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“Os erros no futebol é que imortalizam este esporte”

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Evandro Rogério Roman: Não visualizo mudanças na regra do futebol porque a Fifa diz que é um jogo de humanos, jogado por humanos, conduzido por humanos e também arbitrado por humanos. Foto: Maria Cristina Kunzler

Um dos mais conceituados aacute;rbitros do Paran aacute; e do Brasil esteve ontem (14) em Marechal C acirc;ndido Rondon. Evandro Rog eacute;rio Roman integra o quadro da Fifa h aacute; tr ecirc;s anos. Com isso, ele tem a oportunidade de poder arbitrar jogos de campeonatos estaduais, Brasileiro, Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana, Eliminat oacute;rias da Copa, Copa da Uefa e, principalmente, Copa do Mundo, al eacute;m de outros. O professor doutor em Educa ccedil; atilde;o F iacute;sica tem trabalhado muito, portanto, para conseguir uma vaga para arbitrar na competi ccedil; atilde;o mais importante do futebol em 2018.
Em entrevista agrave; reportagem do Jornal O Presente, Roman falou sobre os erros do futebol, implanta ccedil; atilde;o de novas tecnologias no esporte, profissionaliza ccedil; atilde;o, dentre outros assuntos, e ressaltou: ldquo;O futebol eacute; o que eacute; porque trabalha com as limita ccedil; otilde;es humanas rdquo;. Confira.

Arbitragem: ponto pol ecirc;mico do futebol
No dia 11 de junho pr oacute;ximo ter aacute; in iacute;cio mais uma Copa do Mundo. E a arbitragem eacute; sempre um ponto pol ecirc;mico e muito discutido. Neste sentido, o aacute;rbitro paranaense Evandro Rog eacute;rio Roman avalia que o futebol passou por uma evolu ccedil; atilde;o muito grande nos uacute;ltimos anos, principalmente no aspecto fisiol oacute;gico, o que acarreta um jogo mais veloz, no qual o trio de arbitragem precisa acompanhar. ldquo;Um aacute;rbitro at eacute; a d eacute;cada de 70 corria em torno de quatro a seis quil ocirc;metros por partida, na d eacute;cada de 90 j aacute; estava correndo 8,5 km a 9 km e agora nesta d eacute;cada um aacute;rbitro corre uma m eacute;dia de 12 a 16 km por jogo. Ou seja, o porte f iacute;sico do aacute;rbitro precisou mudar, mas isso n atilde;o foi suficiente por uma quest atilde;o que em paralelo desta evolu ccedil; atilde;o veio a televis atilde;o. Ainda no final da d eacute;cada de 70, os jogos eram transmitidos com quatro a seis c acirc;meras de televis atilde;o. No uacute;ltimo jogo entre Corinthians e Flamengo, arbitrado por mim, no Est aacute;dio Brinco de Ouro, em Campinas (SP), no ano passado, a partida foi transmitida a partir de 36 c acirc;meras para 186 pa iacute;ses. Ent atilde;o os olhos se tornaram muito mais presentes. Na era da TV digital, o telespectador consegue ver a bola batendo na trave e pingo por pingo de aacute;gua saindo, v ecirc; a gota de suor escorrendo no rosto no jogador, coisa que n atilde;o tinha antigamente. Toda essa estrutura tecnol oacute;gica ficou mais vis iacute;vel e o trabalho desenvolvido pela arbitragem, pelo jogador e tamb eacute;m os nossos erros se tornaram bem mais presentes rdquo;, aponta.

Faltas impercept iacute;veis
Questionado se os jogadores se especializaram em cometer faltas impercept iacute;veis aos olhos do juiz, Roman explica que a partir do momento em que o jogador tem um vigor f iacute;sico mais forte, mais aacute;gil, e a explos atilde;o f iacute;sica associada agrave; habilidade de jogar futebol, isso acarreta em dificuldade maior para o aacute;rbitro. ldquo;Algumas pessoas me questionam como n atilde;o vi um lance, porque na televis atilde;o mostrou nitidamente. Da iacute; eu digo que pela din acirc;mica do jogo n atilde;o eacute; poss iacute;vel ver tudo. O torcedor tem a vis atilde;o de casa e pensa que aquela imagem n iacute;tida mostrada pela televis atilde;o eacute; a mesma que o aacute;rbitro tem durante a partida. As dezenas de c acirc;meras pegam uma imagem bem abrangente numa situa ccedil; atilde;o de acompanhamento e que gera v aacute;rios acirc;ngulos. No jogo, n oacute;s temos muitas vezes um acirc;ngulo apenas e pode ocorrer de ter jogadores na nossa frente e a iacute; precisamos nos deslocar para tentar buscar um melhor posicionamento rdquo;, diz.
Apesar disso, o profissional n atilde;o acredita que haver aacute; mudan ccedil;as nas regras do futebol para tentar impedir que erros aconte ccedil;am. ldquo;Em recente entrevista do brasileiro Jo atilde;o Havelange, ex-presidente da Fifa, ele disse que o futebol eacute; um produto. A Fifa tem uma vis atilde;o de que o futebol s oacute; eacute; o que eacute; devido agrave; pol ecirc;mica e agrave;s discuss otilde;es. As conversas que se t ecirc;m em rela ccedil; atilde;o ao futebol eacute; que imortalizam este esporte. Na Copa de 86 muitos n atilde;o lembram quem foi o campe atilde;o, mas se recordam que o (Diego) Maradona fez um gol com a m atilde;o, pessoas que nem eram nascidas sabem deste fato. Se lembrarmos do futebol no Brasil, os lances mais pol ecirc;micos s atilde;o lembrados pelos erros, pelas situa ccedil; otilde;es que as c acirc;meras pegaram, mas que os olhos dos aacute;rbitros n atilde;o. N atilde;o visualizo mudan ccedil;as na regra porque a Fifa diz que eacute; um jogo de humanos, jogado por humanos, conduzido por humanos e tamb eacute;m arbitrado por humanos. O futebol eacute; o que eacute; porque trabalha com as perfei ccedil; otilde;es e limita ccedil; otilde;es humanas rdquo;, destaca.

Tecnologias no futebol
Sobre implantar tecnologias para evitar erros de arbitragem, como chip em bolas, Roman se diz favor aacute;vel a todas as inova ccedil; otilde;es. ldquo;Eu queria que pud eacute;ssemos parar o jogo para ver o lance pol ecirc;mico por meio de c acirc;meras, porque n atilde;o queiram saber o que eacute; errar e o dia seguinte voc ecirc; olhar o celular e ter dezenas de liga ccedil; otilde;es. No ano passado arbitrei um jogo que no dia seguinte meu celular registrou mais de 100 liga ccedil; otilde;es. Eu sou muito favor aacute;vel agrave;s tecnologias, mas n atilde;o vejo isso com muito entusiasmo, por entender que a forma tradicional como a Fifa trabalha n atilde;o vai implantar isso. A Fifa dever aacute; com o tempo, no m aacute;ximo, implantar o chip na bola. Por eacute;m, a entidade j aacute; levantou um estudo que apontou que de aproximadamente cinco mil partidas realizadas no mundo h aacute; somente um lance em que a bola bate no travess atilde;o e bate no ch atilde;o e fica a d uacute;vida se entrou ou n atilde;o. At eacute; isso a Fifa se baseia para resistir agrave;s tecnologias rdquo;, revela.

Futebol imortalizado
De acordo com Roman, o erro imortaliza e faz o futebol trabalhar de uma forma mais harmoniosa, principalmente com os investimentos. ldquo;Se pegarmos o Campeonato Paulista de 1997, 1998 e 1999, foram utilizados dois aacute;rbitros e foi muito aprovado pela Fifa. No entanto, chegaram agrave; conclus atilde;o que ao final do terceiro ano o futebol havia perdido 58% dos espa ccedil;os de m iacute;dia nos programas esportivos de domingo agrave; noite, porque houve uma diminui ccedil; atilde;o da pol ecirc;mica. Consequentemente, com menos debates os patrocinadores apareceriam menos nos programas esportivos e iria, neste estudo, diminuir o investimento no futebol. Eu acredito muito que mudan ccedil;as n atilde;o v atilde;o ocorrer t atilde;o r aacute;pido, principalmente pela quest atilde;o mercadol oacute;gica rdquo;, opina.

Copa do Mundo
Considerado um dos principais aacute;rbitros no cen aacute;rio nacional, o professor em Educa ccedil; atilde;o F iacute;sica mant eacute;m esperan ccedil;a de conseguir uma vaga na Copa do Mundo de 2018. ldquo;Para o Mundial da Aacute;frica do Sul este ano j aacute; est aacute; totalmente definido quem ser atilde;o os representantes do Brasil: Carlos Eug ecirc;nio Simon, o rondonense Roberto Braatz e Altemir Hausmann. Para 2014 existem outras pessoas na minha frente com curr iacute;culos melhores, que atuam h aacute; mais tempo na Fifa, enquanto eu estou no terceiro ano. Mas tenho um lastro de idade para 2018, que eacute; o meu uacute;ltimo ano, se nada mudar at eacute; l aacute;. Eu digo que meu prazo de validade eacute; meia-noite de 31 de dezembro de 2018, quando eu completo 45 anos. Para o aacute;rbitro, ser um mundialista eacute; dizer que atingiu o m aacute;ximo da carreira e arbitrar a final eacute; atingir o topo, o m aacute;ximo do m aacute;ximo. Muitos acham que v aacute;rios aacute;rbitros t ecirc;m condi ccedil; atilde;o de integrar o quadro da Fifa. No Brasil s atilde;o somente dez, assim como na Alemanha e It aacute;lia. Nenhum pa iacute;s tem mais do que dez. S atilde;o hoje mais de 21 mil aacute;rbitros no Brasil profissionais, sendo somente dez os internacionais rdquo;, menciona.

Profissionaliza ccedil; atilde;o
Ao ser perguntado se eacute; favor aacute;vel agrave; profissionaliza ccedil; atilde;o, Roman responde que j aacute; foi mais, e explica o motivo: ldquo;A carreira de um aacute;rbitro se encerra no ano em que ele completa 45 anos. A expectativa de vida do brasileiro, por exemplo, est aacute; aumentando cada vez mais. Com 45 anos, o aacute;rbitro pode estar na metade de sua vida. E depois, e o restante da vida viver aacute; do qu ecirc;? At eacute; que ponto a profissisonaliza ccedil; atilde;o eacute; boa para o futuro do aacute;rbitro? Talvez para o imediatismo do futebol at eacute; que poderia ser bom, mas fora isso eu n atilde;o sou muito favor aacute;vel, apesar de que eacute; inevit aacute;vel. Pa iacute;ses como Jap atilde;o, It aacute;lia e Espanha j aacute; est atilde;o profissionalizando gradativamente aacute;rbitros, que vivem exclusivamente disso. S oacute; que l aacute; tem uma pol iacute;tica para isso, e aqui ainda n atilde;o temos rdquo;, conclui.

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