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Política Entrevista ao O Presente

“Nunca estivemos no fundo do poço como estamos agora”, avalia senador Alvaro Dias

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Líder do Podemos no Senado, senador Alvaro Dias: “A governabilidade não pode se dar a qualquer preço, por intermédio dessa relação promíscua. Custa muito caro ao país. Esse loteamento do governo, toma lá dá cá, o balcão de negócios, já temos conhecimento do estrago” (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

A chegada da Covid-19 ao Brasil e a declaração mundial de pandemia do coronavírus levaram o país a tomar novos rumos neste início de 2020. Em um ano em que a expectativa era animadora, o que se tem visto na prática são perspectivas preocupantes.

O país atravessa duas crises simultâneas: uma relacionada à saúde, em que ações são desenvolvidas para preservar vidas; e a outra é a econômica, com os índices demonstrando que o Brasil deve mergulhar em recessão e, por isso, são necessárias medidas para amenizar os efeitos da pandemia.

Em entrevista ao Jornal O Presente, o líder do Podemos no Senado, paranaense Alvaro Dias, falou sobre esse momento em que o país vive e expôs sobre uma terceira crise que surge: a política. De acordo com ele, os pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro não devem avançar. Por outro lado, o parlamentar critica a aproximação com o chamado Centrão. Confira.

 

O Presente (OP): Desde a saída do ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e diante das declarações feitas por ele, começaram a surgir diversos pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. O senhor acha que este é momento de haver essa discussão em meio a uma pandemia? É algo que pode avançar na Câmara dos Deputados e Senado?

Alvaro Dias (AD): Não creio que avance. Depende do presidente da Câmara (Rodrigo Maia, DEM), que já anunciou que não acolherá pedido neste momento. São mais de 30 requerimentos que pedem impeachment e esse é o procedimento: depende do acolhimento inicial por parte da presidência da Câmara, que submete à Casa para admissibilidade ou não. Ele (Maia) já anunciou que não pretende (acolher) neste momento. Há um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) e acho mais prudente aguardar a conclusão deste inquérito. Sabemos que o processo de impeachment no Brasil é muito lento, levaria quase um ano de debate, investigação, audiências. Isso certamente seria um grande trauma. Não é um processo sumário como no Paraguai, que é rápido, ou Estados Unidos. Aqui é um processo lento e doloroso.

 

OP: Qual o seu posicionamento em relação a esses pedidos de impeachment?

AD: Eu, particularmente, sou contra. Minha posição é de equilíbrio, maturidade, solidariedade à população. Temos duas crises. A crise da saúde de um lado. Trata-se de trabalhar para salvar vidas. De outro lado há a crise econômica, em que trata-se de trabalhar para salvar empresas, empregos e salários. Essas duas frentes é que devem exigir o nosso esforço agora. Certamente isso exige convergência, conjugação de esforços, união de todos, governo federal, governos estaduais, municipais, Congresso. A superação desta crise exige essa unidade. Nunca estivemos no fundo do poço como estamos agora. Há um mergulho da economia e vamos ter um déficit de mais de R$ 600 bilhões neste ano, vamos ter endividamento crescente que deve chegar a mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB), e o desemprego é avassalador. As empresas reduzindo a margem de lucro, algumas sem margem de lucro algum, e até em liquidação. O governo tem que adotar linhas de crédito que possibilitem salvar as empresas, vinculando a manutenção dos empregos e salários. Isso é essencial neste momento. Essa deve ser a nossa preocupação e é o nosso foco. Minha atuação no Senado é nesta direção.

 

OP: O senhor falou sobre a crise econômica e crise na saúde, mas também existe uma crise política. Na sua opinião, o presidente Bolsonaro consegue manter a governabilidade diante das polêmicas?

AD: A governabilidade não pode se dar a qualquer preço, por intermédio dessa relação promíscua. Custa muito caro ao país. Esse loteamento do governo, toma lá dá cá, o balcão de negócios, já temos conhecimento do estrago. Foi assim que o Brasil envolveu-se na crise ética e na crise econômica. É evidente que o que se propõe da parte do governo é uma coisa, mas o que desejamos é outra. Nós desejamos governabilidade, mas com atitudes republicanas, com comportamento ético, relação do governo com o Congresso que não implique avanço no cofre público, ou deterioração da gestão, puxando para baixo a qualidade da administração em função do loteamento de cargos.

 

OP: Como o senhor tem avaliado essa aproximação do presidente com o chamado Centrão?

AD: Essa é a escolha para este momento. É se colocar na contramão das promessas da campanha. Voltar às origens na realidade, porque o presidente sempre pertenceu a este grupo, teve um movimento para se eleger e agora retorna a ele (ao grupo). É uma péssima escolha. Não é o caminho prometido e não é isso o que o país deseja.

 

OP: Surpreende esse movimento do presidente?

AD: Não, de forma alguma. Eu avisei durante a campanha. Acreditaram os que quiseram acreditar. Eu nunca acreditei.

 

OP: O seu partido, o Podemos, é grande defensor da Operação Lava Jato. O senhor tem mantido contato com o ex-ministro Moro no sentido dele se filiar à sigla?

AD: Nem agora e nem antes. Nunca conversamos sobre isso. Só conversamos sobre questões institucionais mesmo, sobre trabalho, sobre os pacotes anticrime, anticorrupção e antiviolência. Nunca abordamos tema de natureza político-partidária e muito menos eleitoral. Nem antes e nem agora.

 

OP: O senhor acha que ele deveria ir para algum governo estadual?

AD: Isso é pessoal. Eu não iria para um governo estadual, obviamente, mas é uma questão pessoal. Cabe a ele essa decisão.

 

OP: O Podemos gostaria de ter o ex-ministro eventualmente como candidato em 2022?

AD: Sobre isso não falamos agora. Não devemos falar. Não é oportuno, não é construtivo, não é patriótico e não é solidário. É dar arma para os adversários.

 

OP: A eleição municipal está marcada para 04 de outubro e, diante da pandemia, existe a dúvida se o pleito ocorre na data marcada, se pode ser adiada e há, inclusive, os que falam em unificação em 2022 com a prorrogação dos atuais mandatos, o que, neste caso, necessitaria de aprovação do Congresso. O que o senhor acha que vai acontecer?

AD: Primeiramente, do ponto de vista da legislação, é impossível alterar. Só podemos promover alterações no processo eleitoral até um ano antes da eleição, e esse tempo já foi. Só se houvesse uma alteração inusitada. Eu não vejo possibilidade. Se houvesse um agravamento da pandemia a ponto da população não poder trabalhar e ir para as ruas… Mas como está havendo essa flexibilização, se é possível ir para as ruas e se é possível trabalhar, obviamente é possível votar. Acho difícil e neste momento não se cogita (unificação). O calendário será mantido.

 

OP: O senhor acredita então que fica mantido o calendário com a eleição para outubro?

AD: Se houvesse um adiamento, seria da parte do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e sem prorrogação de mandato. Seria, por exemplo, adiar para novembro ou dezembro. Adiar um pouco em função da pandemia. Isso seria possível no meu entendimento. Mas não creio que venha a ocorrer, porque imagino que por volta de agosto já estejamos vivendo um momento de mais tranquilidade em relação ao coronavírus.

 

OP: Há muitos políticos que defendem a unificação das eleições. Este é o momento de haver essa discussão no Congresso?

AD: Não. Agora não é possível, pois é da legislação. Neste momento só estamos operando no sistema remoto de deliberação. A norma estabelecida conforme o ato da mesa coloca com exclusividade os projetos que dizem respeito ao coronavírus. Então neste momento seria impraticável.

 

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