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AVC: um inimigo menosprezado

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O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a segunda doença que mais mata no mundo, atrás apenas do conjunto de doenças do coração. No Brasil, é a primeira causa de mortes. Foram 150 mil óbitos somente em 2009. Apesar da relevância, o AVC ainda é menosprezado pela população e até mesmo pela comunidade médica. Geralmente quando um indivíduo tem sinais de infarto, com dores no peito, por exemplo, ele procura o pronto-socorro. O mesmo não ocorre quando as pessoas têm sintomas de um AVC. Na maioria das vezes o paciente espera muito tempo até pedir apoio médico, o que é um erro gravíssimo. As informações são do neurologista Bruno Rigon, de Marechal Cândido Rondon.

Para o profissional, as pessoas precisam tomar consciência de que, se tratado rapidamente, o paciente pode ter as sequelas atenuadas ou até mesmo não ficar com sequela alguma. O médico explica, porém, que para o correto atendimento o paciente tem que ser tratado nas primeiras quatro horas e meia, na chamada fase aguda do AVC. Se tratar no tempo certo a gente muda a história natural da doença, garante o neurologista.

Por isso, Rigon iniciou uma campanha de conscientização no município. O objetivo é informar a população e os médicos de que o AVC precisa ser tratado como ele merece, pontua. Neste sábado (29) é lembrado o Dia Mundial de Controle do AVC.

 

O QUE É O AVC?

Existem dois grandes grupos da doença: o AVC isquêmico, que ocorre quando uma artéria que leva sangue para o cérebro entope por algum motivo. Isso provoca a morte de tecido cerebral. Há também o AVC hemorrágico, que é conhecido como derrame. Ele ocorre quando há o rompimento de uma veia ou artéria dentro do cérebro, causando derramamento de sangue no cérebro. Os dois são bastante graves, explica Rigon.

De acordo com o médico, o AVC hemorrágico é mais grave, por ser mais letal, enquanto o isquêmico produz mais sequelas. O AVC isquêmico cursa com mais morbidade, resulta em mais sequelas, em limitação funcional. Já o hemorrágico cursa com mais mortalidade, especialmente mortalidade precoce. O mais comum no mundo é o AVC isquêmico, com 85% dos casos, explica. Nos Estados Unidos acontece uma morte a cada três minutos e um evento a cada 30 segundos, exemplifica o neurologista.

 

FATORES DE RISCO

Hipertensão, diabetes, colesterol alto, obesidade, sedentarismo e tabagismo. Para o médico, esses são os seis principais fatores de risco que podem contribuir para uma pessoa ter um AVC. Todos esses fatores de risco fazem com que aumente o processo de deposição de gordura nas paredes das artérias, que é a aterosclerose. A artéria fica doente e acaba entupindo, comenta. Outro fator que pode causar um AVC são arritmias cardíacas ou outras doenças cardíacas trombogênicas, que formam coágulo no coração. Isso porque o coágulo que sai do coração vai parar no cérebro, causando o entupimento, explica.

 

CONTROLE

De acordo com Rigon, para um indivíduo reduzir as chances de ter um AVC é preciso adotar uma vida saudável para controlar o que a medicina chama de fatores de risco modificáveis. Para o controle basta abordar os fatores de risco. Existem os não modificáveis, que são o sexo, a idade e grupo étnico. Mas temos os modificáveis, que passam por uma dieta equilibrada, atividade física regular, controle de hipertensão e da diabetes, a cessação do tabagismo, conta. Aliás, parar de fumar vai oferecer resultados somente depois de cinco anos, amplia.

 

QUEM É MAIS SUSCETÍVEL?

O profissional explica que, quanto mais idosa for a pessoa, mais suscetível ela é a um AVC. Segundo o neurologista, há grupos étnicos mais propensos a ter a

doença por conta da hipertensão, outros por conta de aterosclerose. Conseguimos dividir de maneira sistemática essa doença. Abaixo dos 55 anos chamados de AVC em jovens. Acima disso, apenas AVC. Sabemos que afrodescendentes têm predisposição em ter hipertensão. Esse grupo tem mais chances de ter o AVC relacionado à pressão alta. Já hispânicos e asiáticos, por exemplo, são mais propensos a ter doenças ateroscleróticas nas carótidas, que são as artérias que levam o sangue para a cabeça, e nas artérias dentro do cérebro. Esse é o maior risco para esse grupo, diz.

Entretanto, de maneira geral, aponta o médico, toda a população está suscetível cada vez mais por conta da maior longevidade que o brasileiro está alcançando. Na região de Marechal Cândido Rondon sabemos que temos um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais elevado, temos uma população mais longeva, isso implica em maiores chances de sofrer um AVC. Quanto maior a expectativa de vida, mais chance de ter o AVC a pessoa tem, já que se trata de um processo crônico degenerativo. Por isso, é mais comum em idosos, revela.

 

SEQUELAS

Um AVC pode tornar um indivíduo saudável em um acamado. A principal e mais assustadora sequela é a alteração de força; um lado do corpo fica mais fraco. Mas pode ocorrer perda de memória, perda de capacidade na resolução de problemas, perda de fala, incapacidade de engolir os alimentos, perda da visão, perda da sensibilidade de um lado do corpo e até epilepsia. Do ponto de vista neurológico, praticamente qualquer sequela é possível, explica Rigon. O AVC pode transformar um indivíduo rígido e saudável em um indivíduo acamado que sequer consegue dizer as necessidades que tem, justifica.

Fala, força e face: alterou, corra pro médico

O neurologista explica que em muitos casos a medicina pode reverter o quadro de um AVC ao ponto de o paciente ficar com pouca ou nenhuma sequela, mas para isso precisa ser tratado mais rapidamente. O problema, em sua opinião, é que nem a população, nem os profissionais de saúde tratam a doença com a devida importância. Nós, da neurologia, sempre usamos a comparação com a cardiologia, que está à nossa frente em relação a isso. Se a pessoa tem uma dor no peito, vai logo para o médico supondo ser um infarto. Mas, se a pessoa sente fraqueza em um lado do corpo (um dos sintomas de um AVC), espera em casa para ver se vai passar. Isso constitui um erro gravíssimo, alerta. É muito fácil diagnosticar. Tão fácil que é subdiagnosticado, subtratado, negligenciado pela população, pela mídia, pela equipe de atendimento, amplia.

Na avaliação de Rigon, boa parte desse desleixo pode ser explicado pela falta de informação. Ele explica que os principais sintomas são alteração na face, na fala e na força. Se um desses sinais neurológicos tiver alterado, a possibilidade de ser um AVC é de 72%, alerta. As pessoas não entendem que fraqueza, perda de força, alteração na fala, na visão é uma emergência tanto quanto uma dor no peito. Assim como o infarto, o derrame também tem que ser tratado como emergência, orienta o profissional.

Para informar a população, Rigon começou uma pequena campanha – que deve ser maior em 2017 – há alguns dias, aproveitando o Dia Mundial de Controle do AVC. Cartazes fixados em pontos estratégicos e folders distribuídos em clínicas, Hospital Rondon e em alguns postos de saúde explicam para a população a melhor forma de agir quando existe um sintoma de AVC. A campanha faz um trocadilho com a palavra Samu. Sorria (S), Abrace (A), Me diga algo (M), e, caso algo esteja alterado, Urgência (U), explica Rigon.

As primeiras quatro horas e meia são a fase aguda. Uma das condutas para reverter um AVC é a dissolução dos coágulos por meio da trombólise. Muita gente vê o derrame como algo que não tem o que ser feito, mas tem. O paciente com ameaça muitas vezes precisa de uma UTI. A trombólise venosa é um tratamento que consiste na aplicação de um medicamento que afina muito o sangue. Ele dissolve aquele coágulo que está obstruindo a artéria e faz o sangue voltar a circular. Se a gente fizer isso em tempo hábil, dentro das quatro horas e meia, as chances de voltar a andar, ter nenhuma ou pouca sequela mais que dobram, comenta.

O cateterismo, explica, é indicado em algumas ocasiões, também com chances de êxito. De cada quatro pacientes candidatos a fazer cateterismo, um volta a andar, revela, salientando que quanto mais precoce o atendimento, melhor o resultado. Depois de tratado na fase aguda, a recuperação continua com fisioterapia, hidroterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia etc. Com isso você oferece ainda mais chances do paciente recuperar a funcionalidade, acrescenta.

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