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Esportes Replanejando a carreira

“A única coisa que preciso é uma oportunidade profissional”, diz jogador rondonense que está na Polônia, após fugir da Ucrânia

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Murilo Maia: "Se alguma oportunidade aparecer e valer a pena, eu tenho que pensar onde ficar" (Foto: Reprodução)

Após ter conseguido sair da Ucrânia, horas depois de o país começar a ser bombardeado pela Rússia, na última quinta-feira (24), o rondonense Murilo Koefender Maia está na Polônia, país que já recebeu cerca de 400 mil pessoas, que cruzaram as fronteiras ucranianas fugindo do conflito militar.

Murilo cruzou a fronteira da Ucrânia na sexta-feira (25), entrando na Polônia pela cidade de Medyka. Nesta quarta-feira (02) ele está em Cracóvia, que fica ao Sul da Polônia, perto da fronteira com a República Tcheca.

“Estou na Polônia desde o dia 26 (sábado). Conseguimos sair de lá entre o dia 25 e 26. Viramos a noite na fronteira e nessa data foi quando as primeiras pessoas conseguiram sair da Ucrânia”, lembra o rondonense, que é jogador de futebol profissional e estava na Ucrânia desde o começo de fevereiro para uma pré-temporada de futebol.

A situação na Polônia, diz ele, está tranquila. “Não vemos nenhuma tensão nas ruas. A vida segue normalmente, como deveria ser em todos os lugares”, conta. “Eu, os atletas e professores que cruzaram a fronteira comigo estamos em um hotel um pouco mais afastado do centro de Cracóvia. Tentamos contato com a embaixada (brasileira) e estamos planejando como seguir nossas carreiras, quais serão os próximos passos, se vamos retornar para o Brasil ou não. Então, estamos em um processo de recomeço, pois nosso planejamento inicial era fazer parte de uma pré-temporada na Ucrânia, mas tivemos que mudar os planos literalmente da noite para o dia”, acrescenta.

 

“Não presenciei bombardeios”

Murilo relata que antes de sair da Ucrânia não chegou a presenciar nenhuma movimentação de tropas, bombardeios ou explosões. “Nós estávamos na parte Oeste da Ucrânia, que não foi alvo dos ataques iniciais. A única coisa que ouvimos foram sirenes e avisos nos alto-falantes da cidade. Não presenciamos nenhum ataque, graças a Deus. Assim que chegamos à fronteira ficamos sabendo que havia ataques no lugar onde nós estávamos”, expõe. “Fomos pegos de surpresa. Inclusive fiquei sabendo do primeiro bombardeio através de uma ligação do meu pai, por volta das 4 horas da manhã. Ninguém imaginava que isso fosse acontecer, até porque o presidente (da Rússia, Vladimir) Putin falou em tirar as tropas da fronteira, evitar a guerra. Então foi uma surpresa para nós. Eu recebi a ligação do meu pai, nós acordamos e nos mobilizamos para buscar um meio de transporte para a fronteira”, amplia.

 

Sem escolha

De acordo com o jogador, os ucranianos não tiveram escolha em relação à guerra acontecer ou não. “Eles não queriam que isso acontecesse. Parece que foi uma guerra mais relacionada à política e a interesses particulares do que algo que uma nação quisesse passar”, considera.

Ele pontua que, de uma forma geral, os ucranianos estão resistindo aos ataques russos. “É a nação deles, o lar deles, onde eles construíram a vida, onde construíram as suas histórias. Eles têm orgulho de fazer parte da nação e, querendo ou não, quando acontece um momento desses, pensam em defender aquilo que eles construíram. Não gostariam de entregar nada para outro país”, aponta.

 

Apoio e acolhida

Os ucranianos, conforme Murilo, estão apoiando, em grande parte, o presidente Volodymyr Zelensky, assim como boa parte do mundo está apoiando a Ucrânia, mas ressalta que é uma situação delicada. “Ele tem o apoio da população. Foi eleito com uma maioria considerável (de votos). Agora, os homens de famílias sendo obrigados a defender o país, é uma situação muito delicada. Querendo ou não, são obrigados a estar na guerra, a ter que enfrentar um Exército, sendo a maioria cidadãos comuns. Então, (o presidente) pode vir a encontrar resistências”, opina.

Já os polonenses, comenta o rondonense, estão apoiando a Ucrânia e amparando as pessoas que buscam seu país como refúgio. “A Polônia está apoiando a Ucrânia, acolhendo os cidadãos de lá, os refugiados e os estrangeiros que cruzam a fronteira”, menciona. “A Polônia nos abraçou muito bem. Quando chegamos tivemos uma certa demora até conseguir locais para descanso devido ao número de pessoas cruzando a fronteira, o que é completamente aceitável diante da situação. Mas a partir do momento que conseguimos transporte para a Cracóvia via ônibus, na própria estação havia policiais e bombeiros entregando alimentos sem custo, fazendo sacolas de alimentos, entregando água, suco, coisas que precisávamos ter pra fazer a viagem. Agiram de maneira extremamente louvável, nos ajudando e ajudando os outros presentes, pessoas de outras nacionalidades, outros continentes. Fizeram um trabalho excelente em relação ao acolhimento e a opções que deram às pessoas”, elogia.

 

Permanência na Polônia

O jogador afirma que, no momento, não tem interesse em permanecer na Polônia. “Até por ser um país que faz fronteira com a Ucrânia. Gostaria de me afastar um pouco desta situação e buscar uma carreira em algum lugar com maior estabilidade. Pode ser no Brasil, mas pode ser em outro país. Desde que chegamos à Polônia nos mudamos de local mais de uma vez. Sei da ideia do voo de repatriação, mas não sei das datas, quando vai acontecer. Tenho minha inscrição feita, mas se alguma oportunidade aparecer e valer a pena, eu tenho que pensar onde ficar. Afinal, a Europa é um lugar muito visualizado na questão da carreira, assim como o Brasil é minha casa, o país que tenho orgulho de representar e que tem pessoas que me guardam com muito carinho”, enaltece.

O próximo passo sempre fica na cabeça, assegura. “Gostaria de ter um tempo maior para cuidar disso. Estamos tentando manter nossa imagem de pé, depois do que este conflito causou. Queremos ganhar visibilidade, não em virtude do conflito, mas, sim, através do nosso trabalho, através das vidas que podemos mudar vivendo em um esporte que dá uma boa condição de vida se você chega a um certo nível. Temos que aproveitar a oportunidade de estarmos aqui para buscar uma nova chance, já que essa que tínhamos foi tirada com o conflito”, evidencia.

Ele lembra que tem pessoas há dias passando o que ele e seus colegas de profissão tiveram a sorte de passar por horas. “Conseguimos ser os primeiros a cruzar a fronteira, conseguimos agir rápido. Ainda tem gente esperando esta oportunidade, de sentir o gosto de sair da região do conflito. Para nós o pior já passou, mas não dá para ser egoísta e pensar que está tudo bem, sendo que outros querem ter essa mesma chance de recomeçar”, enfatiza.

 

Finanças

Sobre a questão financeira, o rondonense afirma que não está passando nenhuma necessidade. “Nós temos alimentos aqui, estamos em um país que não está vivendo o conflito. Nós temos a liberdade de ir e vir. Enfim, tenho uma passagem comprada, que precisa ser remarcada. Tem o apoio dos meus familiares. Tem a questão do voo de repatriação que não tem custos. A única coisa que preciso no momento é consegui buscar uma oportunidade profissional. Desde que cheguei à Polônia não parei de treinar, não tenho feito muitos exercícios com bola porque estamos nos mudando direto, mas vou correr, faço exercícios, porque a oportunidade pode aparecer a qualquer momento e temos que estar preparados da maneira que podemos. Ficar parado esperando algo acontecer não é uma opção”, frisa.

“Espero que esta situação acabe logo, que as pessoas que tiveram que abandonar seus lares retornem e possam reconstruir este país que está sendo destruído. Nós temos que seguir em frente e fazer o melhor com o que temos”, conclui.

 

Família

Parte da família de Murilo Maia reside em Marechal Rondon, como avós, tios e primos. Os pais Angélica e Juarez atualmente moram em Curitiba.

A matéria foi produzida a partir da entrevista concedida por Murilo nesta quarta-feira ao programa de Anderson Picolo.

 

Murilo Maia: “Tivemos que mudar os planos literalmente da noite para o dia” (Foto: Reprodução)

 

CONFIRA O VÍDEO ABAIXO QUE MOSTRA FLASHES DA PASSAGEM DE MURILO PELA POLÔNIA EM OUTRA OPORTUNIDADE:

“Esses gols foram na minha primeira passagem pelo projeto em que estive com o professor Albanir Roberto, no interior da Polônia. Foi uma fase muito boa lá. Nós conseguimos a terceira posição no campeonato, tive uma representatividade muito boa. Em 12 jogos consegui fazer 12 gols”, expõe.

Murilo já foi destaque no futebol polonês (Foto: Arquivo pessoal)

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