram eleitos dois vereadores da oposição e o nosso grupo elegeu sete. Significa que nosso grupo se fortaleceu. Eu digo que não adianta querer ser oposição ferrenha, só criticar, achar que tudo está errado no município. Não é assim. Tem que avaliar. Existem coisas que precisam ser melhoradas, é claro, mas não é somente com críticas e no período que antecede uma eleição. Levantem essas situações e ajudem a solucioná-las. Se a oposição ajudar a solucionar os problemas que existem, em vez de ficar criticando, ajudará a fortalecer o outro grupo. Hoje, a política está diferente. Antes o bom era a oposição ferrenha, aquele que criticava, denunciava, mas hoje o povo não quer mais isso. O povo quer resultado, crescimento, fortalecimento do município, ser bem atendido.

 

OP: Ainda há mágoas com pessoas da oposição pelas denúncias que foram feitas contra a sua gestão e a senhora?
NK: Em um ponto fico um pouco magoada, fico. Não sou pessoa de guardar remorso, mas me magoa. Das pessoas que fizeram (as denúncias), algumas já estão pagando. Eu digo que nunca quero que os outros sofram, mas de alguma ou outra forma têm que pagar. Eu sei porque as denúncias foram feitas. Queriam me tirar do páreo. Não queriam mais que a Normilda fosse candidata. Sabiam das chances que eu teria, porque trabalhamos e a população sabe avaliar. De alguma forma fico magoada, pois utilizaram de alguns artifícios que nos magoaram. As pessoas são beneficiadas de uma forma tão concreta com aquilo e denunciam.

 

OP: Como estão os processos hoje?
NK: Estão tramitando. Novas avaliações estão sendo feitas. A questão eram as avaliações (dos imóveis). O que o município vendeu por meio de leilão foi feito um trabalho de divulgação e tudo dentro da legalidade. Tínhamos avaliações de terrenos que foram vendidos, indústrias que estavam construídas há 20 anos e foram avaliadas. As avaliações foram feitas por profissionais dentro da área que ganharam licitação para isso. Mas aí pessoas levantaram algumas questões e contrataram “peritos”, que não tinham registro do Creci (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) e que deveriam ter na época para fazer novas avaliações, as quais foram feitas com valores bem superiores. Então houve indícios de que vendemos por um preço abaixo. Foram feitas essas denúncias tanto no imóvel da Beira Lago como em outros. Nós não tínhamos feito avaliação apenas para a venda, mas para o Tribunal de Contas (TCE), que exigiu que todos os bens do município fossem avaliados. Contratamos uma empresa com profissionais da área e essas avaliações tinham sido feitas antes. Os preços depois, com novas avaliações, eram praticamente iguais. Porém, com as denúncias o Ministério Público decidiu investigar. Isso é demorado.  

 

OP: Já faz dez anos?
NK: Exato. Estamos esperando. Vamos ver o que vai dar.

 

OP: Em relação à Faville, como está o processo?
NK: Esse processo encerrou. Eu, como prefeita à época, o secretário de Finanças e os vereadores que aprovaram a lei tivemos que pagar uma multa. Pagamos e o processo encerrou. A Faville tinha dado como garantia a empresa. No entanto, como o empresário precisou financiar todos os maquinários foi dada garantia ao CPF do Dali (Zadinello). A Faville entrou em falência e tivemos que pagar uma multa. Desse dinheiro que foi emprestado alguma parte ainda está depositado em juízo. Não sei se será devolvido ao município. Não sei como vai ficar isso.

 

OP: Na época houve muito questionamento sobre a instalação da Faville em Pato Bragado diante da falência da empresa. O imóvel depois foi leiloado e a Hiléia adquiriu, sendo que hoje a indústria de alimentos está funcionando e em expansão. Como a senhora se sente?
NK: Tivemos o azar da questão que houve com a Faville, mas tenho orgulho em ver a Hiléia funcionando e quem passa vê a expansão, a construção para ampliação da fábrica. Não sei ao certo quantos funcionários a empresa tem, mas há muitos funcionários, muitas pessoas que têm o pão na mesa para seus filhos graças à indústria. Alguém sofreu, mas com certeza muitas pessoas no nosso município hoje estão sendo beneficiadas, não somente os funcionários, porque todo mundo ganha. Todos ganham com a industrialização. Não me sinto culpada, porque na época o que procuramos foi trazer a industrialização para Pato Bragado, e foi um marco quando a Faville veio. Infelizmente tivemos os percalços. Houve denúncias também, mas hoje sinto orgulho em ter essa indústria dentro do município.

Ex-prefeita Normilda Koehler: “No me sinto culpada, porque na época o que procuramos foi trazer a industrialização para Pato Bragado, e foi um marco quando a Faville veio” (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

 

OP: Há poucos dias a região perdeu o deputado federal José Carlos Schiavinato (PP), que foi prefeito de Toledo na mesma época em que a senhora governou Pato Bragado. Há algum nome na região que pode preencher esse vazio que ele deixa?
NK: Primeiramente, é lamentável a perda dele. Eu sinto muito o falecimento do grande amigo e deputado federal. Na época que fui prefeita por oito anos ele também foi. Foi um amigo que sempre tentou ajudar. Ele dizia o que estava fazendo em Toledo, o que dava certo, compartilhava a experiência. Com certeza vamos ter pessoas que vão preencher o espaço político, mas no momento não temos alguém que vai substituir o Schiavinato. Temos o nosso sempre deputado Dilceu Sperafico (PP), que quem sabe poderia ser a pessoa para concorrer novamente. Mas um dia ele me falou que já tinha feito sua parte como deputado federal. Acredito que o Sperafico tem outras pretensões. Existem pessoas jovens que, talvez amanhã ou depois, possam concorrer como deputado federal ou mesmo estadual. Acho que é o momento dos municípios se unirem, escolherem nomes que vão concorrer e trabalhar em cima destas pessoas, porque senão a região Oeste fica sem representante.

 

OP: Isso afeta muito os municípios?
NK: Afeta, pois não temos a quem recorrer. Lembro quando fui prefeita como era importante ir a Brasília e encontrar o Sperafico, que era um apoio, o Moacir Micheletto (já falecido), que foi um grande deputado que tentava nos ajudar. Você vai a Brasília e precisa ter alguém que vai orientar, que vai ajudar, que vai junto nos ministérios. A mesma coisa no Estado. Na última eleição Marechal Cândido Rondon e toda nossa região ficou sem representante. Municípios com o agronegócio tão forte, como temos aqui, e não temos um representante? É o momento dos municípios se comprometerem, se unirem e trabalharem em cima de alguns nomes. Os candidatos de fora que recebem poucos votos nunca mais aparecem, mas por outro lado tiram votos daqueles que poderiam ser eleitos. Essa experiência eu tive quando fui prefeita. Não vou citar nome, mas procurei um deputado que na época tinha feito em torno de 300 votos em Pato Bragado. Fui procurá-lo no gabinete e ele simplesmente me disse que com os 300 e poucos votos não poderia ajudar o meu município, pois precisava ajudar os municípios que tinham dado a ele cinco mil, seis mil, dez mil votos. Esses 300 votos ajudaram a elegê-lo, mas não fazem com que seja comprometido.

 

Por Maria Cristina Kunzler/O Presente

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