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Professores fazem releitura da figura de Tiradentes

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Professora de História do Brasil, Carla Nacke Conradi: Ele foi um sujeito importante para a história, mas não foi o único que morreu pela causa (Foto: O Presente)

O Brasil para hoje (21) em raz atilde;o do feriado de Tiradentes, institu iacute;do no ano de 1890 para lembrar a data da sua morte, em 1792. Joaquim Jos eacute; da Silva Xavier (Tiradentes) eacute; reconhecido como um m aacute;rtir da Inconfid ecirc;ncia Mineira, movimento de contesta ccedil; atilde;o agrave;s pol iacute;ticas da metr oacute;pole portuguesa, na eacute;poca do Brasil Colonial, antecedendo a instaura ccedil; atilde;o da Rep uacute;blica.
De acordo com a professora de Hist oacute;ria do Brasil da Universidade Estadual do Oeste do Paran aacute; (Unioeste), campus de Marechal C acirc;ndido Rondon, Carla Nacke Conradi, apesar de ainda ser visto como um her oacute;i, em acirc;mbito educacional os estudos relacionados a Tiradentes j aacute; n atilde;o se at ecirc;m mais a esta figura divinizada, partindo para uma releitura do mito. ldquo;Hoje, os professores em sala de aula t ecirc;m questionado a imagem dele enquanto um mito, trabalhando com a constru ccedil; atilde;o da figura dele enquanto her oacute;i nacional. Os professores est atilde;o problematizando a hist oacute;ria em sala de aula rdquo;, garante.
Conforme a docente, Tiradentes foi associado agrave; figura de Jesus Cristo para ser tido como m aacute;rtir e her oacute;i no in iacute;cio do Brasil Rep uacute;blica, em 1889. ldquo;Foram usados alguns m aacute;rtires para contestar o per iacute;odo imperialista e com o objetivo de construir uma nacionalidade para a Rep uacute;blica rdquo;, explica, acrescentando que a instaura ccedil; atilde;o da Rep uacute;blica ocorreu com um golpe, por isso era necess aacute;rio criticar a monarquia e identificar her oacute;is.
Em 1867 foi erguido um monumento em homenagem a Tiradentes em Vila Rica. Em 1893, Pedro Am eacute;rico pinta a tela de Tiradentes esquartejado. ldquo;Nesta imagem a figura dele eacute; vinculada a Jesus Cristo rdquo;, comenta. Para criar esta identifica ccedil; atilde;o religiosa, em outra oportunidade ele at eacute; mesmo foi colocado como se tivesse beijado os p eacute;s daqueles que lhe prenderam. ldquo;Isso eacute; uma constru ccedil; atilde;o, porque na verdade n atilde;o aconteceu rdquo;, ressalta.

Livros did aacute;ticos
A produ ccedil; atilde;o e organiza ccedil; atilde;o de livros did aacute;ticos, segundo a professora universit aacute;ria, t ecirc;m uma conota ccedil; atilde;o de mercadoria, raz atilde;o pela qual nem sempre a problematiza ccedil; atilde;o que eacute; feita no livro corresponde agrave;s discuss otilde;es historiogr aacute;ficas que est atilde;o sendo feitas nos programas de p oacute;s-gradua ccedil; atilde;o em Hist oacute;ria. Por outro lado, muitos livros did aacute;ticos j aacute; veiculam a imagem de Tiradentes sem barba, o que mostra uma nova leitura dos l iacute;deres hist oacute;ricos, assim como prop otilde;em os Par acirc;metros Curriculares. ldquo;Agora ele j aacute; aparece como um sujeito pol iacute;tico, com inten ccedil; otilde;es, e n atilde;o somente como a historiografia nacionalista criou rdquo;, diz.
Carla menciona que existem livros did aacute;ticos que fazem a contraposi ccedil; atilde;o de imagens do per iacute;odo, o que tem provocado novas problematiza ccedil; otilde;es em sala de aula.

Academia
A professora da Unioeste n atilde;o nega a import acirc;ncia de Tiradentes para a hist oacute;ria do pa iacute;s, no entanto ressalta que tamb eacute;m houve outros elementos. ldquo;Quando se coloca um sujeito como her oacute;i parece que agiu sozinho, quando na verdade foi um sujeito de seu tempo, vivendo determinadas situa ccedil; otilde;es e estabelecendo questionamentos em rela ccedil; atilde;o a elas rdquo;, enfatiza.
Atualmente, exp otilde;e, a academia n atilde;o trabalha mais com a concep ccedil; atilde;o de que a hist oacute;ria eacute; feita pelos her oacute;is (Dom Pedro I, Dom Pedro II, Tiradentes, Duque de Caxias), mas eacute; vinculada tamb eacute;m a outros sujeitos hist oacute;ricos como as mulheres, os negros, as sociedades ind iacute;genas, entre outros. ldquo;A hist oacute;ria na academia deixou de ter um vi eacute;s positivista, a partir do qual somente os grandes sujeitos pol iacute;ticos e seus atos faziam hist oacute;ria e serviam de fontes rdquo;, afirma.
Conforme Carla, apesar de Tiradentes ter sido morto, outros tamb eacute;m morreram em raz atilde;o da Inconfid ecirc;ncia, por eacute;m n atilde;o s atilde;o citados. ldquo;Ele n atilde;o foi o uacute;nico morto e tamb eacute;m n atilde;o foi escolhido em raz atilde;o de ser pobre, j aacute; que ele era um homem de posses. Ele foi morto para mostrar que a monarquia n atilde;o deveria ser questionada e foi um dos escolhidos por ser bastante conhecido (al eacute;m de tirar dentes ele era muito falastr atilde;o), para que o ato tivesse visibilidade rdquo;, conta.
Segundo ela, Tiradentes foi preso, morto e esquartejado por crime de lesa-majestade, al eacute;m de ter sido espalhado sal grosso em toda aacute;rea anteriormente ocupada pela sua casa, com o objetivo de que nada mais nascesse naquele local. ldquo;Em lsquo;Dicion aacute;rio do Brasil Colonial rsquo;, de Ronaldo Vainfas, historiador da Universidade Federal Fluminense, chama a aten ccedil; atilde;o para entender os sujeitos hist oacute;ricos a partir de suas viv ecirc;ncias, do contexto, mostrando como a hist oacute;ria construiu esses sujeitos que hoje n oacute;s questionamos rdquo;, declara.

Intencionalidade
Como Tiradentes lutou contra a opress atilde;o portuguesa em rela ccedil; atilde;o a sua pol iacute;tica de ocupa ccedil; atilde;o e administra ccedil; atilde;o do Brasil, foi lembrado no momento de ser criado o sentimento de nacionalidade brasileira. ldquo;Por isso foram erguidos monumentos, criadas datas comemorativas, para ser criada uma mem oacute;ria nacional. Essa vis atilde;o de Tiradentes foi institu iacute;da pelo Estado com uma intencionalidade, pois constantemente esses marcos s atilde;o resgatados e estudados rdquo;, salienta.
Carla afirma que as novas abordagens e discuss otilde;es prop otilde;em estudar como Tiradentes era visto nos diferentes per iacute;odos da hist oacute;ria, antes, durante e depois da Ditadura Militar, abarcando suas concep ccedil; otilde;es humanas, intelectuais, pol iacute;ticas e ideol oacute;gicas. ldquo;Afinal, ele agiu diante das suas inquieta ccedil; otilde;es e n atilde;o com o objetivo de salvar a na ccedil; atilde;o, como foi exposto rdquo;, conclui.

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