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Política Eleições 2022

“Nós, do interior, precisamos resgatar nossa força política”, defende César Silvestri Filho

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Pré-candidato ao Governo do Paraná pelo PSDB, César Silvestri Filho, em visita ao Jornal O Presente (Foto: Maria Cristina Kunzler/OP)

Pré-candidato a governador pelo PSDB diz que apenas desta forma será possível pulverizar os investimentos, que hoje estão concentrados em Curitiba e Região Metropolitana

Ex-prefeito de Guarapuava, ex-deputado estadual e produtor. Este é César Silvestri Filho, pré-candidato a governador do Paraná pelo PSDB. Em visita ao Jornal O Presente, ele explicou o motivo pelo qual decidiu colocar o nome à disposição em uma campanha que, aparentemente, será polarizada entre o governador Ratinho Junior (PSD) e o ex-governador Roberto Requião (PT), bem como disse o que pretende apresentar como um diferencial no seu projeto político.

Silvestri relembrou ainda sua saída repentina do Podemos, partido que presidia até o começo do ano, para ingressar no PSDB, e detalhou por que fez a troca de filiação. Confira.

O Presente (OP): Em uma campanha em que um dos futuros candidatos vai à reeleição, normalmente é uma eleição mais difícil. E, até o momento, há uma polarização entre o governador Ratinho Junior e o ex-governador Roberto Requião. Por que se colocar como pré-candidato a governador neste cenário?
César Silvestri Filho (CSF): A candidatura não existe ou deixa de existir em razão da facilidade do processo. Ela existe em razão da necessidade que nós vemos em trazer um novo viés de debate no Estado. Entendo que o Paraná não pode, pela complexidade que tem, pela relevância econômica, pela diversidade cultural, imaginar que vamos ficar representados por apenas duas vozes. A nossa pré-candidatura representa um novo olhar para o Paraná a partir da vivência e da nossa visão de Estado. Eu sou produtor e uma liderança política do interior, que me viabilizei como prefeito do interior, prefeito bem avaliado, que teve uma administração bem-sucedida, e que continua vivendo e criando seus filhos no interior. Entendo que essa visão de Estado e essa forma de enxergar o nosso Paraná como um todo é um elemento necessário para este debate. Para, a partir disso, debater questões que nos interessam diante dos problemas que conhecemos, dos desafios que temos para fortalecer a infraestrutura da nossa produção rural, a questão do pedágio com maior aprofundamento, crise na segurança pública, fragilidade no modelo educacional, sobretudo no ensino profissionalizante e técnico feito hoje no Ensino Médio. São todos debates necessários que precisam ser feitos e, neste momento, me disponho a apresentar. Acredito que à medida que o povo do Paraná for me conhecendo, for conhecendo nossas propostas e tendo identidade com o que representamos, vamos crescer nesse processo eleitoral.

 

OP: A sua pré-candidatura é para valer?
CSF: Ela é para valer e estou muito determinado a ser candidato. Não fosse isso, não teria feito a mudança de partido. Já vim para o PSDB com esse compromisso de levar o projeto da candidatura ao governo. Não tenho nenhum outro projeto de candidatura a não ser este. Não existe um plano B. Realmente entendo que a maior contribuição que posso dar ao Estado, neste momento, é apresentando a candidatura ao governo, pela experiência com Executivo, como ex-prefeito e ex-deputado. Entendo que pelo meu perfil e experiência a maior contribuição é como candidato ao governo.

 

OP: Quem é ou será seu pré-candidato a vice-governador?
CSF: Eu não tenho definido ainda o vice, porque todo o processo de construção da aliança está no início. Os partidos estão vindo conversar conosco e nós também procuramos partidos neste momento. Isso vai se alongar até o início de agosto. Tradicionalmente, sabemos que estes casamentos realmente se consolidam às vésperas do prazo das convenções. Então só mais para frente, à medida em que ficar claro quais serão os partidos que estarão comigo na aliança, é que buscaremos o nome para composição da vice. Mas uma coisa é clara: não vou buscar alianças com partidos que não tenham identidade conosco. Eu sou um político que nunca fiz alianças com partidos de esquerda. Vamos buscar ter coerência com a composição da nossa chapa.

 

OP: O PSDB e o Cidadania anunciaram a formação da federação. No Estado, o deputado federal Rubens Bueno (Cidadania) disse que apoia o governador Ratinho Junior. Isso causa uma saia justa nesta composição de federação?
CSF: Não. A federação é uma decisão nacional…

 

OP: Mas que tem impacto no Estado.
CSF: Sim. Ela é tomada nacionalmente e em todos os Estados se obriga a repetir. No Paraná, o Cidadania já tinha uma aliança anterior. O filho do Rubens Bueno é secretário de Estado, o partido tem secretarias, então eles têm uma relação muito próxima com o atual governo, que me faz compreender a decisão deles em querer continuar com o governo. No meu ponto de vista não há constrangimento nenhum. O que posso afirmar é que tenho muitos amigos no Cidadania, porque é o partido em que caminhei por muito tempo. Acredito que na base do partido muitos estarão conosco, apesar das lideranças hoje terem compromissos com o atual governo.

 

OP: A sua saída do Podemos, no início do ano, foi vista como repentina. E logo o senhor já foi para o PSDB com o status de pré-candidato a governador. A sua desfiliação está bem resolvida hoje com o Podemos?
CSF: Está bem resolvida. Na verdade foi uma decisão que, em um primeiro momento, causou descontentamento por parte de alguns dirigentes do Podemos, porque queriam que eu continuasse no partido. Mas ficou claro para todos nós que havia uma divergência muito grande de entendimento sobre os andamentos do processo eleitoral. O senador Alvaro Dias (Podemos) procurou, até o último momento, fazer uma aliança com o Ratinho na esperança do governador apoiá-lo ao Senado. Eu sempre entendi que este não era o melhor caminho. Entendia que isso enfraquecia um projeto de crescimento do partido na medida em que ele abria mão de ter um palanque próprio, que naquele momento tinha, inclusive, o Sergio Moro como pré-candidato a presidente. E, também, já tinha convicção de que o Ratinho não cumpriria o compromisso que tinha com o Alvaro. Eu tinha isso claro. Entretanto, o Podemos decidiu insistir nesta aliança e o PSDB, ao perceber a minha disposição em construir uma candidatura ao Governo do Estado, me procurou e ofereceu esse espaço e esta oportunidade. Como sempre tive uma ótima relação com o PSDB, para mim foi um processo natural. Fiquei muito em casa e me senti à vontade. Apesar destas divergências lá no início, não foi algo alimentado. Então é uma coisa de fácil superação. Não é nenhum problema maior. É um problema de divergência de projeto político em determinado momento, mas que já está superado.

 

OP: O Podemos pode estar contigo na campanha?
CSF: Da minha parte não tenho dificuldade alguma para que isso aconteça, até porque boa parte do que o Podemos é hoje é fruto do trabalho que fiz lá atrás na construção do partido. Muitos dos filiados do Podemos são pessoas que entraram no partido pelas minhas mãos, que eu filiei, organizei, apoiei nas eleições municipais. A base do Podemos, em grande parte, é muito próxima de mim. Não teria nenhuma dificuldade em ter entendimento com o Podemos e ficaria muito feliz, inclusive, se pudéssemos estar juntos.

 

OP: O senador Alvaro Dias ainda não declarou oficialmente se vai disputar a reeleição e, com isso, vem perdendo espaço com outras pré-candidaturas que surgiram. O Sergio Moro entrou e saiu do Podemos. O senhor acha que se desfiliou do partido no momento certo?
CSF: Eu acho que me desfiliei, sim, no momento certo. O Podemos se perdeu na clareza de projeto e decidiu ficar refém da decisão de outros. Acho que este é um erro estratégico de qualquer partido. Um partido não pode nunca perder a sua autonomia e a clareza de aonde quer chegar. Neste aspecto acho que acabei decidindo antes até do que acabou acontecendo depois, pois ficou claro que o Moro saiu do Podemos porque o partido também deixou de priorizar a candidatura à Presidência na metade do caminho. Por isso ele acabou desistindo. Então essa falta de clareza do partido acabou levando a todo esse problema que estão enfrentando hoje.

 

OP: Quando o senhor entrou no PSDB algumas lideranças saíram do partido, inclusive deputados. Isso fragilizou a sigla?
CSF: Não. Não podemos lamentar a perda daquilo que já não se tinha. Esses deputados que saíram já tinham compromisso com o atual governador. Inclusive um deles já tinha anunciado, publicamente, que iria para o partido (do PSD) muito antes da minha filiação. O que posso dizer é que até revigoramos o PSDB, porque com a minha vinda ganhamos duas deputadas novas, Cristina Silvestri e Mabel Canto; ganhamos a filiação do ex-prefeito de Ponta Grossa, Jocelito Canto, que é pré-candidato a deputado federal; recebemos a filiação de lideranças importantes do interior do Paraná, inclusive algumas delas já ligadas a mim, que saíram do Podemos para me acompanhar no PSDB. O que percebo é que minha vinda trouxe para o partido uma nova fase, de quadros novos, lideranças mais jovens. Acho até que ajudamos a dar uma oxigenada no PSDB do Paraná.

 

OP: Quem de certa forma abriu as portas do PSDB para o senhor foi o ex-governador Beto Richa (PSDB). A situação política dele prejudica sua pré-campanha?
CSF: Não. Vejo que a situação do Beto foi amplamente divulgada e trouxe muito desgaste para ele. Vamos lembrar que o Beto está se dispondo, inclusive, a debater e a enfrentar essa discussão de peito aberto, conversando com as pessoas claramente sobre o que aconteceu. O que temos de concreto em relação ao Beto, além desses problemas que teve, foi muita ação pelo Paraná em seu governo. Vamos olhar para Marechal Cândido Rondon, por exemplo. O Beto conseguiu realizar uma proposta que era histórica, que era a implantação do Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) para a região Oeste, priorizando o município de Marechal Rondon. Conseguiu fazer investimentos na infraestrutura da região que há muito tempo eram esperados. Assim se repete por todas as regiões do Estado com ações concretas, investimentos, com governo presente e próximo. Este legado dele como governador do Estado traz muito mais benefícios do que até mesmo os desgastes que, eventualmente, tenha sofrido por conta dessas notícias, que não foram todas resolvidas. Também há uma situação interessante: o que mais ouço andando pelo Estado, principalmente das lideranças políticas, é sobre a saudade da forma como o PSDB governava, por ser um governo presente e próximo das pessoas e interessado na solução dos problemas. Isso tem sido para mim um dos grandes motes da nossa candidatura em resgatar no Paraná um governo mais presente.  

 

OP: A terceira via discutia a possibilidade de lançar um candidato único à Presidência. A falta de um nome é ruim numa candidatura ao Governo do Estado?
CSF: Essa falta de convergência enfraquece a viabilidade da terceira via federal. A minha expectativa é que os partidos que hoje estão dispostos a construir a terceira via realmente possam unificar essas candidaturas em um só palanque e forte, que dê realmente condições de ser competitivo, e que tenha, de preferência, um nome com capacidade e condições de crescer ao longo do processo eleitoral, ou seja, que não tenha uma rejeição impeditiva para isso. Na medida que for definido isso, acredito que pode ajudar inclusive a nós, aqui no Paraná. Existe um contingente grande no Estado que igualmente está buscando uma alternativa que não seja necessariamente refém entre apenas duas candidaturas também no governo federal. Neste momento, estou aguardando na esperança de que haja essa convergência.

 

OP: Em uma pré-campanha em que observamos uma polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), a terceira via tem espaço político-eleitoral?
CSF: Se ela se unir em torno de um nome com potencial de crescimento, ou seja, com rejeição baixa, sim. Se ela continuar dividida, com três a quatro candidaturas, insistindo em nomes com alto índice de rejeição, dificilmente teremos mudanças no cenário.

 

OP: O João Doria (ex-governador de São Paulo) venceu as prévias no PSDB para ser o pré-candidato à Presidência, mas o Eduardo Leite (ex-governador do Rio Grande do Sul) continuou demonstrando pretensão em uma futura candidatura. Dos dois nomes, quem o senhor apoia?
CSF: Eu vou apoiar o nome que o PSDB escolher. Tenho essa coerência em ser leal ao partido que me deu abrigo. Hoje, o nome do PSDB é do João Doria, porque ele ganhou as prévias. Essa é uma discussão objetiva e não tem outra margem para discutir.

 

OP: O senhor se coloca à disposição como pré-candidato ao Governo do Paraná. O que é possível fazer diferente daquilo que vem sendo feito?
CSF: Muita coisa. Temos uma ausência de governo. É um governo que está terminando o seu mandato sem legado e sem ter uma identidade com a população. A população hoje não sabe para quem o governo de fato governa. Temos um governo absolutamente ausente nas políticas sociais. Não temos mais política habitacional no Paraná. Não temos mais programas de desenvolvimento de renda e geração de oportunidade de qualificação. Não temos mais programas de crédito para facilitar o acesso aos pequenos empresários. Tudo isso nos coloca em uma situação em que praticamente obriga o oferecimento de uma candidatura. Veja que estamos tendo uma discussão do pedágio hoje absolutamente irresponsável. Os contratos acabaram sem se preocupar em planejar essa sucessão, colocando os paranaenses em absoluto apagão na prestação dos serviços, deterioração rápida da manutenção das nossas rodovias e, o que é pior, jogando a apresentação deste modelo para só depois da eleição, pois o próprio governo já sabe que as tarifas no modelo que está sendo proposto terão preço igual ou até maior do que tínhamos no passado. Então veja como temos uma série de discussões, de debates, que não estão sendo claramente colocados e que fazem necessária nossa candidatura neste momento. Entendo que a visão que tenho como governante do interior, que foi prefeito de uma cidade polo do interior do Paraná, traz um olhar para o Estado diferente, por exemplo na política industrial. Nós temos uma política industrial no Paraná que tem priorizado os investimentos em Curitiba e Região Metropolitana, historicamente, em detrimento de todas as outras regiões do Estado e que merecem participar deste ciclo de industrialização. Isso não está sendo feito, porque há uma visão de Estado hoje concentrada nos interesses da Capital, uma vez que desde Jaime Lerner todos os governadores do Paraná têm o domicílio eleitoral em Curitiba. Trazer essa visão do interior e daquilo que é prioridade para nós é o grande diferencial da nossa candidatura. Isso vai se refletir nas ações do governo. Nós, do interior, precisamos resgatar nossa força política para exigir o que é nosso de direito. Se o Paraná é hoje uma grande potência do agronegócio, o qual sustenta a base da economia do Estado, é graças ao esforço do trabalho que nós, do interior, estamos fazendo. Porém, não é o que está acontecendo hoje na divisão das prioridades dos investimentos públicos.

Pré-candidato a governador do Paraná, César Silvestri Filho (PSDB): “Trazer essa visão do interior e daquilo que é prioridade para nós é o grande diferencial da nossa candidatura. Isso vai se refletir nas ações do governo” (Foto: Divulgação)

Por Maria Cristina Kunzler/O Presente

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