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Geral Entrevista ao O Presente

“Mudamos algumas metas, mas vamos continuar expandindo”, afirma diretor-presidente da Lar

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Diretor-presidente da Lar, Irineo da Costa Rodrigues: “Estávamos em uma expansão muito grande. Essa expansão muito grande não vai acontecer. Seguiremos expandindo, mas será menos 10% daquilo que pretendíamos expandir. Na verdade, a Lar não está realizando redução no alojamento, apenas mudou a meta” (Foto: O Presente)

Se de um lado a exportação da carne de frango paranaense em 2020 foi maior quando comparada com 2019, por outro, o consumo interno teve redução em consequência da pandemia por impactar fortemente o setor de food services, com o fechamento de bares, restaurantes e hotéis, por exemplo, grandes consumidores desse produto e seus derivados no país e no mundo. Os resultados foram números estáveis, com ligeiro aumento no alojamento e abate de frangos de corte no Paraná.

E 2021 começou com muitos desafios para o setor, uma vez que os insumos para a alimentação animal, como grãos e outros compostos da ração, atingiram valores nunca antes alcançados. Com isso, tem muita indústria “trabalhando no vermelho”.

Com 21 anos de expertise na atividade e consolidada no mercado, a Lar tem driblado as dificuldades impostas pelos altos preços das commodities. Mudou algumas metas, mas vai continuar expandindo. De acordo com o diretor-presidente da cooperativa, Irineo da Costa Rodrigues, a mudança nos planos prevê uma expansão 10% menor. “Estávamos em uma expansão muito grande. Essa expansão muito grande não vai acontecer, mas seguiremos expandindo”, destaca.

Ao O Presente, ele, que também é presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar), faz uma avaliação do momento vivido pela avicultura, fala dos desafios enfrentados devido à pandemia, da expectativa para a safrinha de milho e garante que não houve mudanças de planos para o frigorífico rondonense. “Temos previsto para Marechal Cândido Rondon o aumento de 400 funcionários para os meses de maio, junho e julho, porque queremos, a partir de agosto, abater aos sábados”, enalteceu. Confira.

 

O Presente (OP): Enquanto presidente do Sindiavipar, o senhor declarou, na semana passada, que o setor “está trabalhando no vermelho”. Qual é a situação atual da avicultura paranaense?

Irineo da Costa Rodrigues (ICR): Estamos vivendo um momento em que os preços das commodities agrícolas, soja e milho, estão muito altos. Está o dobro do que estava um ano atrás. O farelo de soja chega a estar mais que o dobro do que estava há um ano. Os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina já fizeram um comunicado que não estão suportando o prejuízo, que vão alojar menos, até porque há uma insegurança se vai ou não ter milho este ano. Pode faltar milho. No Paraná foi feita uma reunião do Sindiavipar, que coordenei e coloquei o assunto em discussão. O Estado ainda não manifestou que vai haver uma redução de alojamento. Temos empresas mais bem posicionadas e outras com alguma dificuldade. Quem está melhor posicionado é quem origina matéria-prima, é quem recebe o milho, recebe grãos, que é o caso das cooperativas. A Lar, por exemplo, tem milho da região Oeste do Paraná, tem milho que vem do Mato Grosso do Sul e milho que vem do Paraguai. Então, nós temos um custo de frango menor do que a maioria das empresas do Paraná e, sobretudo, menor do que as empresas de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. De fato, todo mundo está realizando um prejuízo. A Lar realiza nesse momento um prejuízo também. Eu fiz na semana passada oito reuniões com clientes externos. Leia-se China, Japão, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Espanha. Falamos que nós precisamos recuperar US$ 250 por tonelada. Recuperar é aumentar o preço. Isso está caminhando, está acontecendo. Então, está havendo um aumento do preço do frango no mercado externo. No mercado interno o valor também precisa melhorar um pouco. Não como forma do setor ganhar dinheiro, mas de minimizar o prejuízo. A Lar não deve reduzir o alojamento, porque nós estamos em uma expansão na atividade de frango. Vamos expandir um pouquinho menos, mas vamos continuar expandindo. Mais do que isso, a Lar está aumentando a remuneração dos integrados de frango em R$ 0,10 nas próximas semanas. Isso significa que em plena hora de dificuldade a Lar está empregando mais gente na atividade e está melhorando a remuneração do seu integrado, o associado da Lar e o associado da intercooperação.

 

OP: Foi divulgado na imprensa, na semana passada, que a Lar anunciou a redução imediata de 10% no alojamento de pintinhos e a redução no peso de abate. Agora, o senhor enalteceu o aumento na remuneração dos avicultores. Como fica essa questão: dificuldades x melhorias aos integrados?

ICR: Nós estávamos em uma expansão muito grande. Essa expansão muito grande não vai acontecer. Seguiremos expandindo, mas será 10% menos daquilo que pretendíamos expandir. Na verdade, a Lar não está realizando redução no alojamento, apenas mudou a meta. Iríamos aumentar em uma velocidade maior, mas colocamos em uma velocidade menor, e continuamos aumentando.

 

OP: Somente para a planta em Marechal Rondon havia previsão de geração de 400 novos empregos em curto prazo, com a ampliação do abate em 20%, com a abertura de turno de trabalho até mesmo aos sábados. Diante dessa postura momentânea da Lar, muda algo nesses planos? Qual o impacto específico para a cooperativa rondonense?

ICR: Não muda nada (para Marechal Rondon). Nós temos previsto o aumento de 400 funcionários para os meses de maio, junho e julho, porque queremos, a partir de agosto, abater aos sábados. Precisamos de 400 funcionários treinados até o mês de julho para começar a operação a partir de agosto. Precisaremos de mais frango, já que vamos abater no sábado, então é visto que não vamos reduzir em 10%, não tem como.

 

OP: Então a Lar segue interessada em novas integrações de produtores de aves na região de Marechal Rondon?

ICR: Sim, seguimos com a integração. Em outubro e dezembro, teremos mais 150 funcionários. São 400 agora e em outubro mais 150. Estamos falando em 550 funcionários e tem mais para ano que vem. Para o primeiro semestre de 2022, teremos mais 600 funcionários, porque queremos abater aos domingos também. Já abatemos aos domingos em Matelândia e Cascavel, em Rolândia só até sexta-feira. Primeiro vamos iniciar em Marechal Rondon para também abater aos sábados e no primeiro semestre do ano que vem, pode ser março ou pode ser junho, vamos também abater aos domingos, precisando para isso de mais 600 funcionários. Em 2023, há previsão de mais 670 funcionários, quando atingiremos o abate de 220 mil aves.

 

OP: Se os preços das commodities agrícolas continuarem subindo é possível dizer que vão inviabilizar a avicultura?

ICR: Penso que para algumas empresas que não são do Oeste do Paraná, talvez de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, pode ser, porque regiões que não têm uma boa oferta de matéria-prima, de grãos, vão sofrer. Para eles, é preciso pagar mais caro. Por exemplo, se vão comprar de uma cerealista como a Agrícola Horizonte, tem o frete para levar para Santa Catarina e Rio Grande do Sul e vão pagar ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) ao passar de um Estado para o outro. Então, em regiões que não são competitivas é provável que essas atividades se tornem inviáveis.

 

OP: Essa alta das commodities pode causar, a longo prazo, uma menor remuneração ao produtor?

ICR: Não, porque pelo sistema de integração a cooperativa blinda isso. A gente procura blindar o integrado para ele não sofrer. Nós pagamos por conversão alimentar e por eficiência. Isso não leva em conta o mercado; leva em conta a produtividade. Por isso, ele apenas precisa fazer o trabalho dele bem feito. Criação e engorda precisam ser bem feitas. No fundo, quem cria frango não é o cooperado, é a cooperativa, porque o pintinho é dela, a ração é dela. Quem é que tem o custo é a cooperativa. O integrado entra com as instalações e a mão de obra, energia elétrica. Ele está blindado no custo; o custo é o pintinho e a ração. Agora, se houver o estouro do custo de energia elétrica afeta ele.

 

OP: As altas nos preços de aço, ferro e materiais de construção, além da atual pressão dos preços dos combustíveis, que afetam todas as etapas da cadeia de produção, acabam respingando no setor e em novos investimentos, que por vezes são adiados. Que análise o senhor faz deste cenário?

ICR: Esse cenário afeta muito o setor. Por exemplo, aquele produtor que gostaria de colocar mais um galpão hoje vai ter um custo muito maior. Antes, fazia um galpão por R$ 800 mil a R$ 900 mil, atualmente custa R$ 1,1 milhão ou R$ 1,2 milhão. Em relação à energia elétrica, o Paraná tem o programa Tarifa Rural Noturna, que foi postergado por mais dois anos. A partir de janeiro de 2023 não vai mais ter esse subsídio e vai afetar o produtor. Nesse período, ele tem que buscar caminhos para ter uma energia alternativa, biodigestores ou solar.

 

OP: Pode haver algum tipo de incentivo por parte da Lar nesse processo de implantação de energias alternativas?

ICR: Não. O que vamos fazer é incentivar o produtor a colocar energias alternativas. O Governo do Estado ainda não lançou, mas nos prometeu um programa que vai auxiliar o produtor a fazer esse investimento.

 

OP: Esse cenário de incertezas e preços altistas trarão impactos ainda mais negativos à avicultura e outros setores, como a suinocultura, por exemplo, a longo prazo? Há quem fale em quebradeira generalizada… podemos imaginar isso?

ICR: Acho que uma quebradeira generalizada não. O que nós estamos preocupados é com a outra ponta. Como vai ficar o consumidor, que está perdendo o emprego, não está tendo melhoria de emprego e vê a cesta básica subindo muito. Nós teríamos que fazer um pacto com São Pedro para que mande chuva para termos boas safras, para que tenhamos fartura de soja e milho, para reduzir o custo de produção e ter um produto mais acessível. Essa é a preocupação, porque o produtor está ganhando dinheiro. Quem planta soja e milho, cria boi, com o preço da arroba a R$ 230, está ganhando dinheiro, o produtor de suínos está ganhando dinheiro, porque a China está exportando. O de frango que está mais sofrido agora, mas o produtor está ganhando dinheiro. O consumidor, por outro lado, está perdendo o emprego. Estão fechando lojas, hotéis, não tem eventos, não tem escolas e aí não tem renda. Como é que vai pagar mais pelo alimento?

 

OP: A safra verão está praticamente colhida. Qual é a expectativa para a safrinha?

ICR: Há muita preocupação. Precisa chover. O plantio atrasou. Eu tive a oportunidade de falar com a ministra Tereza Cristina. Queríamos que o Ministério da Agricultura ampliasse o prazo de plantio com cobertura de seguro, mas o pedido não foi atendido. O produtor plantou o milho, mesmo fora da melhor época de plantio e sem seguro, porque o preço estimulou. Mesmo que ele colha um pouquinho menos, com o preço que está aí vai ter lucro, mas precisa chover e não está chovendo. Vemos tanta lavoura de milho plantada, mas o milho não nasceu. Não há grandes previsões de chuva e nós precisamos de chuva generalizada. Se não tivermos safra de milho vai ser dramático. Se não tiver uma safrinha de milho, vamos importar milho com dólar cotado, em média, a R$ 5,60. Inviabiliza muita coisa. Dependemos demais dessa safrinha. A de soja foi boa, o farelo de soja vamos ter, mas precisamos de milho.

 

OP: Completamos um ano de pandemia, que afetou a economia e trouxe, de alguma maneira, impactos para todos os setores. Como a Lar driblou as dificuldades neste período pandêmico? Qual é o maior desafio enfrentado neste cenário que se instalou em razão da crise do coronavírus?

ICR: As medidas de prevenção foram muito rigorosas. Em um frigorífico já se trabalha essa questão de higiene. Nós dispensamos o trabalho de muitas pessoas, mais de idade, com comorbidades, mulheres gestantes. Foi uma loucura. Os ônibus transportando a metade das pessoas. Tivemos um momento que assustou, mas foi diminuindo. Hoje temos dois, três, quatro ou cinco casos em cada planta. Casos positivos são poucos, o que mais se destaca são os afastamentos por síndrome gripal. Foram muitas adaptações que tivemos. Não estamos fazendo reuniões presenciais, mudou tudo. Eventos que fazíamos, cursos, treinamentos e reuniões agora são tudo no meio digital. O mais desafiante foi convencer algumas autoridades de alguns segmentos que o nosso setor não podia parar. Como é que eu vou parar de abater se a cada dia tem 900 mil frangos para abater; no segundo dia é 1,8 milhão de frangos. Então, sensibilizar autoridades para acreditar no que informávamos foi o mais difícil, porque houve em todos os níveis de governo quem quisesse fechar os frigoríficos. Acho que o mais difícil foi dizer que se a área de saúde é essencial, comida também é essencial. Você vai se tratar, mas não vai se alimentar? Não tem como. O que você faz com 900 mil frangos todo dia, vai enterrar? É um problema ambiental, o custo é impossível. Isso foi o mais difícil.

 

OP: O ano de 2020 foi de mudanças e investimentos na Lar, especialmente com o anúncio da intercooperação com a Copagril. Passados alguns meses do processo, qual é o reflexo dessa parceria?

ICR: Eu não vou dizer que é surpreendente, mas é extremamente positivo. A Copagril fez um trabalho muito importante. Ela se aplainou nos caminhos, trabalhou de forma proativa. A transição foi muito boa. Somos cooperativas vizinhas e irmãs, nos damos bem entre as pessoas. Eles nos ajudaram muito, mantiveram tudo organizado. A Lar, com a expertise de 21 anos na atividade e com uma equipe capacitada, coloca muita energia em tudo. O processo foi redondinho. A Copagril desligou a chave, nós ligamos e foi impressionante.

 

OP: Apesar de todos os percalços, 2021 promete coisas boas. O que os cooperados podem esperar da Lar neste ano?

ICR: Podem esperar mais. A gente veio para ser mais, empregar mais, ter mais associados produzindo frango, ter mais remuneração, mais frango, mais caminhão, mais emprego. A Lar veio para ser mais.

 

Irineo da Costa Rodrigues: “Não mudamos os planos para Marechal Rondon. Temos previsto o aumento de 400 funcionários para os meses de maio, junho e julho, porque queremos, a partir de agosto, abater aos sábados. Para o primeiro semestre de 2022, teremos mais 600 funcionários, porque queremos abater aos domingos também” (Foto: O Presente)

 

“Nós precisamos de chuva. Se não tivermos safra de milho vai ser dramático”

 

“O produtor está ganhando dinheiro. O consumidor, por outro lado, está perdendo o emprego. Como é que vai pagar mais pelo alimento?”

 

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