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Aids atinge 70 rondonenses em dez anos

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Setenta rondonenses foram infectados pela Aids entre os anos de 2007 e 2017, de acordo com dados do Setor de Epidemiologia da Unidade de Saúde 24 Horas. Deste total, 68 casos estão separados por sexo, dos quais 43 homens e 25 mulheres, ou seja, o sexo masculino representa 63% dos casos mencionados, enquanto o feminino soma 37%. Em relação à orientação sexual, nove pessoas se declararam homossexuais e 57 heterossexuais.

No que tange à faixa etária, o maior número de pessoas infectadas tem de 35 a 49 anos, com 30 casos, ou 45%, em seguida aparecem jovens de 20 a 34 anos, com 25 casos, ou 37%, e de 50 a 64 anos são 13 pessoas, resultando em 18%.

Oficialmente, os números de rondonenses com Aids são esses, contudo, podem ser superiores, uma vez que estes 70 casos referem-se aos cidadãos nos quais o vírus do HIV já se manifestou no organismo e procuraram tratamento por meio do Setor de Epidemiologia de Marechal Cândido Rondon. Outros podem ter procurado atendimento direto no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) em Toledo e também há aqueles que eventualmente estão infectados e não sabem.

Segundo informações da 20ª Regional de Saúde com sede em Toledo, 11 rondonenses faleceram vítimas de Aids no período compreendido entre 2012 e 30 de novembro deste ano.

 

DIAGNÓSTICO

De acordo com a enfermeira da Unidade de Saúde 24 Horas, Franciele A’Costa Perez, apesar do número total de casos, 46 pacientes retiram a medicação no Setor de Epidemiologia e realizam tratamento, um ainda não precisa ser medicado, enquanto outros quatro foram diagnosticados recentemente e seguem com exames. “Torna-se imprescindível conhecer o nível da carga viral para definir a medicação que o paciente tomará. Se o paciente não quiser ser acompanhado por nós, ele pode ir direto no CTA em Toledo. O Ministério da Saúde fornece todo o tratamento sem custos ao paciente”, enaltece, acrescentando: “No primeiro momento do diagnóstico encaminhamos para a realização de exames, às vezes no mesmo dia ou na mesma semana, dependendo das vagas em Toledo. Daí a pessoa faz a consulta com o infectologista, que vai orientar se precisa repetir os exames em três ou seis meses e qual a periodicidade do acompanhamento para um novo exame”.

Franciele diz haver casos em que o vírus do HIV fica encubado por meses ou anos até se manifestar no organismo e se tornar Aids. “O portador nem sempre procura a unidade de saúde por desconhecer que seu parceiro teve o HIV, além de que muitas vezes o parceiro não sabe. Se torna comum exames para outras doenças e daí descobrir o vírus. Hoje os enfermeiros de todos os postos de saúde nos bairros estão preparados para atender os pacientes com o vírus”, comenta, enfatizando que o pré-natal exige ao menos três testes rápidos na gestante e uma vez no companheiro.

A enfermeira faz um alerta para este período de virada de ano, assim como o Carnaval, quando muitas pessoas caem na folia ou bebem em demasia, deixando de lado cuidados necessários. “Nesta época do ano a gente se preocupa bastante, tanto que no mês de dezembro foi desenvolvida a campanha do HIV, com a intensificação dos exames em inúmeros locais. Foram descobertos vários casos, sendo que o nosso objetivo é garantir a qualidade de vida aos pacientes”, destaca, informando que parcela considerável dos portadores não tem relacionamento sério, mas também há casais infectados ou que uma pessoa tem e a outra não.

 

TRANSMISSÃO

A médica infectologista e professora do curso de Medicina na Unioeste em Cascavel, Juliana Gerhardt, menciona que 97% dos casos no Brasil são transmitidos via relação sexual. Outras formas são de mãe para fi lho durante a gestação, parto e amamentação, caso a mãe tenha o vírus e não realize tratamento; compartilhamento de seringas em casos de uso de drogas injetáveis; transfusão de sangue (casos mais raros atualmente devido aos testes realizados em doadores nos bancos de sangue); e acidentes com material biológico em situações de cuidados com a saúde (perfuração com agulhas contaminadas, por exemplo).

Segundo ela, o HIV não é transmitido pela utilização do mesmo banheiro, toalhas, talheres; beijo, abraço, aperto de mão; ar, urina, fezes, vômito, lágrima ou suor. “A prevenção tem relação com a transmissão: necessidade de uso do preservativo em todos os tipos de relação sexual, realização de pré-natal de qualidade, não compartilhar seringas/agulhas e cuidados na manipulação de objetos que possam estar contaminados com sangue ou secreções durante o trabalho”, aponta.

 

TRATAMENTO

Juliana alerta que entre o momento que uma pessoa contrai o vírus, até que ocorram as manifestações clínicas pode se passar um período de até dez anos. “É aí que mora o perigo. Neste período, a pessoa não sente nada, porém a doença evolui silenciosamente, então ela não sabe que transmite a outros”, expõe.

As manifestações clínicas, conforme a profissional, variam muito, mas em geral estão relacionadas à queda progressiva da imunidade: perda de peso, lesões de pele, lesões na boca e nos dentes, diarreia crônica, aumento dos gânglios, pneumonias, tuberculose, anemia, infecções do sistema nervoso e vários tipos de câncer. “Enfim, uma série de complicações podem surgir ao longo do tempo”, aponta, emendando que, por isso, é necessário que a pessoa que vive com HIV/AIDS procure tratamento adequado.

A infectologista ressalta que as campanhas tentam reforçar a necessidade de que todas as pessoas, independente da idade, faixa etária ou opção sexual, façam regularmente o teste de HIV, para que nos casos positivos o diagnóstico ocorra precocemente, antes de aparecerem os sintomas, e assim o tratamento ser iniciado rapidamente. “É possível ter qualidade de vida, só depende da pessoa. Para isso, é importante ter o diagnóstico precoce, iniciar com a medicação específica e adotar um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada, não fumar, ingerir bebidas alcoólicas com moderação, não usar drogas e praticar atividade física”, orienta.

 

Leia a matéria completa na edição impressa deste sábado (30) em O Presente.

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