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Política PRISÃO

Lula se entrega à PF em São Paulo e chega a Curitiba para cumprir pena

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Reuters/Paulo Whitaker

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou, por volta de 22h, ao aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana em Curitiba, para cumprir o mandado de prisão do juiz federal Sérgio Moro. O trajeto rumo a capital paranense começou no início da noite, quando Lula deixou o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) para se entregar à Polícia Federal.

Tanto no aeroporto quanto na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, Lula era aguardado por apoiadores e opositores.

A saída de Lula do sindicato, onde estava desde quinta-feira à noite, foi dramática. Por volta de 17 horas, o ex-presidente chegou a entrar no carro para deixar o prédio, junto de seu advogado Cristiano Zanin, mas o veículo foi impedido de partir por apoiadores do petista, que bloquearam os portões. Barricadas foram improvisadas por manifestantes em todas as saídas do edifício.

Em uma segunda tentativa, por volta de 18h40, Lula saiu andando para fora do sindicato, escoltado por seguranças, e conseguiu finalmente entrar em um veículo da PF.

O anúncio de Lula de que iria se apresentar à Polícia Federal para cumprir a pena de prisão ocorreu por volta de meio-dia, em um discurso emocionado no alto de um carro de som posicionado em frente ao sindicato. Durante sua fala, o ex-presidente era interrompido por gritos de “não se entrega”, “resiste”.

Desde quinta-feira à noite, os correligionários políticos de Lula vinham conclamando os manifestantes a resistirem, também no carro de som.

“Vou atender o mandado (de prisão) deles para fazer transferência de responsabilidade. Acham que tudo o que acontece no país é por minha causa”, afirmou o ex-presidente.

 

Mandado

Lula voltou a negar a posse do tríplex no Guarujá pela qual foi condenado e atribuiu sua condenação à pressão da opinião pública e ao interesse em afastá-lo das eleições de outubro.

“Por isso sou um cidadão indignado, por terem passado à sociedade a ideia de que sou ladrão”, afirmou, agregando que “quanto mais me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro”.

Apesar do discurso, ainda não está claro, porém, como será a apresentação de Lula à PF, algo que foi alvo de negociações ao longo de toda a sexta-feira.

O juiz federal Sergio Moro havia definido sexta como o dia em que Lula deveria começar a cumprir a pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas uma estratégia do petista acabou por alterar o roteiro traçado pelo magistrado, estendendo para o final de semana o imbróglio sobre a situação.

Após um dia marcado pela reunião de uma multidão em volta do Sindicato dos Metalúrgicos, a Polícia Federal anunciou que não cumpriria o mandado de prisão contra o ex-presidente na sexta, enquanto fontes ligadas ao petista sugeriam que ele poderia se entregar às autoridades nos próximos dias.

Lula veio a público neste sábado, quando ocupou o palanque da missa celebrada por Dom Angélico Bernardino no próprio sindicato, em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia. Morta no ano passado, Marisa completaria 68 anos no sábado.

Ao mesmo tempo, o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin negou, na manhã deste sábado, pedido de liminar feito na véspera pela defesa de Lula, pela suspensão da prisão.

Na sexta-feira, o Supremo Tribunal de Justiça havia negado também um habeas corpus da defesa, que questionava a decretação da prisão antes que os advogados pudessem apresentar seus últimos recursos – os chamados “embargos dos embargos” no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).

 

Negociações

As conversas em torno da prisão de Lula foram lideradas pelo ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo e pelo advogado Sigmaringa Seixas. Sigmaringa é amigo pessoal, antigo articulador petista junto ao Judiciário e homem de confiança de Lula.

Já Cardozo liderou a Polícia Federal ao longo dos quase seis anos em que esteve à frente da pasta da Justiça, na gestão Dilma Rousseff. Nesse período, ele conquistou a confiança da corporação por não intervir nos procedimentos investigativos, especialmente naquelas da Operação Lava Jato. Seu comportamento de pouca interferência em relação à corporação chegou a provocar críticas do próprio Lula. Mas foi justamente o estilo que o converteu em um negociador privilegiado do destino de Lula.

Por meio de ambos, o ex-presidente pleiteava ser preso em São Paulo, não em Curitiba, onde uma sala de 15 metros quadrados na sede da PF o esperava há dias. Também fazia questão de estar presente, ao lado dos filhos, à missa em homenagem à Marisa Letícia neste sábado.

Outra exigência de Lula era não passar por práticas vexatórias, como ser algemado (possibilidade que o próprio Moro já havia excluído em sua ordem de prisão), ser colocado em camburão e ter seu cabelo raspado.

Na prática e distante dos olhos da militância, Lula admitia se submeter à ordem judicial e ir para a cadeia em breve. No entanto, deixava claro que sua força política e popular o credenciavam a se entregar em seus próprios termos, e não naqueles estabelecidos pelo juiz Sergio Moro.

Com informações BBC Brasil

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