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Marechal Reajustes de 5% a 400%

Alta demanda inflaciona construção civil; empresários rondonenses analisam momento vivido pelo setor

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(Foto: Joni Lang/OP)

Se inicialmente a pandemia do coronavírus provocou queda nas vendas e nos negócios em vários setores da economia devido à incerteza no emprego e renda, meses depois, as pessoas estão se sentindo mais seguras e, com isso, voltaram às compras.

Em Marechal Cândido Rondon empresas ligadas ao setor da construção civil, entre elas lojas de materiais de construção, metalúrgica e outras, comemoram o bom momento vivido: vendas em alta e bom faturamento. No entanto, os fornecedores de matérias-primas encontram dificuldades para fabricar os produtos, cuja alta demanda faz com que haja falta ou atraso de muitos itens nas empresas rondonenses, de modo que reajustes variam na faixa de 5%, 10%, 40% até 60% ou 400%, a depender do segmento.

Se de um lado as empresas rondonenses se reorganizam em torno do recebimento dos pedidos para poder atender seus clientes e os empresários comemoram as boas vendas deste ano, de outro mantêm certo receio quanto ao que pode acontecer no próximo ano. Eles reconhecem que a inflação já é observada devido à alta demanda e ao aumento dos produtos por parte dos fornecedores.

 

SETOR PRIVILEGIADO

Para Eduardo Vorpagel, sócio de uma empresa de material de construção, as ações da equipe econômica do governo federal privilegiaram o mercado imobiliário. “O benefício assistencial e as políticas de juro aqueceram o mercado como um todo, não só na construção civil. É perceptível o aumento da demanda em variados setores. Mesmo nesse período de instabilidade de entrega dos materiais, a construção e o setor imobiliário ainda possuem tendência de expansão. Em nível nacional as vendas no varejo no mês de junho deste ano foram maiores do que em 2019”, expõe.

Segundo ele, a recomendação de isolamento social fez com que as pessoas passassem maior tempo em suas casas e com isso procurassem deixar seus lares mais confortáveis. “Outros custos foram diminuídos, principalmente os de lazer, revertendo o consumo para o setor da construção civil. A alta nos valores das commodities também impacta positivamente o varejo da região, fazendo o dinheiro circular mais. As vendas on-line igualmente tiveram bom crescimento, abrangendo um público bem maior, sendo favorecidas pelo isolamento social e a necessidade de consumo”, analisa Vorpagel.

 

ESCASSEZ

O empresário diz que inúmeros produtos que dependem de matéria-prima do exterior tiveram aumento de preço, pois são cotados em dólar. Além disso, grandes empresas do setor afastaram funcionários do grupo de risco ou mesmo de alguns setores para evitar a transmissão da Covid, o que gerou escassez de produtos. “Derivados de PVC, que dependem de insumos de exportação, foram muito impactados, além da pandemia, problemas externos afetaram operações, como o ataque cibernético à Braskem, que resultou na suspensão do faturamento e expedição da maior produtora de polipropileno da América. São inúmeros os produtos que estão com vendas limitadas ou até canceladas por falta de matéria-prima, mão de obra e até embalagens. Essa falta leva a uma maior procura, elevando, assim, os preços. Temos pedidos de produtos cujo prazo de entrega é apenas para março de 2021”, aponta.

No entanto, ele acredita que para o início do próximo ano as entregas de mercadorias devem normalizar e assim os preços estabilizarem. “As indústrias também vivem essa expectativa, pois estão recebendo sinal verde de seus fornecedores para adquirir matéria-prima e retomar a produção”, frisa. “Tem produto com 100% de aumento comparado a fevereiro, como o forro de PVC. As entregas de no máximo dez dias hoje levam até 50 dias nesse produto”, emenda.

 

DEMANDA ALTA

De acordo com Leandro Krause, responsável por uma empresa da área de mineração, tem sido observado aumento na demanda por pedra e areia nos últimos meses, especialmente na pedra. “O preço da pedra-brita estava há muito tempo sem alteração e somado a isso houve aumento de preços em vários itens necessários para a produção, o que fez o valor final ser reajustado em torno de 8%”, menciona. “Mesmo com este reajuste, o preço da pedra-brita na região é baixo comparado com outras regiões do Estado”, salienta.

Krause relata que a procura está aquecida e que pelo fato de a empresa atender revendedores e consumidores finais, os valores praticados variam conforme o local de entrega do produto.

No tocante à areia, ele comenta que o produto vem do porto de areia de Guaíra, de modo que o valor é determinado lá, tendo o custo do transporte como variável. Krause acrescenta que o preço do produto se mostra estável após o aumento praticado no ano passado.

 

PREOCUPAÇÃO

O empresário Osnir Comin, que trabalha com venda de alumínio e vidro, destaca que até então atuava a todo vapor com um bom estoque disponível. “Mas nas últimas semanas notamos que será complicado repor, pois as indústrias que fornecem matéria-prima pedem de 30 a 60 dias para entregar os produtos. Isso nos deixa preocupados porque o cliente normalmente não tem esse prazo para esperar, então ele vai procurar outro fornecedor ou mesmo parar a obra por um prazo determinado”, expõe.

Conforme ele, os preços têm subido de agosto a outubro, algo próximo de 40% nos produtos como alumínio e vidro. “A inflação já é algo real no setor, pois se fosse para entregar uma obra de grande porte e não tivesse comprado a matéria-prima em data anterior, com certeza seria complicado devido aos aumentos e ao recebimento da mercadoria. Para evitar prejuízo e mal-estar ao cliente, é preciso saber se realmente o preço que você está vendendo e o prazo de entrega estão de acordo com seu custo”, pontua.

Comin aponta que com os preços anteriores havia certeza de poder vender e até esperar um pouco para comprar. “Hoje toda cadeia produtiva de matéria-prima passa por dificuldade, o que nos deixa preocupados, principalmente sem referência de custo, pois todo dia pode alterar o valor de compra, o que pode deixar o empresário um pouco perdido na real negociação”, ressalta.

 

MELHOR FASE

O empresário Eliseu Rheinheimer, sócio-proprietário de uma metalúrgica, comenta que é observado um verdadeiro “boom” na comercialização de ferro e aço pelo fato da empresa estar inserida nos grandes projetos das cooperativas das regiões Oeste e Noroeste do Paraná, assim como de indústrias e mesmo de empresas que realizam manutenção nesse segmento. “O boom foi constatado no mês de maio e ficamos atentos ao agronegócio, como soja e milho. Assim, nos prevenimos com caixa para comprar material com pagamento antecipado, o que ocorreu pouco”, conta, enaltecendo o aumento de quase 100% nas vendas da empresa.

Rheinheimer menciona que houve reajuste de preço, uma vez que os fornecedores estavam com valor do ferro defasado, em alguns casos acumulando prejuízos, de modo que hoje se favoreceram. “Se olhar o preço de venda o reajuste foi na média de 60%, por isso a esperança é de que nós e nosso concorrente não coloquemos pedidos na carteira do fornecedor para que os valores se ajustem. Antes pagávamos R$ 4 mil a tonelada, hoje pagamos R$ 8 mil. Se antes eram 500, atualmente chega próximo de mil toneladas ao mês. Vivemos a melhor fase da empresa”, comemora, ampliando: “Nós tentamos manter o cliente saudável e competitivo para a roda da economia girar como deve ser feito. De tudo o que tem, nós aumentamos a logística, porém a equipe de vendas é a mesma na empresa. Nossa meta de faturamento do ano foi ultrapassada em setembro, hoje é maior e deve expandir na segunda quinzena de dezembro”, evidencia o empresário.

 

EFEITO CASCATA

Ricardo Nied, sócio-proprietário de uma empresa de materiais de construção, conta que as indústrias demitiram e diminuíram a produção com medo do que poderia acontecer devido à pandemia. “Como teve aumento de procura, as indústrias contrataram pessoas e religaram os fornos, aumentando custos gerais e de matéria-prima, principalmente o gás dolarizado e em cima dele os preços subiram. Há empresas que não normalizaram os estoques por falta de gente, outras que não se programaram na compra de insumos, equipamentos e em alguns casos aquelas que não compraram energia. Fora tudo isso, o transporte gerou aumento em todos os produtos”, expõe.

Segundo ele, o reajuste nos pisos de cerâmica oscila na faixa de 5% a 10%, mas no cobre disparou a 400%. “O cobre é cotado diariamente. O preço de tudo subiu também pela instabilidade econômica mundial à espera da eleição norte-americana”, ressalta.

Nied diz que a empresa apenas repassou o reajuste ao cliente, mantendo sua margem sobre os produtos. Ele acrescenta que a empresa oferece parcelamento no cartão, porém o agricultor está vindo com dinheiro e pede desconto.

Conforme o empresário, no caso de porcelanato e cerâmica comum (barro vermelho), os preços começam em R$ 15 e vão a R$ 90, sendo que os clientes costumam optar por produtos de primeira linha na faixa de R$ 25 a R$ 35 em se tratando de cerâmica. “O auxílio emergencial foi utilizado e essas e outras pessoas trocaram cerâmica, arrumaram o quarto, pintaram. Esses R$ 600 foram injetados em todo mercado e confesso que não esperávamos toda essa procura. Vamos ver agora com R$ 300”, comenta.

Nied, que é vice-presidente da Associação Regional de Engenheiros e Arquitetos (Area), salienta ter conhecimento de que o Produto Interno Bruto (PIB) para 2021 pode chegar a 2,5% de aumento. “Se em meio a uma recessão existe tanta procura nós não sabemos o que acontece com uma previsão positiva. Aqui na nossa região tudo vai depender da safra de verão”, analisa.

 

ESTOQUE SOB MEDIDA

Elizeu dos Reis (Tadeu), empresário do ramo de materiais de construção, entende que como as pessoas ficaram mais tempo em casa elas investiram em reforma, ampliação e manutenção. “Percebemos uma demanda fora do que estávamos acostumados, principalmente no segundo semestre, com o aquecimento das vendas no segmento. O setor econômico do país influenciou muito, pois a queda dos juros das aplicações fez as pessoas que tinham dinheiro comprarem terreno e imóvel ou construir uma casa. O dólar e os bons preços da soja e do milho têm muito a ver com essa procura. Nem mesmo os nossos fornecedores sabem o que vai acontecer, pois há falta de material devido à demanda”, compartilha.

Segundo ele, o cimento de 50 quilos, que no início do ano era vendido a R$ 22, hoje custa R$ 30. Já o cal segue com valor de R$ 10,50 o saco de 20 quilos. “O que fizemos no caso do cimento foi repassar apenas o reajuste ao cliente. As grandes indústrias não estavam preparadas para toda essa procura, até porque no começo da pandemia todo mundo se retraiu, mas de um tempo para cá a demanda cresceu. As indústrias diminuíram a produção e quando se atentaram ao mercado a construção civil e o custo de produção aumentaram”, avalia.

Tadeu relata que as concreteiras ficam dois ou três dias sem produzir porque não há produto para atendê-las. “As indústrias da nossa região estão investindo muito e a avicultura cresceu bastante. Não fiquei sem produto, mas limito minha venda aos clientes. Tenho me organizado com agendamento fixo. Por exemplo, semana passada sabia quantos sacos de cimento virão em novembro e se eu pedir mais não tem disponível. Já existe inflação, mas não sei dizer como a situação vai ficar lá na frente”, finaliza o empresário.

 

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