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Geral Inflação

Preços da carne seguem em alta: bom para o produtor, ruim para o consumidor

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Com valores em alta, não é difícil encontrar consumidores insatisfeitos pelos corredores dos supermercados; muitos estão substituindo carne por ovo. Por outro lado, produtores de gado, suíno, frango e peixe estão satisfeitos com o “boom” dos preços (Foto: Sandro Mesquita/OP)

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, fechou 2019 em 4,31%. Em dezembro o IPCA aumentou para 1,15%, maior taxa para o mês desde 2002, quando o índice ficou em 2,10%. Em novembro foi registrado 0,51%.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), essa foi a maior inflação anual desde 2016, quando o índice ficou em 6,29%. Em 2018 o índice foi de 3,75%.

Alimentos e bebidas pressionaram a inflação em 2019 com alta de 6,37% no ano, com impacto de 1,57 ponto percentual no acumulado. Pesaram também os custos com “transportes” (3,57%) e “Saúde e cuidados pessoais” (5,41%), com impactos de 0,66 p.p. e 0,65 p.p., respectivamente.

A previsão das instituições financeiras era de uma inflação de 4,13% em 2019, no entanto, o resultado ficou acima do esperado pelo mercado.

Mesmo com a inflação acima do centro da meta, ela se manteve dentro do limite pelo quarto ano seguido, que era entre 2,75% e 5,75%, meta oficial estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

 

CHURRASCO FICOU “SALGADO”

A carne representou o maior impacto individual na inflação em 2019, com alta de 32,4% no ano.

A elevação nos preços foi causada principalmente pelo aumento nas exportações, a partir de junho, para a China, que teve sua produção de suínos praticamente dizimada pela peste africana, o que forçou o país asiático a procurar por todos os tipos de proteína animal em outros países.

Segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), em setembro e outubro as exportações para a China cresceram 110% em comparação ao mesmo período de 2018.

Outro fator que causou aumento no embarque de carne é a guerra comercial travada entre os Estados Unidos e a China, principal consumidora de proteína animal do planeta.

A crescente demanda por carne no mercado externo, aliada a preços mais atrativos para o produtor, causaram a diminuição na oferta pela proteína no mercado brasileiro e consequentemente a elevação nos preços para os consumidores.

Mesmo com a leve queda no preço da carne registrada nos primeiros dias deste ano, é comum encontrar pessoas insatisfeitas pelos corredores dos supermercados.

A advogada Larissa Paiva costuma comprar carne para ela e mais cinco pessoas da família e diz que sentiu no bolso o aumento. Segundo ela, a carne de frango que custava R$ 5,99 o quilo agora está R$ 8,49. “Tem que improvisar, fazer um omelete de vez em quando, caso contrário, não tem bolso que aguente”, lamenta.

De acordo com Luciano Sebastiany, proprietário de um pequeno supermercado em Marechal Cândido Rondon, o aumento das carnes chegou a 30% nos dois últimos meses do ano passado. “Esse reajuste, infelizmente, precisou ser repassado aos consumidores”, menciona.

Conforme o empresário, houve também aumento de cerca de 30% na venda de ovos. “Mesmo com o preço em média 10% mais caro, tem muita gente substituindo a carne por ovo”, expõe.

Luciano Sebastiany, proprietário de um pequeno supermercado em Marechal Rondon: “Houve aumento de cerca de 30% na venda de ovos. Mesmo com o preço em média 10% mais caro, tem muita gente substituindo a carne por ovo” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

Consumidora Larissa Paiva: “A carne de frango que custava R$ 5,99 o quilo agora está R$ 8,49. Tem que improvisar, fazer um omelete de vez em quando, caso contrário, não tem bolso que aguente” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

 

RUIM PARA UNS, BOM PARA OUTROS

Se por um lado o preço mais alto causa certa “indigestão” nos consumidores, para os produtores o momento é de comemorar. Desde a crise econômica de 2015, os preços das carnes, principalmente a bovina, se mantiveram estagnados e, segundo especialistas, era necessário um equilíbrio.

Os produtores rurais que criam gado, suíno, frango e peixe estão satisfeitos com a alta nos preços.

Seguindo a tendência da carne bovina e frango, a carne de porco apresentou um crescimento nos valores pagos aos produtores.

Mesmo o Brasil não sendo um grande exportador de carne suína, as exportações aumentaram 11,6% no ano passado, em comparação ao mesmo período de 2018.

O produtor rural José Valdir Kieling, da Linha São Francisco, em Pato Bragado, possui três granjas com cerca de 1,9 mil suínos. Ele trabalha em sistema de parceria de engorda e conta que no início de 2019 recebia em média R$ 23 por animal. “Hoje o valor chega a R$ 30”, comemora.

O bragadense espera que os preços se mantenham como estão. “Se aumentar demais ao longo do ano, a tendência é que mais pessoas comecem a criar e isso pode fazer o preço baixar”, pontua.

Kieling revela que se o mercado continuar em alta até o primeiro semestre do ano ele pretende construir outra granja para aumentar a criação.

Produtor rural José Valdir Kieling, da Linha São Francisco, em Pato Bragado: “Se o mercado continuar em alta até o primeiro semestre do ano pretendo construir outra granja para aumentar a criação” (Foto: Sandro Mesquita/OP)

(Fonte: Scot Consultoria)

 

PREÇOS DA CARNE BOVINA EM 2020

O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o principal exportador mundial. Logo atrás vem a Austrália, que sofre com a série de queimadas em grande parte de seu território, o que deve influenciar a produção bovina.

Segundo o economista Jandir Ferrera de Lima, o preço do boi deve permanecer relativamente estável até março deste ano, período de entressafra.

Ele lembra que durante o inverno o rebanho do Sul do país tende a perder peso, o que também deve afetar o preço.

O economista ressalta que os maiores compradores de carne são as grandes redes de supermercados que praticam uma margem de lucro expressiva. “Outra questão relevante é esperar para ver se os consumidores devem migrar em 2020 para outro tipo de carne, como a suína, frango ou peixe”, comenta.

O preço da carne de boi não deve baixar até o fim do ano, estima o profissional, por conta da demanda chinesa e também por causa do perfil da produção brasileira que mudou muito nos últimos anos. “O Brasil ganhou em produtividade, porém o volume de pecuaristas diminuiu no país”, aponta.

Economista Jandir Ferrera de Lima: “Preço do boi deve permanecer relativamente estável até março deste ano, período de entressafra” (Foto: Divulgação)

 

OUTROS FATORES

O reajuste de 7,35% estabelecido em julho do ano passado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para os planos de saúde foi o segundo item que mais pesou na inflação em 2019. No acumulado do ano a alta foi de 8,24% com reflexo de 0,34 pontos percentuais no índice.

 

COMBUSTÍVEIS SUBIRAM ACIMA DA INFLAÇÃO

Em 2019 os preços do óleo diesel e do etanol subiram acima da inflação oficial.

Em média o etanol subiu no acumulado do ano 9,85%, o óleo diesel 5,85% e a gasolina 5% em 2019.

O aumento da cotação do barril de petróleo no mercado internacional influenciou bastante no preço dos combustíveis em 2019.

O que também ajudou a pressionar a inflação foi o acumulado do ano de 5% da energia elétrica, apesar de ter recuado em quatro meses durante o ano passado.

 

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