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Política Entrevista ao Pitoco

Evandro Roman: “Temer tem um encontro com a lei agendado para janeiro próximo”

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Deputado federal Evandro Roman: "Brasília tem uma particularidade que os parlamentares que comparecem aqui de terça-feira a quinta-feira não entenderam: o fim de semana e a segunda-feira reservam muitas agendas políticas de articulação" (Foto: Vanderlei Faria)

São 19 horas de uma sexta-feira. É o momento de fazer rufar os “tambores” de “O Guarani” para anunciar a “Voz do Brasil”. O telefone toca no anexo IV, gabinete 303 da Câmara dos Deputados.

No terceiro ou quarto toque, uma voz masculina atende. É o próprio parlamentar, àquela altura do clássico de Carlos Gomes sozinho no gabinete de um Congresso já esvaziado pela rotina da vida mansa da Capital Federal.

O expediente de Evandro Rogério Roman em Brasília pressupõe longas jornadas. A reportagem pede então alguns minutos para uma entrevista por telefone mesmo. E já avisa que o tema é espinhoso: gastança, foro privilegiado, cobrança de desempenho, votos controversos.

O doutor pela Unicamp tem um entendimento de mandato difícil de ser assimilado em nossa cultura política do tapinha nas costas. Para o deputado que foi árbitro da Fifa, há muita gente jogando para a plateia na vida pública. Ele assumiu o risco de votar pautas impopulares e diz que a função parlamentar precisa ser melhor entendida.

Aqui, um resumo da conversa que começou junto com a “Voz do Brasil” e terminou quando William Bonner deu boa noite com um sorriso forçado no “Jornal Nacional”:

 

Pitoco: É comum ouvir das pessoas que vocês, de Brasília, estão de costas para o Brasil. Que vocês estão distantes, vivendo em um mundo à parte de privilégios e gastança.

Evandro Roman (ER): É compreensível que as pessoas pensem assim. De fato, muitas ações emanadas de Brasília estão descoladas das reais necessidades dos brasileiros. Uma parte disso vem de uma certa incompreensão do papel do agente político, do parlamentar…

 

Pitoco: Por que vocês se julgam incompreendidos?

ER: No senso comum, imagina-se que o deputado que não aparece na bodega da periferia, na abertura da feira ou na quermesse, é um político ausente. Confunde-se o papel do deputado com o do vereador do bairro.

 

Pitoco: E não é assim?

ER: Olha, Cascavel dista 1.428 quilômetros de Brasília. Não dá para fazer um expediente calça curta em Brasília para vir dar tapinha nas costas. Assim você não faz bem feito uma coisa nem outra.

 

Pitoco: Alguns deputados federais estão sempre por aqui…

ER: Brasília tem uma particularidade que os parlamentares que comparecem aqui de terça-feira a quinta-feira não entenderam: o fim de semana e a segunda-feira reservam muitas agendas políticas de articulação que podem virar resultado para os municípios que representamos.

 

Pitoco: E quais são seus resultados?

ER: Ações políticas do meu mandato já produziram R$ 122 milhões para Cascavel. E esse número vai passar fácil de R$ 150 milhões nos próximos meses. Isso é o resultado de muitos fins de semana e longos expedientes em Brasília.

 

Pitoco: Você está colocando verba de Itaipu nesta conta. Não é inadequado?

ER: É muito apropriado. A verba sempre existiu, pelo menos desde 1974. E por que não vinha para a base? Não vinha porque não havia uma ação política neste sentido e os recursos eram pulverizados Brasil afora. Agora, os recursos gerados no Oeste do Paraná são destinados para os municípios que de fato foram impactados.

 

Pitoco: O nobre deputado apanhou muito nas redes sociais quando votou para impedir o processo contra o presidente Temer. Foi uma espécie de suicídio eleitoral?

ER: Não cabia a nós impedir que o presidente responda por seus atos. Daqui a sete meses, ele estará respondendo a Justiça como qualquer outro cidadão estaria. A propósito, em nenhum momento a investigação cessou, como podemos ver todos os dias na imprensa. Naquele momento histórico, o processo só interessava para a turma do quanto pior, melhor.

 

Pitoco: Explique melhor…

ER: O Brasil vinha de uma herança desastrosa da era PT. Foram governos trágicos para a economia. Temer, apesar de alguns erros na composição do Ministério, escolheu muito bem a equipe econômica. A inflação e os juros, que punem a todos, porém com mais rigor os mais pobres, caíram para níveis jamais vistos. Aprofundar a crise política para contagiar a economia é algo absolutamente irresponsável.

 

Pitoco: Acha que isso pode lhe custar a renovação do mandato?

ER: Frequentemente a classe política é acusada de esquecer a próxima geração em nome da próxima eleição. Homem público tem que ter posição. Poderia muito bem me ausentar, ou encontrar uma desculpa populista para ficar bem com todo mundo. Mas esse não é meu perfil. A estabilidade econômica precisa ser colocada acima da disputa política.

 

Pitoco: Há quem diga que a bancada oestina votou com o Planalto em troca de verbas para a base…

ER: É bom lembrar que as emendas parlamentares agora são impositivas. Se esse escambo fosse verdadeiro, todos os deputados daqui teriam muitos recursos para Cascavel e região, certo? Mas não foi esse o desempenho da maioria deles.

 

Pitoco: Então o Temer vai ficar impune?

ER: Repito, ele tem um encontro com a lei agendado para janeiro próximo. O Parlamento não o blindou e nem teria poderes para isso. Como disse o magistrado, por mais alto que alguém possa estar, não estará acima da lei.

 

Pitoco: O ex-presidente Lula é um preso político?

ER: Como alguém já disse antes de mim, Lula não é um preso político. Lula é apenas um político preso. A prisão dele e de parte da quadrilha me deixa ainda mais convencido de que agi corretamente quando votei pelo impeachment da ex-presidente Dilma.

 

Pitoco: Concorda que o Parlamento brasileiro é caro e perdulário?

ER: Concordo. Acredito que possamos reduzir os custos significativamente. Acredito que isso deva ser aplicado nos três poderes, que também gastam muito e mal. Sei que é uma luta inglória, mexe com privilégios secularmente arraigados em nossa cultura e passa inclusive por erradicar o hábito de uma parcela do eleitorado de “morder” o político, onerando o mandato e o desviando de suas reais atribuições.

 

 

Pitoco: Seu prestígio com os sindicatos não é dos melhores depois da votação da reforma trabalhista…

 ER: Votei a favor da reforma. E o fiz de forma convicta. Era preciso atualizar a legislação, pôr um freio na indústria de ações trabalhistas e no peleguismo sindical. Os trabalhadores foram beneficiados: não terão mais que devotar um dia de trabalho para o sindicato, caso o considerem inoperante.

 

Por Jairo Eduardo/O Pitoco

 

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